Compartilhar
Informação da revista
Visitas
22
Vol. 100. Núm. 5.
(setembro - outubro 2025)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Erosões penianas: manifestação inicial atípica do pênfigo vulgar
Visitas
22
Hugo J. Leme
, José Ramos, António Magarreiro Silva, Ana Isabel Gouveia, João Alves
Departamento de Dermatologia e Venereologia, Hospital Garcia de Orta EPE, Almada, Portugal
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Texto Completo
Prezado Editor,

O pênfigo representa um grupo de doenças autoimunes bolhosas intraepidérmicas raras.1 O pênfigo vulgar (PV) é o subtipo mais comum de pênfigo e é caracterizado pela presença de autoanticorpos direcionados contra as proteínas de adesão epitelial, desmogleínas (Dsg) 1 e 3, resultando na perda de adesão dos queratinócitos.2–4 O envolvimento peniano no PV é raramente documentado, particularmente como manifestação inicial da doença.1,2,5 Descreve‐se um caso atípico de PV com início no pênis e sem envolvimento de outras membranas mucosas durante o curso da doença.

Paciente do sexo masculino, de 52 anos, apresentou‐se com história de quatro meses de erosões penianas dolorosas envolvendo a glande e o prepúcio (fig. 1). Havia sido previamente diagnosticado com candidíase, balanopostite e impetigo e foi tratado para essas condições, sem melhora. A dermatose evoluiu com o aparecimento de lesões em outras localizações, com bolhas flácidas, erosões e crostas aderentes na região inguinal, tronco e couro cabeludo (fig. 2), levando à hipótese diagnóstica de PV. O exame histológico da pele lesional foi sugestivo de PV (fig. 3), e a imunofluorescência direta na pele perilesional revelou depósitos intercelulares de IgG e C3 na epiderme inferior. Os níveis séricos (detectados por ELISA) de autoanticorpos IgG anti‐Dsg‐1 e anti‐Dsg‐3 foram >200 U/mL (normal <20) e 149,2 U/mL (normal <20), respectivamente, confirmando o diagnóstico. O paciente foi tratado com prednisolona oral 100mg/dia (1mg/kg de peso corporal/dia) juntamente com azatioprina 150mg/dia.

Figura 1.

Erosões penianas envolvendo a glande e a região interna do prepúcio.

Figura 2.

Bolhas flácidas, erosões e crostas aderentes no tronco.

Figura 3.

Fenda intraepidérmica suprabasal com células acantolíticas, consistente com pênfigo vulgar (Hematoxilina & eosina, 100×).

Em virtude da elevação dos níveis de enzimas hepáticas, a azatioprina foi descontinuada e rituximabe foi iniciado (duas infusões de 1g com intervalo de duas semanas e uma infusão de 1g após seis meses como terapia de manutenção). Isso resultou em resposta clínica favorável, com normalização dos valores de anti‐Dsg 1 e 3, acompanhada por redução progressiva na dose de prednisona ao longo de seis meses. As lesões penianas levaram mais tempo para cicatrizar e, após 24 meses de seguimento, o paciente permanece livre de recidivas.

Embora o PV frequentemente se manifeste na mucosa oral, o envolvimento de outras membranas mucosas é menos comum e há poucos relatos de casos na literatura de acometimento do pênis.1 No presente caso, a apresentação inicial consistiu em erosões dolorosas no pênis. Embora tenha sido observado envolvimento subsequente de outras áreas do tegumento, a doença não afetou outras membranas mucosas. Um estudo com 12 pacientes com pênfigo peniano5 constatou que 11 apresentavam envolvimento oral, dois apresentavam envolvimento esofágico e um paciente apresentava envolvimento da laringe, epiglote e conjuntiva. Isso destaca o quão incomum é o envolvimento do pênis sem acometimento de outras membranas mucosas.

Em pacientes do sexo feminino, o envolvimento genital é mais frequente e está significativamente associado ao envolvimento nasal e a sintomas genitais.6,7 Em geral, ocorre quando outros locais são extensivamente afetados.7 O envolvimento do colo do útero, vagina e vulva foi descrito concomitantemente com outros locais afetados ou quando outros locais envolvidos já estavam em remissão.7

No presente caso, a localização distinta na região genital levou inicialmente à formulação de diagnósticos alternativos, resultando na administração de intervenções terapêuticas injustificadas, no adiamento do diagnóstico e na piora do quadro. Outros diagnósticos diferenciais devem incluir herpes simplex e erupções induzidas por medicamentos, ambos os quais podem apresentar lesões erosivas semelhantes. Além disso, a infecção por herpes tem sido associada ao PV e pode complicar o manejo terapêutico.8

Os médicos devem considerar doenças imunobolhosas, como penfigoide bolhoso, penfigoide da membrana mucosa e pênfigo vulgar, como causa de lesões crônicas da mucosa em locais genitais. A presença de lesões genitais pode estar associada à resistência ao tratamento.1 Embora raro, o pênfigo vulgar deve fazer parte do diagnóstico diferencial de erosões dolorosas no pênis e, em caso de dúvida, biopsias devem ser realizadas.

Editor

Ana Maria Roselino.

Disponibilidade de dados de pesquisa

Não se aplica.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Hugo J. Leme: Elaboração e redação do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

José Ramos: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

António Magarreiro Silva: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Ana Isabel Gouveia: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

João Alves: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
O. Su, D. Dizman, B.D. Ozkaya, P. Yildiz, C. Demirkesen, N. Onsun.
Pemphigus vulgaris localised exclusively to the penis.
Indian J Dermatol Venereol Leprol., 81 (2015), pp. 298-299
[2]
M. Stieger, N. Pelivani, A.A. Ramelet, H. Beltraminelli, L. Borradori.
Penile erosions as first manifestation of pemphigus vulgaris: A misleading presentation.
Acta Derm Venereol., 93 (2013), pp. 248-249
[3]
V. Nayak, R. Kini, P.K. Rao, U. Shetty.
Pemphigus vulgaris.
BMJ Case Rep., 13 (2020),
[4]
J.V. Thanmai, G. Ramlal, K. Tejaswi, I.L. Mounica.
Pemphigus vulgaris: a case report.
Pan Afr Med J., 42 (2022), pp. 184
[5]
N. Sami, A.R. Ahmed.
Penile pemphigus.
Arch Dermatol., 137 (2001), pp. 756-758
[6]
M. Kavala, F.T. Demir, I. Zindanci, B. Can, Z. Turkoglu, E. Zemheri, et al.
Genital involvement in pemphigus vulgaris (PV): Correlation with clinical and cervicovaginal Pap smear findings.
J Am Acad Dermatol., 73 (2015), pp. 655-659
[7]
K. Batta, P.E. Munday.
Pemphigus vulgaris localized to the vagina presenting as chronic vaginal discharge.
Br J Dermatol., 140 (1999), pp. 945-947
[8]
A.R. Machado, S.R. da, L.La. Serra, A. Turatti, A.M. Machado, A.M. Roselino.
Herpes simplex virus 1 and cytomegalovirus are associated with pemphigus vulgaris but not with pemphigus foliaceus disease.
Exp Dermatol., 26 (2017), pp. 966-968

Como citar este artigo: Leme HJ, Ramos J, Magarreiro‐Silva A, Gouveia AI, Alves J. Penile erosions: an atypical initial manifestation of pemphigus vulgaris. An Bras Dermatol. 2025;100:501189.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Venereologia, Hospital Garcia de Orta EPE, Almada, Portugal.

Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.