Compartilhar
Informação da revista
Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 439-446 (01 Julho 2020)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
5888
Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 439-446 (01 Julho 2020)
Investigação
Open Access
Características clínicas e epidemiológicas e fatores associados à canície: um estudo transversal de base populacional na Turquia
Visitas
5888
Ersoy Acera,
Autor para correspondência
ersoyacer@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Didem Arslantaşb, Gülsüm Öztürk Emiralb, Alaattin Ünsalb, Burcu Işıktekin Atalayb, Saniye Göktaşb
a Departamento de Dermatologia, Faculty of Medicine, Eskişehir Osmangazi University, Eskişehir, Turquia
b Departamento de Saúde Pública, Faculty of Medicine, Eskişehir Osmangazi University, Eskişehir, Turquia
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Tabelas (5)
Tabela 1. Características sociodemográficas dos participantes com e sem canície
Tabela 2. Características dos participantes com canície de acordo com o sexo
Tabela 3. Características dos participantes com canície de acordo com a idade de início
Tabela 4. Características dos participantes com canície de acordo com a gravidade
Tabela 5. Probabilidade de canície de acordo com a análise de regressão logística univariável/multivariável
Mostrar maisMostrar menos
Resumo
Fundamentos

A canície é comum em humanos; entretanto, existem poucos dados sobre sua epidemiologia.

Objetivo

Avaliar as características clínicas e epidemiológicas e os fatores associados à canície.

Métodos

Foram incluídos 1.541 voluntários entre 15 e 65 anos neste estudo transversal de base populacional. Um questionário sobre as características e os fatores associados à canície foi preenchido em entrevistas presenciais.

Resultados

Canície foi observada em 1.063 participantes (69,0%). A idade média de surgimento foi de 32,9±9,8 anos; 31,7±9,5 anos no sexo feminino e 33,7±10,0 anos no masculino (p=0,001). A área mais comumente afetada no início da canície e no momento da avaliação foi a região temporal. Quando avaliado por sexo, a região temporal foi a mais afetada entre os participantes do sexo masculino e a região parietal entre as participantes do feminino. A canície foi mais grave no sexo masculino do que no feminino e em casos de início tardio do que naqueles de início precoce (respectivamente, p=0,000, p <0,001). Em casos de canície grave, a área mais comumente acometida no início e no momento da consulta foi a região temporal; já em casos de canície leve, a região mais afetada foi a parietal. Na análise de regressão logística, idade, estado educacional, histórico de queda de cabelos, tipo de pele, histórico familiar de canície precoce e ansiedade foram independentemente associados à canície (p <0,05).

Limitações do estudo

O estudo foi feito apenas em indivíduos turcos. Outra limitação foi o viés de memória.

Conclusão

Sexo masculino, início tardio e surgimento na região temporal podem ser considerados fatores de pior prognóstico para a canície. Estudos epidemiológicos adicionais devem ser feitos em pessoas com diferentes origens étnicas para esclarecer as características clínicas e epidemiológicas e os fatores associados à canície.

Palavras‐chave:
Cor de cabelo
Epidemiologia
Estudos transversais
Prevalência
Texto Completo
Introdução

A canície é um processo de envelhecimento cronológico que ocorre em graus diferentes, independentemente do sexo e da etnia.1,2 Fatores genéticos e ambientais, estado nutricional e estresse oxidativo influenciam sua etiopatogenia.2–4 Em estudos anteriores, foi relatado que a canície de início precoce está associada a uma série de fatores, tais como histórico familiar, tabagismo, consumo de álcool, dieta, atopia, obesidade, dislipidemia e várias doenças sistêmicas, como doença coronariana, osteopenia e hipotireoidismo.5–13

Existem poucos dados sobre prevalência, características clínicas e epidemiológicas e fatores associados à canície, embora ela afete a maioria das pessoas ao longo da vida. Este estudo teve como objetivo avaliar as características clínicas e epidemiológicas e os fatores associados à canície na população turca.

Métodos

Estudo transversal de base populacional, feito nos centros distritais de Beylikova e Alpu da cidade de Eskişehir, na Turquia, entre dezembro de 2017 e janeiro de 2018. Cada distrito rural de Eskişehir (em um total de 12) foi considerado como um grupamento para o estudo planejado no assentamento rural de Eskişehir. Por sorteio, os distritos de Alpu e Beylikova foram escolhidos como a área de estudo. De acordo com os dados do Instituto Estatístico Turco, a população entre 15 e 65 anos no distrito de Beylikova era de 6.589 (3.337 [50,6%] do sexo masculino, 3.252 [49,4%] do feminino), dos quais 2.300 (35%) moravam no centro do distrito. Já a população entre 15 e 65 anos no distrito de Alpu era de 7.411 (3.880 [52,4%] do sexo masculino, 3.531 [47,6%] do feminino), dos quais 2.200 (29.7%) moravam no centro do distrito.14 A frequência de canície foi estimada em 50% e o tamanho mínimo da amostra calculado foi 1.484, com 5% de erro tipo 1 (alfa), intervalo de confiança de 95% e margem de erro aceitável de 3,5%. O estudo incluiu 1.541 pacientes entre 15 e 65 anos. Todos os participantes eram turcos.

O estudo foi aprovado pelo comitê de ética (parecer n° 2017/04). Durante o estudo, as residências nos dois centros distritais foram visitadas de porta em porta. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Um questionário que avaliava características clínicas e epidemiológicas da canície e seus fatores de risco socioclínicos e a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse 21 (DASS‐21) foram preenchidos em entrevistas pessoais. Os indivíduos que relataram ter canície foram examinados por um médico, para confirmação. As áreas afetadas no momento da consulta foram registradas. Canície foi definida como a presença de ≥ 1 fio branco. O número de fios brancos foi estratificado em <10, 10‐100 e> 100. Foram excluídos os participantes com distúrbios de hipopigmentação, outras alopecias que não a androgenética, aqueles que tingiram os cabelos nos últimos três meses e os que se recusaram a participar do estudo. Os participantes com canície foram incluídos no grupo canície e os demais foram incluídos no grupo sem canície. O questionário incluiu perguntas sobre a idade de início e a área acometida no início da canície. Os participantes que apresentaram canície antes dos 20 anos foram incluídos no grupo de início precoce e os demais foram incluídos no grupo de início tardio.

Estados de depressão, ansiedade e estresse foram avaliados com o DASS‐21, desenvolvido a partir do DASS‐42.15,16 A validade e a confiabilidade da versão turca do DASS‐21 foram verificadas por Yılmaz et al.17 O DASS‐21 consiste em 21 questões, com pontuação entre 0 e 3. As pontuações de cada item da escala são somadas e a soma é multiplicada por 2. Pontuações totais mais altas nessa escala sugerem níveis mais elevados de depressão, ansiedade e estresse. Os níveis de depressão, ansiedade e estresse são divididos em cinco categorias: normal, leve, moderada, grave e muito grave.15,16

Análise estatística

O programa IBM SPSS Statistics 21.0 foi usado para a análise dos dados. Os dados contínuos foram apresentados como média±desvio‐padrão. Os dados categóricos foram apresentados como percentuais (%). Foram usados o teste U de Mann‐Whitney U e o qui‐quadrado de Pearson e a análise de regressão logística backward stepwise. Valores p ≤ 0,05 foram considerados estatisticamente significativos.

Resultados

A idade dos 1.541 participantes (32,4% da população total do distrito de Alpu e Belikova) variou entre 15 a 65 anos, com média de 40,4±14,5 anos; 886 (57,5%) eram do sexo masculino e 655 (42,5%) do feminino. Do total de participantes, 765 eram do distrito de Beylikova (33,3% da população total daquele distrito) e 776 eram do distrito de Alpu (35,3% da população total daquele distrito); 1.063 (69,0%) tinham canície, enquanto 478 (31,0%) não a apresentavam. Dos 1.063 participantes com canície, 437 (41,1%) eram do sexo feminino e 626 (58,9%) do masculino. A prevalência de canície aumentou com a idade (tabela 1; p=0,00). A idade média de início da canície foi de 32,9±9,8 anos (variação de 10 a 60 anos) – 31,7±9,5 anos no sexo feminino e de 33,7±10,0 anos no masculino (p=0,001). Dos 1.063 participantes com canície, 80 (7,5%) apresentaram canície de início precoce e 983 (92,5%) apresentaram canície de início tardio. Menor renda mensal e baixo nível educacional, maior índice de massa corporal, tipo de pele mais escura, presença de doença crônica, queda de cabelos, histórico familiar de canície de início precoce e ansiedade foram significativamente maiores em indivíduos com canície (p <0,05; tabela 1).

Tabela 1.

Características sociodemográficas dos participantes com e sem canície

Caníciepa 
Característica  Ausente n (%)  Presente n (%)   
Sexo0,099
Feminino  218 (33,3)  437 (66,7) 
Masculino  260 (29,3)  626 (70,7) 
Idade0,000
≤ 20  100 (86,2)  16 (13,8) 
21‐30  221 (59,7)  149 (40,3) 
31‐40  101 (32,3)  212 (67,7) 
41‐50  44 (14,8)  254 (85,2) 
≥ 51  12 (2,7)  432 (97,3) 
Escolaridade0,000
Ensino fundamental  99 (15,7)  531 (84,3) 
Ensino médio  203 (43,3)  266 (56,7) 
Ensino superior  176 (39,8)  266 (60,2) 
Estado civil0,000
Solteiro  267 (61,2)  169 (38,8) 
Casado  200 (19,3)  834 (80,7) 
Viúvo  11 (15,5)  60 (84,5) 
Renda mensal (Lira turca)0,001
<2.000  30 (19,7)  122 (80,3) 
2.000‐6.000  323 (30,8)  725 (69,2) 
˃ 6.000  125 (36,7)  216 (63,3) 
Tabagismo0,447
Sim  180 (29,9)  422 (70,1) 
Não  298 (31,7)  641 (68,3) 
Consumo de álcool0,000
Presente  121 (41,0)  174 (59,0) 
Ausente  357 (28,7)  889 (71,3) 
Dieta0,803
Vegetariano  44 (28,8)  109 (71,2) 
Principalmente carne  86 (30,8)  193 (69,2) 
Variada  348 (31,4)  761 (68,6) 
IMC0,000
<18,5  320 (42,9)  426 (57,1) 
18,5‐24,9  131 (22,2)  458 (77,8) 
≥ 25  27 (13,1)  179 (86,9) 
Tipo de pele segundo Fitzpatrick0,005
1/2  136 (34,9)  254 (65,1) 
166 (27,7)  433 (72,3) 
119 (36,1)  211 (63,9) 
57 (25,7)  165 (74,3) 
Doença crônica0,000
Ausente  389 (40,1)  581 (59,9) 
Presente  89 (15,6)  482 (84,4) 
Queda de cabelos0,000
Ausente  257 (37,4)  431 (62,6) 
Presente  221 (25,9)  632 (74,1) 
Caspa0,175
Ausente  362 (30,2)  838 (69,8) 
Presente  116 (34,0)  225 (66,0) 
Histórico de tingir os cabelos0,065
Ausente  395 (32,1)  835 (67,9) 
Presente  83 (26,7)  228 (73,3) 
Histórico familiar de canície de início precoce0,000
Ausente  307 (46,7)  350 (53,3) 
Presente  171 (19,3)  713 (80,7) 
Depressão0,208
Ausente  333 (32,1)  706 (67,9) 
Presente  145 (28,9)  357 (71,1) 
Ansiedade0,012
Ausente  321 (33,3)  643 (66,7) 
Presente  157 (27,2)  420 (72,8) 
Estresse0,296
Ausente  368 (31,7)  792 (68,3) 
Presente  110 (28,9)  271 (71,1) 
Total  478 (31,0)  1.063 (69,0) 
a

Teste qui‐quadrado de Pearson.

IMC, índice de massa corporal.

Dos 1.063 participantes com canície, 606 (57,0%) tinham mais de 100 fios brancos, 280 (26,3%) tinham 10‐100 fios brancos e 177 (16,7%) tinham menos de 10 fios brancos. A gravidade da canície aumentou com a idade (p=0,000) e foi maior no sexo masculino do que no feminino (p=0,000; tabela 2). Além disso, observou‐se maior gravidade nos participantes com canície de início tardio do que naqueles com início precoce (p <0,001; tabela 3).

Tabela 2.

Características dos participantes com canície de acordo com o sexo

Característica  Sexo
  Feminino n (%)  Masculino n (%)   
Gravidade da canície0.000a
<10  95 (21,7)  82 (13,1) 
10‐99  125 (28,6)  155 (24,8) 
> 100  217 (49,7)  389 (62,1) 
Total de participantes com canície  437 (100)  626 (100) 
Área acometida no iníciob
Frontal  143 (32,7)  110 (17,5)   
Parietal  228 (52,1)  170 (21,1)   
Temporal  133 (30,4)  468 (74,7)   
Occipital  54 (12,3)  87 (13,8)   
Área acometida no momento da consultab
Frontal  261 (59,7)  381 (60,8)   
Parietal  345 (78,9)  402 (64,2)   
Temporal  281 (64,3)  524 (83,7)   
Occipital  211 (48,2)  366 (58,4)   
a

Teste qui‐quadrado de Pearson.

b

Os participantes podem apresentar mais de uma área acometida.

Tabela 3.

Características dos participantes com canície de acordo com a idade de início

Característica  Idade de início da canície
  ≤ 19 n (%)  ≥ 20 n (%)   
Gravidade da canície<0,001a
<10  29 (36,3)  148 (15,1) 
10‐100  23 (28,8)  257 (26,1) 
> 100  28 (35,0)  578 (58,8) 
Total de participantes com canície  80 (100)  983 (100) 
Área acometida no iníciob
Frontal  16 (20)  237 (24,1)   
Parietal  46 (57,5)  352 (35,8)   
Temporal  25 (31,2)  581 (59,1)   
Occipital  11 (13,7)  126 (12,8)   
Área acometida no momento da consultab
Frontal  38 (47,5)  621 (63,1)   
Parietal  61 (76,2)  772 (78,5)   
Temporal  48 (60)  901 (91,6)   
Occipital  34 (42,5)  546 (55,5)   
a

Teste qui‐quadrado de Pearson.

b

Os participantes podem apresentar mais de uma área acometida.

A área mais comumente acometida no início e no momento da consulta foi a região temporal em todos os participantes com canície. Quando avaliado por sexo, a região temporal foi a mais afetada entre os participantes do sexo masculino e a região parietal entre as participantes do feminino (tabela 2). A região occipital foi a área menos acometida em ambos os sexos. Quanto à idade de início da canície, a área mais comumente afetada no início e no momento da consulta foi a região parietal em casos de canície de início precoce e a região temporal em casos de canície de início tardio (tabela 3). Já em relação à gravidade, a área mais comumente afetada no início e no momento da consulta foi a região parietal em casos de canície leve e a região temporal em casos de canície grave (tabela 4).

Tabela 4.

Características dos participantes com canície de acordo com a gravidade

Característica  Gravidade
  <10 n (%)  10‐100 n (%)  > 100 n (%) 
Total de participantes com canície  177 (100)  280 (100)  606 (100) 
Área acometida no inícioa
Frontal  28 (15,8)  60 (21,4)  165 (27,2) 
Parietal  94 (53,1)  95 (33,9)  209 (34,4) 
Temporal  66 (37,2)  154 (55)  386 (63,6) 
Occipital  17 (9,6)  26 (9,2)  94 (15,5) 
Área acometida no momento da consultaa
Frontal  39 (22)  101 (36)  519 (85,6) 
Parietal  99 (55,9)  139 (49,6)  529 (87,2) 
Temporal  71 (40,1)  191 (68,2)  569 (93,8) 
Occipital  21 (11,8)  65 (23,2)  492 (81,1) 
a

Os participantes podem apresentar mais de uma área acometida.

Na análise de regressão logística uni‐ e multivariada, idade, escolaridade, queda de cabelos, tipos de pele mais escuros, histórico familiar de canície de início precoce e ansiedade foram independentemente relacionados à canície (p <0,05; tabela 5).

Tabela 5.

Probabilidade de canície de acordo com a análise de regressão logística univariável/multivariável

Variáveis  Análise univariadaAnálise multivariada (etapa final 6)
  β  OR (lC)  β  OR (lC) 
Idade (ref: ≤ 20)
21‐30  1,36  3,91 (2,72‐5,62)c  1,44  4,21 (2,39‐7,43)c 
31‐40  2,38  10,77 (7,23‐16,05)c  2,57  13,12 (7,36±23,40)c 
41‐50  3,55  34,78 (21,33‐56,72)c  3,59  36,08 (19,46‐66,88)c 
≥ 51  5,03  153,30 (71,6‐328,13)c  5,42  225,00 (103,20‐490,55)c 
Escolaridade (ref: Ensino universitário)
Ensino médio  1,27  3,55 (2,66‐4,73)b  0,468  0,63 (0,44±0,89)b 
Ensino fundamental  0,143  0,87 (0,67‐1,13)  0,266  0,77 (0,16‐1,12) 
Queda de cabelos (ref: Ausente)
Presente  0,53  1,71 (1,37‐2,12)c  0,35  1,42 (1,06±1,90)a 
Tipo de pele segundo Fitzpatrick (ref: tipo 1/2)
Tipo 3  0,33  1,40 (1,06±1,84)a  0,61  1,84 (1,26‐2,70)b 
Tipo 4  ‐0,05  0,95 (0,70?1,29)  0,06  1,10 (0,70‐1,62) 
Tipo 5  0,44  1,55 (1,08?2,24)a  0,82  2,26 (1,38‐3,69)b 
Histórico familiar de canície de início precoce (ref: Ausente)
Presente  1,30  3,66 (2,92–4,59)c  1,69  5,40 (3,98‐7,34)c 
Ansiedade (ref: Ausente)
Presente  0,29  1,34 (1,06±1,68)a  0,29  1,34 (0,98‐1,83) 
a

p <0,05.

b

p <0,01.

c

p <0,001.

Dos 1.063 participantes com canície, 482 (45,3%) tinham pelo menos um histórico de doença crônica: hipertensão (28,3%), doenças da tireoide (14,2%), doenças cardiovasculares (13,8%), doenças do aparelho respiratório (12,2%), doenças do metabolismo lipídico (10,3%), anemia (9,8%), diabetes mellitus (9,7%) e câncer (1,7%).

Discussão

A literatura apresenta poucos dados sobre prevalência, características clínicas e epidemiológicas e fatores associados à canície. A famosa “regra dos 50” estipula que 50% da população têm pelo menos 50% de fios brancos aos 50 anos, mas Panhard et al. relataram que 6% a 23% da população têm pelo menos 50% de fios brancos aos 50 anos.4,18 Em um estudo anterior feito no mundo inteiro, foi relatado que a incidência de canície nas mesmas faixas etárias era menor na África subsaariana e em negros do que em outras origens étnicas; a gravidade da canície foi mais baixa nos grupos africanos e asiáticos e mais alta no grupo europeu.18 A frequência e a gravidade da canície aumentam com a idade, independentemente da origem étnica e de fatores geográficos. No presente estudo, a prevalência de canície foi de 67,2% na quarta década, 85,2% na quinta década e de 97,3% em pacientes com idade ≥ 51 anos. Semelhantemente aos grupos europeus, os presentes resultados foram superiores aos resultados do estudo em coreanos.19

A canície geralmente começa por volta dos 40 anos, mas pode ser observada em qualquer idade.1,19 Em estudo anterior com participantes coreanos, a idade média de início da canície foi de 41,6±13,1 anos e foi semelhante em mulheres e homens.19 Em nosso estudo, a idade média de início da canície foi mais baixa (média de 32,9±9,8 anos) e foi mais baixa nas mulheres do que nos homens. Esses resultados indicam que a prevalência e a idade de início da canície podem variar de acordo com o sexo e origem étnica e geográfica. Similarmente ao descrito na literatura,18 no presente estudo a gravidade da canície foi significativamente maior nos homens; já a prevalência foi maior nos homens, mas a diferença não foi estatisticamente significativa.

A área mais comumente acometida no início e no momento da consulta foi a região parietal em participantes do sexo feminino e a região temporal em participantes do masculino. A região occipital foi a área menos acometida em ambos os sexos. Esses resultados foram semelhantes aos do estudo anterior de Jo et al., mas a literatura também apresenta resultados diferentes.3,18–20

Quando a canície começa antes dos 20 anos nos brancos e antes dos 30 anos nos negros, ela é considerada de início precoce.4 Foi relatado que a canície progredia mais rapidamente no grupo de início tardio do que no grupo de início precoce; em um estudo anterior, não foi demonstrado que casos de início precoce apresentam um progresso rápido.19 No presente estudo, a gravidade da canície foi maior no grupo de início tardio do que no grupo de início precoce. A área mais comumente acometida no início e no momento da consulta foi a região parietal em casos de canície de início precoce; ao contrário de estudos anteriores, a área mais comumente acometida no início e no momento da consulta em casos de canície de início tardio foi a região temporal.19 Além disso, no presente estudo, a área mais comumente acometida no início e no momento da consulta foi a região temporal em casos de pacientes com canície grave e a região parietal em casos de canície leve (tabela 4). De acordo com esses resultados, sexo masculino, início tardio e início na região temporal podem ser considerados fatores de pior prognóstico para a canície; entretanto, esses dados devem ser respaldados por novos estudos.

Fatores genéticos, ambientais, estado nutricional e estresse oxidativo influenciam a etiopatogênese da canície.2–4 A canície de início precoce é mais comum em indivíduos com histórico familiar de canície de início precoce.5–8 No presente estudo, o risco de canície foi cinco vezes maior em participantes com histórico familiar de canície de início precoce. Esse resultado demonstrou mais uma vez a importância de fatores genéticos na etiopatogênese da canície. Estudos anteriores relataram que tabagismo, consumo de álcool e obesidade podem estar associados à canície de início precoce.5–9 No presente estudo, não foi identificada relação entre tabagismo e canície, mas a canície foi mais frequentemente observada em participantes obesos. A literatura apresenta resultados conflitantes entre o consumo de álcool e a canície. 7,19 No entanto, o consumo de álcool foi menor entre os participantes com canície no presente estudo. Esse resultado pode estar relacionado ao baixo consumo de álcool na população turca, especialmente entre os idosos nas áreas rurais.

Distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão, podem desempenhar um papel na etiopatogenia da canície e aumentar o estresse oxidativo.21,22 A literatura relata que o estresse percebido é maior em participantes com canície de início precoce.6–8 No presente estudo, a ansiedade foi mais frequente no grupo canície; entretanto, não foi observada diferença na frequência de depressão e estresse.

Além disso, a escolaridade e a renda mensal foram menores entre os participantes com canície. As condições de vida são mais difíceis para as pessoas com situação socioeconômico mais baixa. Isso pode causar canície, devido ao aumento do estresse oxidativo. No presente estudo, a canície foi mais frequente em participantes com tipo de pele mais escura. Isso pode ser devido à maior facilidade de detecção em participantes com tipo de pele mais escura. A canície também foi mais frequente em participantes casados, viúvos e naqueles com queda de cabelos, o que pode ser explicado pela idade.

O envelhecimento e as doenças crônicas podem causar canície ao aumentar os radicais oxidativos.23 A canície, particularmente a de início precoce, está associada a várias doenças sistêmicas, como doenças coronarianas, osteopenia e hipotireoidismo.11–13,20,24–26 Erdoğan et al. sugeriram que a presença de canície de início precoce pode ser útil na identificação de indivíduos em risco de doenças cardiovasculares.24 Além disso, sugeriu‐se que a canície possa ser um indicador de suscetibilidade à aterosclerose e outras doenças avançadas relacionadas à idade.27 No presente estudo, a canície foi mais comum em participantes com doenças crônicas; as doenças sistêmicas concomitantes mais comuns foram hipertensão, doenças da tireoide e doenças do sistema cardiovascular, respectivamente.

O presente estudo apresenta algumas limitações. Ele foi feito apenas entre indivíduos turcos; portanto, os presentes resultados não podem ser generalizados. Os vieses de memória, particularmente quanto à idade de início da canície, à área mais comumente acometida no início e ao histórico familiar do canície de início precoce, foram outras limitações.

Conclusão

No presente estudo, a prevalência de canície foi maior e a idade média de início da canície foi mais baixa do que na literatura. A idade média de início da canície foi mais baixa nas mulheres do que nos homens; entretanto, a gravidade da canície foi maior nos homens. A área mais comumente acometida foi a região parietal em participantes do sexo feminino e a região temporal em participantes do sexo masculino. A região occipital foi a área menos acometida em ambos os sexos. A gravidade da canície foi maior no grupo de início tardio. A área mais comumente acometida no início e no momento da consulta foi a região temporal em todos os participantes com canície grave e a região parietal em canície leve. Consequentemente, sexo masculino, início tardio e surgimento na região temporal podem ser considerados fatores de pior prognóstico para a canície. Estudos epidemiológicos adicionais devem ser feitos em pessoas com diferentes origens étnicas para esclarecer as características clínicas e epidemiológicas e os fatores associados à canície.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Ersoy Acer: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Didem Arslantaş: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Gülsüm Öztürk Emiral: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Alaattin Ünsal: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Burcu Işıktekin Atalay: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura.

Saniye Göktaş: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Agradecimentos

A Gökçe Dağtekin, Hatice Aygar e Cüneyt Çam pela coleta de dados.

Referências
[1]
R.M. Trüeb.
Aging of hair.
J Cosmet Dermatol., 4 (2005), pp. 60-72
[2]
D. Pandhi, D. Khanna.
Premature graying of hair.
Indian J Dermatol Venereol Leprol., 79 (2013), pp. 641-653
[3]
D. Daulatabad, A. Singal, C. Grover, N. Chhillar.
Profile of Indian patients with premature canities.
Indian J Dermatol Venereol Leprol., 82 (2016), pp. 169-172
[4]
A.B. Kumar, H. Shamim, U. Nagaraju.
Premature graying of hair: review with updates.
Int J Trichology., 10 (2018), pp. 198-203
[5]
H. Shin, H.H. Ryu, J. Yoon, S. Jo, S. Jang, M. Choi, et al.
Association of premature hair graying with family history, smoking, and obesity: a cross‐sectional study.
J Am Acad Dermatol., 72 (2015), pp. 312-317
[6]
E. Acer, H. Kaya Erdoğan, A. İğrek, H. Parlak, Z.N. Saraçoğlu, M. Bilgin.
Relationship between diet, atopy, family history, and premature hair graying.
J Cosmet Dermatol., 18 (2019), pp. 665-670
[7]
A. Akin Belli, F. Etgu, S. Ozbaş Gok, B. Kara, G. Doğan.
Risk factors for premature hair graying in young Turkish adults.
Pediatr Dermatol., 33 (2016), pp. 438-442
[8]
N. Sharma, D. Dogra.
Association of epidemiological and biochemical factors with premature graying of hair: a case‐control study.
Int J Trichology., 10 (2018), pp. 211-217
[9]
A.A. Zayed, A.D. Shahait, M.N. Ayoub, A.M. Yousef.
Smokers’ hair: does smoking cause prematüre hair graying?.
Indian Dermatol Online J., 4 (2013), pp. 90-92
[10]
A.M. El-Sheikh, N.N. Elfar, H.A. Mourad, E.S. Hewedy.
Relationship between trace elements and premature hair graying.
Int J Trichology., 10 (2018), pp. 278-283
[11]
S.A. Kocaman, M. Çetin, M.E. Durakoğlugil, T. Erdoğan, A. Çanga, Y. Çiçek, et al.
The degree of premature hair graying as an independent risk marker for coronary artery disease: a predictor of biological age rather than chronological age.
Anadolu Kardiyol Derg., 12 (2012), pp. 457-463
[12]
C.J. Rosen, M.F. Hollick, P.S. Millard.
Premature graying of hair is a risk marker for osteopenia.
J Clin Endocrinol Metab., 79 (1994), pp. 854-857
[13]
S. Sonthalia, A. Priya, D.J. Tobin.
Demographic characteristics and association of serum vitamin B12, ferritin and thyroid function with premature canities in Indian patients from urban skin clinic of North India: a retrospective analysis of 71 cases.
Indian J Dermatol., 62 (2017), pp. 304-308
[14]
Turkish Statistical Institute. [Internet]. Address‐based population registration system results. [cited 2018 Jan 10]. Available from? at: https://biruni.tuik.gov.tr/medas/?kn=95&locale=tr.
[15]
P.F. Lovibond, S.H. Lovibond.
The structure of negative emotional states: comparison of the Depression Anxiety Stress Scales (DASS) with the Beck Depression and Anxiety Inventories.
Behav Research Ther., 33 (1995), pp. 335-343
[16]
J.D. Henry, J.R. Crawford.
The short-form version of the Depression Anxiety Stress Scales (DASS-21): construct validity and normative data in a large non-clinical sample.
Br J Clin Psychol., 44 (2005), pp. 227-239
[17]
Ö. Yılmaz, H. Boz, A. Arslan.
The validity and reliabitiy of Depression Anxiety Stress Scale (DASS 21) Turkish short form.
FESA., 2 (2017), pp. 78-91
[18]
S. Panhard, I. Lozano, G. Loussouarn.
Greying of the human hair: a worldwide survey, revisiting the’50’ rule of thumb.
Br J Dermatol., 167 (2012), pp. 865-873
[19]
S.J. Jo, S.H. Paik, J.W. Choi, J.H. Lee, S. Cho, K.H. Kim, et al.
Hair graying pattern depends on gender, onset age and smoking habits.
Acta Derm Venereol., 92 (2012), pp. 160-161
[20]
V. Mediratta, S. Rana, A. Rao, R. Chander.
An observational, epidemiological study on pattern of clinical presentation and associated laboratory findings in patients of premature hair graying.
Int J Trichology., 10 (2018), pp. 93-95
[21]
M. Shafiee, M. Ahmadnezhad, M. Tayefi, S. Arekhi, H. Vatanparast, H. Esmaeili, et al.
Depression and anxiety symptoms are associated with prooxidant‐antioxidant balance: A population‐based study.
J Affect Disord., 238 (2018), pp. 491-498
[22]
M. Matsushita, T. Kumano-Go, N. Suganuma, H. Adachi, S. Yamamura, H. Morishima, et al.
Anxiety, neuroticism and oxidative stress: cross‐sectional study in non‐smoking college students.
Psychiatry Clin Neurosci., 64 (2010), pp. 435-441
[23]
P.H. McDonough, R.A. Schwartz.
Premature hair graying.
Cutis., 89 (2012), pp. 161-165
[24]
T. Erdoğan, S.A. Kocaman, M. Çetin, M.E. Durakoğlugil, Y. Uğurlu, İ. Şahin, et al.
Premature hair whitening is an independent predictor of carotid intima‐media thickness in young and middle‐aged men.
[25]
D. Miric, D. Fabijanic, L. Giunio, D. Eterovic, V. Culic, I. Bozic, et al.
Dermatological indicators of coronary risk: a case‐control study.
Int J Cardiol., 67 (1998), pp. 251-255
[26]
N. van Beek, E. Bodó, A. Kromminga, E. Gáspár, K. Meyer, M.A. Zmijewski, et al.
Thyroid hormones directly alter human hair follicle functions: anagen prolonation and stimulation of both hair matrix keratinocyte proliferation and hair pigmentation.
J Clin Endocrinol Metab, 93 (2008), pp. 4381-4388
[27]
M. Christoffersen, R. Frikke-Schmidt, P. Schnohr, G.B. Jensen, B.G. Nordetgaard, A. Tybjaerg-Hansen.
Visible age‐related signs and risk of ischemic heart disease in the general population: a prospective cohort study.
Circulation., 129 (2014), pp. 990-998

Como citar este artigo: Acer E, Arslantaş D, Emiral GÖ, Ünsal A, Atalay BI, Göktas S. Clinical and epidemiological characteristics and associated factors of hair graying: a population‐based, cross‐sectional study in Turkey. An Bras Dermatol. 2020;95:439–46.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Eskisehir Osmangazi, Eskisehir, Turquia.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.