Compartilhar
Informação da revista
Vol. 97. Núm. 6.
Páginas 825-827 (01 Novembro 2022)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
3914
Vol. 97. Núm. 6.
Páginas 825-827 (01 Novembro 2022)
Carta ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Fibrossarcoma infantil congênito: tumor raro que os dermatologistas devem conhecer
Visitas
3914
Luciana Baptista Pereiraa,b,
Autor para correspondência
lucianabaptistapereira@gmail.com

Autor para correspondência.
, João Renato Vianna Gontijoa,c, Marcelo de Mattos Garciad,e, Karine Corrêa Fonsecaf
a Serviço de Dermatologia, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
c Serviço de Dermatologia, Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG, Brasil
d Axial Medicina Diagnóstica, Belo Horizonte, MG, Brasil
e Hospital UNIMED, Belo Horizonte, MG, Brasil
f Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (2)
Texto Completo
Prezado Editor,

Paciente do sexo feminino, 7 meses de idade, apresentou história de lesão congênita, violácea, de crescimento rápido, localizada na superfície plantar direita. Ao exame dermatológico, verificou‐se tumor de consistência firme, esférico, com vasos dilatados na superfície, ulceração central com tecido friável, sangrante e crostas hemáticas (fig. 1). A criança desenvolveu anemia grave (hemoglobina 4,4 g/dL), necessitando de hemotransfusão. A contagem de plaquetas estava normal. O exame histológico foi sugestivo de hemangioendotelioma kaposiforme. Tratamento com prednisolona oral (2 mg/kg/dia) foi iniciado, mas interrompido após um mês por falta de resposta (fig. 1).

Figura 1.

(A), Massa tumoral ulcerada e sangrante. (B), Após 13 semanas, aumento importante do tamanho (antes da quimioterapia). (C), Redução do tumor e da úlcera após quimioterapia adjuvante e antes da amputação.

(0,41MB).

Os exames de ressonância magnética (RM) e a angiografia por ressonância magnética (ARM) revelaram massa sólida bem vascularizada, com envolvimento dos músculos subjacentes e extensão para a face anterior do pé. Havia realce difuso do contraste em toda a lesão, sem sinais de shunts arteriovenosos ou vasos tortuosos agrupados (nidus), afastando, assim, o diagnóstico de tumor vascular – entre eles, o hemangioendotelioma kaposiforme (fig. 2). Uma segunda biópsia foi realizada revelando tumor hipercelular fusiforme. A imuno‐histoquímica foi positiva para vimentina e negativa para CD31, CD34, fator VIII, desmina, MyoD1, miogenina, CD99 e EMA, possibilitando o diagnóstico de fibrossarcoma infantil congênito (FIC).

Figura 2.

(A), Ressonância magnética identificando massa expansiva com realce difuso do contraste. (B), Angiografia por ressonância magnética mostrando lesão expansiva sustentada por estruturas vasculares. Não há evidência de fístulas arteriovenosas ou nidus.

(0,17MB).

A paciente foi submetida à quimioterapia neoadjuvante (vincristina, actinomicina‐D e ciclofosfamida) para redução do tamanho do tumor (fig. 1), seguida de amputação do pé. Não há sinais de recorrência ou metástase no seguimento após cinco anos.

O FIC é tumor maligno raro da infância; no entanto, é o sarcoma de partes moles mais comum em crianças menores de 1 ano.1 Esse tumor congênito altamente vascularizado é de difícil distinção clínica dos tumores ou malformações vasculares. Pode estar presente ao nascimento ou desenvolver‐se durante os primeiros cinco anos; cerca de 80% dos casos são diagnosticados durante o primeiro ano de vida.2

Fibrossarcomas são doenças malignas provenientes dos fibroblastos mesenquimais. A variante infantil compartilha características histopatológicas com o fibrossarcoma adulto, mas tem prognóstico melhor. Embora as recorrências locais sejam comuns, a taxa de metástase do FIC é inferior a 10% e o índice de sobrevida em 10 anos é de até 90%.3 As extremidades são mais comumente acometidas, e as lesões localizadas no tronco, cabeça e pescoço são menos frequentes, porém mais agressivas.1,4 Em razão do risco de recorrência local, a ressecção cirúrgica ampla é recomendada. A cirurgia sozinha apresenta taxas de recorrência de 17%‐40%. A quimioterapia neoadjuvante reduz o risco de recorrência local e de metástases.2,3,5

Os achados histopatológicos do FIC incluem a proliferação de células fusiformes densas e áreas vascularizadas. A imuno‐histoquímica é positiva para vimentina e, em alguns casos, para desmina, actina de músculo liso e citoqueratina.4 O FIC é caracterizado em até 85% dos casos por translocação cromossômica específica t (12; 15) (p13:q25) que codifica uma fusão do gene ETV6‐NTRK3.1,3–5

O diagnóstico de FIC deve ser sempre considerado ao se deparar com um tumor congênito, esférico, com sangramento nas extremidades de crianças, a fim de se evitar atrasos no tratamento.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Luciana Baptista Pereira: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

João Renato Vianna Gontijo: Revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Marcelo de Mattos Garcia: Revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Karine Corrêa Fonseca: Revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum

Referências
[1]
R.G. Nicholas, T.E. Brennan.
Congenital infantile fibrosarcoma of the glabella: Nuances of achieving surgical cure without cosmetic or functional deformity.
Int J Pediatr Otorhinolaryngol., 117 (2019), pp. 110-114
[2]
L. Parida, I. Fernandez-Pineda, J.K. Uffman, A.M. Davidoff, M.J. Krasin, A. Pappo, et al.
Clinical management of infantile fibrosarcoma: a retrospective single‐institution review.
Pediatr Surg Int., 29 (2013), pp. 703-708
[3]
D. Orbach, A. Rey, G. Cecchetto, O. Oberlin, M. Casanova, E. Thebaud, et al.
Infantile fibrosarcoma: management based on the European experience.
J Clin Oncol., 28 (2010), pp. 318-323
[4]
S.G. Farmakis, T.E. Herman, M.J. Siegel.
Congenital infantile fibrosarcoma.
J Perinatol., 34 (2014), pp. 329-330
[5]
E. Tarik, R. Lamiae, A. Abdelouahed, M. Tarik, G. Hassan, D.M. Anouar.
Unusual case of congenital/infantile fibrosarcoma in a newborn.
Afr J Paediatr Surg., 10 (2013), pp. 185-187

Como citar este artigo: Pereira LB, Gontijo JRV, Garcia MM, Fonseca KC. Congenital infantile fibrosarcoma: a rare tumor dermatologists should know about. An Bras Dermatol. 2022;97:825–7.

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Copyright © 2022. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.