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Vol. 96. Núm. 5.
Páginas 646-647 (01 Setembro 2021)
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Carta ‐ Caso clínico
Open Access
Exantema intertriginoso e flexural simétrico relacionado ao uso de paracetamol
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Joana Alexandria Ferreira Dias, Luana Moraes Campos, Juliano Vilaverde Schmitt, Sílvio Alencar Marques
Autor para correspondência
silvio.marques@unesp.br

Autor para correspondência.
Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Em 1984, Andersen et al.1 relataram três pacientes que desenvolveram lesões eritematosas na região glútea, face interna das coxas e axilas, sem sintomatologia geral associada e expostos sistemicamente a alérgenos aos quais apresentavam prévia sensibilização de contato. Por analogia das lesões ao aspecto morfológico glúteo dos babuínos (Papio papio), sugeriram a denominação de síndrome de baboon (SB) a esses casos.1 Hausermann et al., em 2004, propuseram a denominação symetrical drug‐related intertriginous and flexural exanthema (SDRIFE) para casos de sensibilização sistêmica a fármacos, sem exposição tópica, clinicamente idênticas à SB, e ressaltaram a ausência de sinais e sintomas sistêmicos associados.2

Relatamos paciente do sexo masculino, 56 anos de idade, com lesões na região inguinal e axilar, pouco pruriginosas e não associadas a outros sintomas sistêmicos. Referia uso exclusivo de paracetamol há dois dias e quadro idêntico ao atual em exposições prévias. Ao exame, observaram‐se lesões eritemato‐vinhosas, bem delimitadas, sem sinais de escoriação, localização bilateral e simétrica nas regiões axilares, inguinocrurais, glútea, face lateral das coxas incluindo região poplítea (figs. 1 e 2). O exame histopatológico de biópsia de lesão axilar evidenciou epiderme com espongiose discreta, infiltrado dérmico, linfo‐histiocitário, perivascular moderado e vasodilatação. Ausência de queratinócitos necróticos e de derrame pigmenta afastaram eritema pigmentar fixo (fig. 3).

Figura 1.

SDRIFE: máculas eritemato‐purpúricas acometendo região suprapúbica, lateral das coxas e região inguinocrural.

(0,12MB).
Figura 2.

SDRIFE: evidência do acometimento axilar.

(0,1MB).
Figura 3.

SDRIFE: Histopatologia evidenciando infiltrado linfo‐histiocitário perivascular na derme superficial e média (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0,17MB).

Portanto, os dados da história clínica, dermatológicos e histológicos, permitiram o diagnóstico de SDRIFE associada ao paracetamol. As lesões desapareceram em poucas semanas após suspensão do fármaco e uso de corticoide tópico.

Em 2011, Miyahara et al.3 propuseram classificação da SB em quatro subtipos: 1) SB clássica, resultante de sensibilização por alérgenos de contato e desencadeada por exposição sistêmica aos mesmos; 2) SB induzida por contato com fármacos, desencadeada por absorção após reexposição cutânea; 3) SB induzida por sensibilização sistêmica e quadro desencadeado por exposição cutânea ao fármaco; e 4) SDRIFE, que corresponde à sensibilização sistêmica e manifestação quando da reexposição sistêmica, excluindo‐se alérgenos de contato.2,3 Clinicamente, o SDRIFE caracteriza‐se por exantema simétrico na área glútea, interglútea e inguinal, além do envolvimento de pelo menos uma área intertriginosa e flexural como axilar, cubital e poplítea e considerada manifestação infrequente e benigna de reação de hipersensibilidade com ausência de sintomas sistêmicos. O início é de horas a dois dias após exposição ao agente causal. As medicações mais relacionadas são os beta lactâmicos, em particular a amoxicilina, sulfamídicos, anti‐inflamatórios, barbitúricos, tetraciclinas e carbamazepina. Na literatura, há somente dois casos relatados de SDRIFE associados ao uso de paracetamol.4,5

A patogênese não é completamente compreendida, mas, como na dermatite alérgica de contato, o quadro sugere reação de hipersensibilidade tardia mediada por células T. A maior densidade de glândulas sudoríparas écrinas nas regiões de dobras explicaria sua manifestação restrita ou predominante às localizações intertriginosas, onde a excreção do fármaco sensibilizante precipitaria a dermatose. O tratamento implica na suspeição e interrupção dos fármacos em uso. Os corticoides de uso tópico ou sistêmico podem acelerar a resolução. Relatos de casos e identificação do fármaco desencadeante são úteis do ponto de vista didático e epidemiológico.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Joana Alexandria Ferreira Dias: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; revisão crítica da literatura.

Luana Moraes Campos: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Juliano Vilaverde Schmitt: Aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito.

Sílvio Alencar Marques: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
K.E. Andersen, N. Hjorth, T. Menné.
The Baboon syndrome: systemically induced allergic contact dermatitis.
Contact Dermatitis., 10 (1984), pp. 97-100
[2]
P. Häusermann, T. Harr, A.J. Bircher.
Baboon syndrome resulting from systemic drugs: is there strife between SDRIFE and allergic contact dermatitis syndrome?.
Contact Dermatitis., 51 (2004), pp. 297-310
[3]
A. Miyahara, H. Kawashima, Y. Okubo, A. Hoshika.
A new proposal for a clinical‐oriented subclassification of baboon syndrome and a review of baboon syndrome.
Asian Pac J Allergy Immunol., 29 (2011), pp. 150-160
[4]
L. Lugović-Mihić, T. Duvančić, M. Vučić, M. Situm, M. Kolić, J. Mihić.
SDRIFE (baboon syndrome) due to paracetamol: case report.
Acta Dermatovenereol Croat., 21 (2013), pp. 113-117
[5]
B. Roopa, K.K. Sangeeth, P.M. Rohini, V. Prasanna.
Case report‐baboon syndrome with paracetamol.
Int J Basic Clin Pharmacol., 7 (2018), pp. 2061-2064

Como citar este artigo: Dias JAF, Campos LM, Schimitt JV, Marques SA. Symmetrical intertriginous and flexural exanthema related to the use of paracetamol. An Bras Dermatol. 2021;96:646–7.

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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