Compartilhar
Informação da revista
Vol. 98. Núm. 5.
Páginas 699-701 (01 Setembro 2023)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
5189
Vol. 98. Núm. 5.
Páginas 699-701 (01 Setembro 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Úlceras de Lipschütz após vacinação AstraZeneca contra COVID‐19
Visitas
5189
Maria Bracho‐Borroa,
Autor para correspondência
mbrachoborro@gmail.com

Autor para correspondência.
, Graciela Guzmán‐Pererab, Mario Magañaa
a Departamento de Dermatologia, General Hospital of Mexico Dr. Eduardo Liceaga, Cidade do México, México
b Departamento de Dermatologia, Hospital Ángeles del Pedregal, Cidade do México, México
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (2)
Texto Completo
Prezado Editor,

Ulceração aftosa vulvar aguda, ou úlcera de Lipschütz, é condição rara, não sexualmente adquirida, que se caracteriza pelo início súbito de úlceras genitais dolorosas. Não tem etiologia clara; portanto, seu diagnóstico é desafiador. O curso usual é a autorresolução sem recidivas e cicatrizes. Há seis casos relatados após a vacinação contra COVID‐19.1,2

Relato do caso

Paciente do sexo feminino, saudável e sexualmente ativa, 27 anos de idade, recebeu sua terceira dose da vacina contra a COVID‐19 – as duas primeiras foram da Pfizer‐BioNTech, e a terceira foi a vacina AstraZeneca (Vaxzevria). Queixou‐se, de início agudo, de dor em queimação e inchaço nos grandes lábios, acompanhados de febre e dor no corpo, após 24 horas da vacinação. O exame físico revelou múltiplas ulcerações milimétricas, rasas, vermelho‐púrpura, dolorosas nos grandes lábios, pequenos lábios e no introito vaginal (fig. 1). Não tinha histórico de úlceras genitais. A mucosa oral e a orofaringe estavam normais. Após 24 horas de seguimento, referiu piora dos sintomas, queixando‐se de dificuldade para sentar. Ao exame físico, apresentava mais ulcerações com revestimento amarelo e acinzentado com eritema e edema ao redor, algumas com centro purulento. Foi realizada biopsia de uma úlcera de uma úlcera para PCR para o vírus herpes simples (HSV) 1/2, vírus da varicela‐zóster (VZV) e citomegalovirus, que foram, assim como a sorologia IgG e IgM para HSV 1/2 e VZV. A sorologia para HIV não foi reativa, e a cultura de swab genital, teste VDRL, teste de antígeno para COVID e anticorpos antinucleares foram todos negativos. A biopsia mostrou solução de continuidade do epitélio, espongiose e denso infiltrado inflamatório de linfócitos e histiócitos, sem vestígios de vasculite ou infecção viral (fig. 2). Após ser diagnosticada com úlceras de Lipschütz, foi tratada com hidrocortisona 1% e medicação para controle da dor. As úlceras resolveram em nove dias. Aos seis meses de seguimento, não apresentou recidiva das lesões.

Figura 1.

Progressão da aftose vulvar. (A) Apresentação clínica inicial, com ulcerações milimétricas, rasas, vermelho‐púrpura. (B) Dia 1 do seguimento. Grandes e pequenos lábios com edema e eritema. Ulcerações com centro purulento

(0,39MB).
Figura 2.

Histopatologia de uma úlcera corada com Hematoxilina & eosina. (A) Ulceração e espongiose da mucosa vulvar. (B) Denso infiltrado inflamatório misto contendo linfócitos, histiócitos e escassos monócitos no tecido subepitelial

(0,6MB).
Discussão

Embora a etiologia exata da úlcera de Lipschütz permaneça incerta, provavelmente envolve uma resposta imunológica a uma infecção ou outra fonte de inflamação. A maioria dos casos é idiopática com investigação infecciosa negativa.1 Há seis relatos de casos de úlceras aftosas vulvares após a vacinação contra a COVID‐19 – quatro após a Pfizer‐BioNTech e um após a vacina AstraZeneca.1,2 Este é o segundo relato na literatura após a vacinação com AstraZeneca. O diagnóstico foi desafiador, pois a paciente era sexualmente ativa. Infecções sexualmente transmissíveis foram testadas e excluídas. Após descartadas as doenças infecciosas, o principal diagnóstico diferencial foi a síndrome de Behçet; entretanto, a biopsia não evidenciou sinais de vasculite.3 As úlceras de Lipschütz foram inicialmente descritas em mulheres virgens e, posteriormente, em pacientes com ausência de contato sexual nos três meses anteriores. No entanto, em um estudo realizado no Brasil, 86 de 98 pacientes foram diagnosticadas com úlceras de Lipschütz ao expandir os critérios para qualquer idade e atividade sexual.4 Outra análise retrospectiva de 33 casos constatou que 84,8% das pacientes haviam tido sua primeira experiência sexual.5

Várias reações cutâneas após vacinação contra a COVID‐19 foram relatadas. Este caso demonstra possível associação entre essa vacina e o desenvolvimento de úlcera aftosa vulvar. Os médicos, especialmente dermatologistas, ginecologistas e pediatras, devem estar cientes do possível risco dessa doença após a vacinação contra a COVID‐19.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Maria Bracho‐Borro: Redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Graciela Guzmán‐Perera: Redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; participação efetiva na orientação da pesquisa, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Mario Magaña: Obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
S. Popatia, Y.E. Chiu.
Vulvar aphthous ulcer after COVID‐19 vaccination.
Pediatr Dermatol., 39 (2022), pp. 153-154
[2]
M. Wijaya, C. Zhao, E. Forward, Y. Nguyen, A. Kherlopian, D. Jollow, et al.
Acute vulvar aphthous ulceration after COVID‐19 vaccination: 3 cases.
J Low Genit Tract Dis., 26 (2022), pp. 186-188
[3]
Y. Yazici, G. Hatemi, B. Bodaghi, J.H. Cheon, N. Suzuki, N. Ambrose, et al.
Behçet syndrome.
Nat Rev Dis Primers., 7 (2021), pp. 67
[4]
A.A.S. Leal, C.A. Piccinato, A.P.A. Beck, M.T.V. Gomes, S. Podgaec.
Acute genital ulcers: keep Lipschütz ulcer in mind.
Arch Gynecol Obstet., 298 (2018), pp. 927-931
[5]
P. Vieira-Baptista, J. Lima-Silva, J. Beires, J. Martinez-de-Oliveira.
Lipschütz ulcers: should we rethink this?.
An analysis of 33 cases. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol., 198 (2016), pp. 149-152

Como citar este artigo: Bracho‐Borro M, Guzmán‐Perera G, Magaña M. Lipschütz ulcers after AstraZeneca COVID‐19 vaccination. An Bras Dermatol. 2023;98:699–701.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, General Hospital of Mexico Dr. Eduardo Liceaga, Cidade do México, México.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.