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Vol. 94. Núm. 5.
Páginas 624-626 (01 Setembro 2019)
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Vol. 94. Núm. 5.
Páginas 624-626 (01 Setembro 2019)
Carta ‐ Caso clínico
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Neurofibromatose com vitiligo: uma associação incomum e não coexistência?
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Sidharth Tandon, Ajeet Singh
Autor para correspondência
a.ajityadav@gmail.com

Autor para correspondência.
, Pooja Arora, Ram Krishan Gautam
Departamento de Dermatologia, Postgraduate Institute of Medical Education and Research, Chandigarh, Índia & Departamento de Dermatologia, Dr. Ram Manohar Lohia Hospital, Nova Délhi, Índia
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Tabela 1. Casos previamente relatados de neurofibromatose tipo 1 (NF1) associada ao vitiligo
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Prezado Editor,

A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma doença multissistêmica autossômica dominante causada por uma mutação no gene da neurofibromina 1 que afeta os tecidos derivados da crista neural.1 Clinicamente, é caracterizada por um espectro de defeitos que inclui tumores neurais, manchas café‐com‐leite, sardas em regiões intertriginosas e defeitos esqueléticos. Vitiligo generalizado raramente foi relatado com neurofibromatose. Aqui, são apresentados dois casos de NF1 associados ao vitiligo e fenômeno halo em neurofibromas.

Paciente do sexo masculino, 28 anos, com diagnóstico prévio de NF1, apresentou‐se em nosso departamento com múltiplas manchas despigmentadas na pele, que começaram a aparecer quatro anos antes. O histórico familiar indicou que sua mãe também apresentava neurofibromatose, sem história de lesões despigmentadas. O exame dermatológico demonstrou a presença de múltiplas máculas marrom‐claro, bem demarcadas, de 5 a 50mm, presentes no tronco, dorso e membros superiores. Numerosas lesões papulonodulares, sésseis ou pedunculadas cupuliformes, de tamanhos variados, sugestivas de neurofibromas, estavam presentes na face, tronco, região dorsal e membros superiores. Algumas dessas lesões estavam circundadas por um halo despigmentado. Manchas despigmentadas muito bem definidas, compatíveis com diagnóstico de vitiligo, entre 2 e 7cm, foram observadas na região dorsal, nos cotovelos e no dorso das mãos e dos pés (fig. 1). O paciente também apresentava sardas axilares bilaterais. O exame da íris com lâmpada de fenda indicou a presença de nódulos de Lisch. A dermatoscopia da lesão de vitiligo revelou reduzida rede pigmentar em comparação com a pele normal (fig. 2).

Figura 1.

Máculas café‐com‐leite, neurofibromas com halo perilesional e manchas de vitiligo no dorso.

(0,04MB).
Figura 2.

A dermatoscopia da borda da lesão mostra reduzida rede pigmentar na lesão em relação à pele normal.

(0,07MB).

O segundo caso era um paciente do sexo masculino de 35 anos, com diagnóstico prévio de neurofibromatose, que apresentava manchas despigmentadas que envolviam a pele normal e a pele ao redor dos neurofibromas havia um ano. O pai e o irmão do paciente também haviam sido diagnosticados com neurofibromatose. No exame cutâneo, múltiplas lesões papulonodulares cor da pele, em forma de cúpula, de tamanho variável e consistência macia foram observadas na face, no tronco, na região dorsal e nas extremidades. Alguns nódulos apresentavam um halo despigmentado. Múltiplas manchas bem demarcadas, de coloração marrom‐clara, com tamanho de 5 a 20mm, foram observadas na região dorsal, no tórax e nas extremidades superiores. Áreas de despigmentação nitidamente delimitadas sugestivas de vitiligo e sardas foram observadas tanto na axila quanto no tronco e na região dorsal. A dermatoscopia da lesão mostrou reduzida rede pigmentar.

A NF1 é um dos distúrbios neurocutâneos autossômicos dominantes mais comuns; sua prevalência é estimada em cerca de 1:3.500 indivíduos. Sua expressão clínica é altamente variável; aproximadamente 30% a 50% de todos os pacientes não têm histórico familiar da doença, representam mutações de novo do gene NF1.

Friedrich von Recklinghausen foi o primeiro a descrever as características clássicas da doença, indicando que o tumor cutâneo seria originário dos nervos periféricos. Máculas café‐com‐leite, o primeiro sinal de NF1, representam uma coleção de melanócitos altamente pigmentados na epiderme, originários da crista neural. Essas máculas são observadas em 95% dos pacientes com NF1 na idade adulta. Quanto às alterações pigmentares, a literatura sugere que, como o melanócito produtor de pigmento se origina na crista neural, pode‐se esperar a presença de lesões pigmentares decorrentes de alterações na proliferação e diferenciação dos melanócitos. Estudos em culturas de células apontam que o defeito do gene NF1 afeta a melanogênese nos melanócitos epidérmicos de pacientes com NF1, resultando nas várias alterações hiperpigmentares observadas nessa enfermidade.2

O fenômeno halo é caracterizado pelo desenvolvimento súbito de um halo despigmentado em torno de um nevo congênito, nevo de Spitz, nevo azul, neurofibromas e melanomas. Shin et al.3 descreveram um caso de nevo combinado com alterações vitiligoides e especularam que o processo imunológico envolvido no vitiligo afetava simultaneamente as células do nevo subjacente, causando sua degeneração. Gach et al.4 sugeriram que a similaridade clínica e histológica entre os nevos melanocíticos congênitos e os neurofibromas se deve ao fato de que tanto os melanócitos quanto as células de Schwann se originam da crista neural. Os níveis de células T CD8+ ativadas cronicamente são maiores em pacientes com NF1, o que é uma evidência adicional de que, na presença de vitiligo generalizado, o fenômeno halo em neurofibromas se desenvolve como uma resposta imunológica.5

Uma extensiva revisão da literatura identificou os seguintes casos de NF1 associada com vitiligo, como vistos na tabela 1. O aparecimento súbito do fenômeno halo em pacientes com neurofibromatose não deve ser tratado como mera coexistência, mas sim como marcador de uma associação muito mais obscura entre neurofibromatose e vitiligo. Novos estudos devem ser feitos para fornecer uma visão mais ampla dessa complexa associação.

Tabela 1.

Casos previamente relatados de neurofibromatose tipo 1 (NF1) associada ao vitiligo

Ano  Autor  Tipo de NF  Tipo de vitiligo  Fenômeno halo associado  Outras características associadas 
1992  Singh et al.  NF1  Generalizado  Ausente   
2006  Oiso et al.  NF1  Generalizado  Presente   
2006  Bukhari et al.  NF1  Generalizado  Ausente  Defeito no osso occipital esquerdo 
2006  Yalccin et al.  NF1  Generalizado  Ausente  Tireoidite de Hashimoto, síndrome de Noonan 
2008  Nanda  NF1  Generalizado  Ausente   
2016  Duman et al.  NF1  Generalizado  Ausente  Coloboma coriorretiniano inferior e pseudoduplicação do disco óptico no olho direito 
2016  Reinehr et al.  NF1  Acral  Ausente   
2018  Presentes autores  NF1  Generalizado  Presente   
Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Sidharth Tandon: aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Ajeet Singh: aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Pooja Arora: aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Ram Krishan Gautam: revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
A. Theos, B.R. Korf.
American College of Physicians; American Physiological Society.
Pathophysiology of neurofibromatosis type 1. Ann Intern Med., 144 (2006), pp. 842-849
[2]
D. Kaufmann, S. Wiandt, J. Veser, W. Krone.
Increased melanogenesis in cultured epidermal melanocytes from patients with neurofibromatosis 1 (NF1).
Hum Genet., 87 (1991), pp. 144-150
[3]
J.H. Shin, M.J. Kim, S. Cho, K.K. Whang, J.H. Hahm.
A case of giant congenital nevocytic nevus with neurotization and onset of vitiligo.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 16 (2002), pp. 384-386
[4]
J.E. Gach, R.A. Carr, R. Charles-Holmes, S. Harris.
Multiple congenital melanocytic naevi presenting with neurofibroma‐like lesions complicated by malignant melanoma.
Clin Exp Dermatol., 29 (2004), pp. 473-476
[5]
S. Karmakar, K.M. Reilly.
The role of the immune system in neurofibromatosis type 1‐associated nervous system tumors.
CNS Oncol., 6 (2017), pp. 45-60

Como citar este artigo: Tandon S, Singh A, Arora P, Gautam RK. Neurofibromatosis with vitiligo: an uncommon association rather than coexistence? An Bras Dermatol. 2019;94:624–6.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Dr. Ram Manohar Lohia Hospital, Nova Délhi, Índia.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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