Um homem de 98 anos foi encaminhado com queixa de lesão tumoral malar. Ele nunca havia recebido terapia imunossupressora. O exame físico mostrou um tumor avermelhado sólido, cupuliforme, com 35mm de diâmetro, na região malar esquerda. O exame microscópico de biópsia da lesão revelou um tumor infiltrativo na derme. O tumor era composto de massas e trabéculas de células atípicas com citoplasma escasso e núcleos redondos com cromatina pontilhada (fig. 1). Os resultados do exame de imuno‐histoquímica revelaram que as células tumorais eram positivas para citoqueratina 20 e enolase neuroespecífica. O paciente foi submetido à ressecção total do tumor. No entanto, devido à idade avançada do paciente, nem ele nem sua família desejaram tratamento adicional, inclusive radioterapia, optaram apenas por consultas de seguimento. Dois anos depois, o paciente apresentou erosão do hálux direito. O exame físico revelou erosão extensa sobre o hálux direito, que continha um nódulo avermelhado. A unha havia desaparecido completamente (fig. 2). O exame histológico revelou muitas células atípicas que se infiltravam irregularmente da epiderme à derme (fig. 3). Essas células atípicas eram imunorreativas com MART‐1 e HMB‐45. Pela mesma razão de antes, o paciente e sua família optaram apenas por tratamentos sintomáticos locais em um hospital próximo.
O carcinoma de células de Merkel (CCM) é um câncer neuroendócrino cutâneo raro, conhecido por ser neoplasia altamente agressiva, com metástases frequentes e alta taxa de mortalidade. Um artigo de revisão indicou maior risco de um segundo câncer primário após o diagnóstico de CCM; além disso, o melanoma cutâneo (MMC) é uma das neoplasias mais comuns após o CCM1. Miller e Rabkin relataram que as ocorrências de MMC e CCM aumentaram de forma semelhante com a exposição ao sol e imunossupressão2. Considerando que os raios ultravioleta (UV) atenuam as respostas imunes sistêmicas pela indução de células T reguladoras, a imunossupressão sistêmica pode ser um fator essencial no desenvolvimento de ambas as condições em um paciente3.
No presente caso, observou‐se CCM na região malar e MMC na região do hálux direito. No Japão, a maioria dos casos de MMC ocorre nas extremidades dos membros que não são diretamente afetados pelos raios UV; a irritação externa é considerada um dos fatores de risco4. No entanto, a imunossupressão sistêmica associada ao envelhecimento e/ou irradiação por UV pode ser a causa comum de ambas as condições no presente caso. De acordo com artigos anteriores, vários casos de CCM e MMC concomitante em um paciente foram relatados em outros países que não o Japão; no entanto, tanto quanto é do conhecimento dos autores, este é o primeiro relato desse tipo do Japão. Curiosamente, houve relato de um caso de CCM que se desenvolveu em um paciente durante o tratamento com inibidores do checkpoint imune para MMC2,5. Dado o aumento dos inibidores do checkpoint imune usados no tratamento da MMC, o número de casos de CCM e MMC concomitantes no mesmo paciente pode aumentar no Japão e no mundo.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresMasato Ishikawa: Elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.
Masato Ishikawa: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesseNenhum.