Compartilhar
Informação da revista
Vol. 98. Núm. 3.
Páginas 391-394 (Maio - Junho 2023)
Visitas
9643
Vol. 98. Núm. 3.
Páginas 391-394 (Maio - Junho 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Hemangioendotelioma kaposiforme e angioma em tufos: duas entidades do mesmo espectro clínico‐patológico
Visitas
9643
Lula María Nieto‐Benitoa,
, Jorge Huerta‐Aragonésb, Verónica Parra‐Blancoc, Minia Campos‐Domíngueza,d,e
a Departamento de Dermatologia, Hospital General Universitario Gregorio Marañón, Madri, Espanha
b Departamento de Oncologia e Hematologia Pediátricas, Hospital General Universitario Gregorio Marañón, Madri, Espanha
c Departamento de Dermatopatologia, Hospital General Universitario Gregorio Marañón, Madrid, Espanha
d Laboratório de Imuno‐Regulação, Instituto de Investigación Sanitaria Gregorio Marañón, Madri, Espanha
e Faculdade de Medicina, Universidad Complutense de Madrid, Madri, Espanha
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Texto Completo
Prezado Editor,

O hemangioendotelioma kaposiforme (HEK) e o angioma em tufos (AT) são tumores vasculares muito raros;1 entretanto, eles estão associados a importante morbidade e mortalidade.2 Sua apresentação clínica é muito heterogênea e, especialmente em relação ao HEK, as possíveis complicações associadas adicionam dificuldades a seu manejo.1,3

Lactente do sexo masculino, com 28 dias de vida, nascido após 33 semanas de gestação com diagnóstico de hidropisia fetal não imune, apresentou assimetria da face, pescoço e tórax direitos após resolução parcial do edema generalizado (fig. 1A). Ao exame físico, observou‐se tumoração eritematosa‐azulada‐purpúrica de aspecto vascular estendendo‐se da parótida direita e região cervical até o tórax ipsilateral. O diagnóstico de HEK complicado com fenômeno de Kasabach‐Merritt (KMP, Kasabach‐Merritt phenomenon) foi realizado por meio de resultados de exames laboratoriais e ressonância magnética (fig. 1B). Tratamento intravenoso com vincristina, aspirina, ticlopidina e prednisona levou à redução do tamanho do tumor e melhora do quadro clínico.3 A aspirina e a ticlopidina foram mantidas sem qualquer recidiva, alterações sintomáticas ou laboratoriais. Entretanto, vários meses após a interrupção em decorrência de vacinação, manchas e placas vermelho‐escuras e violáceas começaram a se desenvolver no mesmo local do HEK prévio (fig. 2).

Figura 1.

Imagens clínicas e radiológicas do hemangioendotelioma kaposiforme (HEK). (A) Imagem clínica de apresentação: lesão de tipo vascular localizada em região cervical direita e tórax. (B) Imagem radiológica de tumor vascular compatível com HEK com extensão endocervical profunda.

Figura 2.

Imagens clínicas de lesões de angioma em tufos (AT). (A) Máculas e placas violáceas na face lateral direita do pescoço aos 2 anos de idade; primeira apresentação de AT quando da descontinuação de aspirina e ticlopidina. (B) Regressão parcial após reintrodução de aspirina em monoterapia.

O estudo histopatológico dessas lesões mostrou proliferação vascular nodular, bem delimitada, com aspecto de “bala de canhão”, localizada na derme superior e média. Esses nódulos eram formados por pequenos vasos compactados revestidos por células endoteliais e pericitos; espaços vasculares estavam presentes e alguns deles eram periféricos, circundando os nódulos, com morfologia semilunar/ em crescente (fig. 3). Não havia mitoses, células atípicas ou alterações na epiderme. Foi realizado um painel imuno‐histoquímico e a conclusão diagnóstica foi AT. A aspirina foi então reintroduzida com controle clínico e regressão parcial (fig. 2). Novas exacerbações foram observadas no mesmo local após a descontinuação da aspirina, com controle completo após a reintrodução.

Figura 3.

Características histopatológicas do angioma em tufos (AT). (A), Proliferação vascular na derme papilar e média; os nódulos eram compostos por vasos agrupados em tufos revestidos por células endoteliais. Essas células endoteliais eram positivas para Fator VIII, CD31 e CD34 (negativas para podoplanina). (B) Esses nódulos eram circundados na periferia por espaços vasculares semilunares (positivos para podoplanina).

HEK e AT são tumores vasculares com comportamento agressivo e intermediário, respectivamente.1–3 Em relação às complicações, o KMP é a mais grave. Ambas as entidades compartilham características clínicas, histopatológicas e moleculares (mutações no GNA14); portanto, foi sugerido que se trata de polos do mesmo espectro.2 O AT geralmente se apresenta durante a primeira infância ou no início da infância e não é agressivo.2,4 Máculas, pápulas e placas purpúricas, vermelho‐escuras ou acastanhadas são características, embora um componente nodular profundo ou extensão para o tronco e cotovelo possa ser observado.1,2 A presença de tufos dérmicos de vasos em um padrão em “bala de canhão” é patognomônica (fig. 3).4

Embora recomendada, a histopatologia pode não ser realizada em casos potencialmente fatais.4,5 Em relação ao tratamento, casos de AT não complicados, precoces e assintomáticos podem não se beneficiar do tratamento.1,5 Corticosteroides sistêmicos, vincristina intravenosa, inibidores de mTOR, α‐interferon e medicamentos antiplaquetários têm sido utilizados com sucesso no tratamento de HEK/AT.5 A terapia com VAT (vincristina, aspirina e ticlopidina), conforme apresentada, demonstrou sua eficácia em casos de HEK/AT associados a KMP.2 Sirolimus, um inibidor de mTOR, demonstrou ótimos resultados em casos complicados, não complicados e refratários de HEK/AT.1,2,5

Apresentamos um caso de HEK neonatal complicado com KMP, tratado com sucesso com terapia VAT com posterior desenvolvimento de AT. Recidivas do AT ocorreram com a suspensão da aspirina, com controle completo após sua reintrodução em monoterapia.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Lula María Nieto‐Benito e Minia Campos‐Domínguez foram responsáveis pela concepção e planejamento do estudo, obtenção dos dados, elaboração e redação do manuscrito. Jorge Huerta‐Aragonés e Verónica Parra‐Blanco foram responsáveis pela concepção do estudo e revisão do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
Y. Ji, S. Chen, K. Yang, C. Xia, L. Li, Kaposiform hemangioendothelioma: current knowledge, perspectives. future, J. Orphanet.
Rare Dis, 15 (2020), pp. 39
[2]
S. Croteau, D. Gupta.
The clinical spectrum of Kaposiform hemagioendothelioma and tufted angioma.
Seminars in Cutaneous Medicine and Surgery., 35 (2016), pp. 147-152
[3]
E. Sobrino-Fernández, M. Campos-Domínguez, R. Gregorio-Hernández, Huerta-Aragonés, C. Beléndez-Bieler, A. Lancharro-Zapata, et al.
Kaposiform Hemangioendothelioma presenting as hydrops fetalis.
Pediatric Dermatol., 34 (2017), pp. e128-e129
[4]
E.F. Johnson, D.M. Davis, M.M. Tollefson, K. Fritchie, L.E. Gibson.
Vascular tumors in infants: case report and review of clinical, histopathologic and immunohistochemical characteristics on infantile hemangioma, pyogenic granuloma, no involuting congenital hemangioma, tufted angioma and kaposiform hemangioendothelioma.
Am J Dermatopathol., 40 (2018), pp. 231-239
[5]
L.G. Mariani, I.R. Schmitt, C.D. Garcia, A.E. Kiszewski.
Low dose sirolimus treatment for refractory tufted angioma and congenital kaposiform hemangioendothelioma, both Kasabach‐Merritt phenomenon.
Pediatr Blood Cancer., 66 (2019), pp. e27810

Como citar este artigo: Nieto‐Benito LM, Huerta‐Aragonés J, Parra‐Blanco V, Campos‐Domínguez M. Kaposiform hemangioendothelioma and tufted angioma: two entities of the same clinicopathological spectrum. An Bras Dermatol. 2023;98:395–7.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Venereologia, Hospital General Universitario Gregorio Marañón, Universidad Complutense, Madri, Espanha.

Copyright © 2022. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas