Compartilhar
Informação da revista
Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 511-513 (01 Julho 2020)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
11105
Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 511-513 (01 Julho 2020)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Infecção cutânea por Mycobacterium lentiflavum após injeção subcutânea de fórmula lipolítica
Visitas
11105
Renan Bernardes de Melloa,
Autor para correspondência
bernardesrenan@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, Dalton Nogueira Moreirab, Ana Carolina Gomes Pereirac, Nicole Ramalho Lustosad
a Programa de Pós‐graduação em Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecto‐Parasitárias Orestes Diniz, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
c Departamento de Clínica Médica, Hospital Semper, Belo Horizonte, MG, Brasil
d Serviço de Dermatologia, Hospital da Polícia Militar de Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (4)
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

A incidência de infecções por micobactérias não tuberculosas aumenta mundialmente e, até 2017, mais de 190 espécies e subespécies já foram documentadas. O reconhecimento desses agentes etiológicos em doenças que acometem indivíduos imunocompetentes e nas infecções associadas à cuidados médicos, como após procedimentos cirúrgicos e cosméticos, apesar de classicamente associadas à imunossupressão, torna relevante o estudo da epidemiologia e da patogênese desses microrganismos na prática médica. O Mycobacterium lentiflavum é um germe de crescimento lento e raramente acomete a pele. Relata‐se um caso de micobacteriose cutânea por M. lentiflavum em paciente imunocompetente, após injeção subcutânea de composto lipolítico, tratada com claritromicina e levofloxacina.

Palavras‐chave:
Infecções dos tecidos moles
Infecções por micobactéria não tuberculosa
Mesoterapia
Texto Completo

As micobacterioses atípicas são causadas por espécies heterogêneas de micobactérias e podem ser classificadas por meio de vários critérios, tais como: em micobactérias não tuberculosas de crescimento lento e micobactérias de crescimento rápido, pela produção de pigmento, pela morfologia da colônia e por outros testes bioquímicos.1,2 Além das micobactérias não tuberculosas (MNT), os patógenos obrigatórios do complexo Mycobacterium tuberculosis e o Mycobacterium leprae também integram o gênero Mycobacterium, causando tuberculose e hanseníase, respectivamente.1,2 Com a aplicação de técnicas de biologia molecular, entre elas a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) de ácidos micólicos, a reação em cadeia da polimerase (PCR), com enzima de restrição, e o sequenciamento genético, novas espécies de MNT têm sido descritas, ampliando o entendimento de sua ecologia, microbiologia e significância na prática médica.3 No cenário clínico, o reconhecimento da espécie é relevante devido à resistência intrínseca das MNT aos esquemas antituberculosos atuais.2

As MNT são geralmente saprófitas de vida livre e já foram isoladas na água, no solo e em objetos, inclusive utensílios e equipamentos de uso médico.4,5 Já foram relatadas infecções por MNT que complicaram procedimentos como cirurgia cardíaca e oftalmológica, lipoescultura/lipoaspiração, mamoplastia, tatuagem, aplicação de toxina botulínica e laser de CO2 fracionado, preenchimento cutâneo, mesoterapia, biópsia de pele, cirurgia de Mohs, pedicure, acupuntura, implante de piercing e escleroterapia de varizes.4–6

Nesse contexto, as espécies de crescimento rápido são as mais frequentemente isoladas, como as do complexo M. fortuitum, M. abscessus e M. chelonae.4,5 Ao contrário das MNT de crescimento rápido, o M. lentiflavum é uma bactéria de crescimento lento, que foi associada a quadros de linfadenite superficial em crianças e a infecções pulmonares, principalmente em imunossuprimidos.7–9 Porém, a micobacteriose cutânea por M. lentiflavum é rara e foi relatada pela primeira vez em paciente infectado pelo vírus da imunodeficiência humana e com contagem de linfócitos T CD4+ de 46mm3, por Montejo et al., em 2006.10

É relatado o caso de uma mulher de 28 anos, hígida, submetida a aplicações subcutâneas de substância composta por óleo de girassol 5%, desoxicolato 6%, sinetrol 5% e cafeína 50mg no abdome e flancos, por profissional não médico, com intervalos semanais entre as sessões. Após a quarta aplicação, apresentou dor, eritema e calor no local das infiltrações (fig. 1 A e B) com piora progressiva da dor, edema e supuração (fig. 2 A e B).

Figura 1.

(A e B) Nódulos eritêmato‐infiltrados no abdome.

(0,08MB).
Figura 2.

(A e B) Nódulos e placas eritêmato‐infiltrados, alguns com ulceração e supuração.

(0,15MB).

A pesquisa direta e cultura para fungos e bactérias da secreção de lesão no abdome, além de sorologia para HIV, foram negativas. A pesquisa de bacilos álcool‐ácido resistentes (BAAR) foi positiva em duas amostras diferentes. A PCR para M. tuberculosis foi negativa e a radiografia de tórax não mostrou anormalidades. Optou‐se, então, por tratamento empírico para micobacteriose atípica com claritromicina 500mg duas vezes ao dia, associada à levofloxacino 500mg uma vez ao dia, além de desbridamento das lesões. A histopatologia evidenciou inflamação crônica granulomatosa e supurativa, com abscessos em organização, ausência de vasculite e pesquisa negativa para microrganismos específicos (fig. 3 A e B). O polimorfismo de comprimento de fragmentos (RLFP), com enzima de restrição, foi compatível com Mycobacterium lentiflavum. Após dois meses de tratamento, houve melhora parcial do quadro (fig. 4 A), sendo observada remissão completa com cicatrizes atróficas ao final de 8 meses de tratamento (fig. 4 B).

Figura 3.

(A) Infiltrado linfo‐histiocitário e granulomatoso superficial e profundo, com focos de supuração e abscessos em organização (Hematoxilina & eosina, 200×). (B) Presença de células gigantes mutinucleadas (Hematoxilina & eosina, 400×). No detalhe, nota‐se bacilo álcool‐ácido resistente na secreção purulenta.

(0,39MB).
Figura 4.

(A) Diminuição do processo inflamatório após dois meses de antibioticoterapia; (B) Ao final de oito meses de tratamento, presença de cicatrizes atróficas disseminadas.

(0,13MB).
Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Renan Bernardes de Mello: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Dalton Nogueira Moreira: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Ana Carolina Gomes Pereira: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Nicole Ramalho Lustosa: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
S. Bhambri, A. Bhambri, J.Q. Del Rosso.
Atypical mycobacterial cutaneous infections.
Dermatol Clin., 27 (2009), pp. 63-73
[2]
F.N. Riello.
Identificação molecular de espécies de micobactérias por PCR‐RFLP hsp65 e implicações clínicas do diagnóstico convencional [dissertação]. Uberlândia (MG): Universidade Federal de Uberlândia, (2015),
[3]
R.J. Kothavade, R.S. Dhurat, S.N. Mishra, U.R. Kothavade.
Clinical and laboratory aspects of the diagnosis and management of cutaneous and subcutaneous infections caused by rapidly growing mycobacteria.
Eur J Clin Microbiol Infect Dis., 32 (2013), pp. 161-188
[4]
T. Gonzalez-Santiago, L.A. Drage.
Nontuberculous Mycobacteria: Skin and Soft Tissue Infections.
Dermatol Clin., 33 (2015), pp. 563-577
[5]
D. Cabral, D. Andrade.
Nontuberculous mycobacteria in surgery: challenges likely to be faced in Brazil?.
Acta Paul Enferm., 24 (2011), pp. 715-720
[6]
N. Murback, M. Higa Júnior, M. Pompílio, E. Cury, G. Hans Filho, L. Takita.
Disseminated cutaneous atypical mycobacteriosis by M. chelonae after sclerotherapy of varicose veins in a immunocompetent patient: a case report.
An Bras Dermatol., 90 (2015), pp. 138-142
[7]
C. Molteni, L. Gazzola, M. Cesari, A. Lombardi, F. Salerno, E. Tortoli, et al.
Mycobacterium lentiflavum infection in immunocompetent patient.
Emerg Infect Dis., 11 (2005), pp. 119-122
[8]
K. Yagi, K. Morimoto, M. Ishii, H. Namkoong, S. Okamori, T. Asakura, et al.
Clinical characteristics of pulmonary Mycobacterium lentiflavum disease in adult patients.
Int J Infect Dis., 67 (2018), pp. 65-69
[9]
E. Tortoli, R. Mattei, C. Russo, C. Scarparo.
Mycobacterium lentiflavum, an emerging pathogen?.
J Infect., 52 (2006), pp. 185-187
[10]
M. Montejo, J. Goicoetxea, N. Agesta, A. Gil, E. Urra, M.S. Jimenez.
Cutaneous infection by Mycobacterium lentiflavum in a patient with HIV.
Dermatology., 213 (2006), pp. 173-174

Como citar este artigo: Mello RB, Moreira DN, Pereira ACG, Lustosa NR. Cutaneous infection by Mycobacterium lentiflavum after subcutaneous injection of lipolytic formula. An Bras Dermatol. 2020;95:511–3.

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.