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Vol. 96. Núm. 3.
Páginas 346-348 (01 Maio 2021)
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Vol. 96. Núm. 3.
Páginas 346-348 (01 Maio 2021)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Paracoccidioidomicose disseminada em paciente transplantado hepático
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Flávia de Oliveira Valentim, Giuliane Minami Tsutsui, Luciana Patrícia Fernandes Abbade, Silvio Alencar Marques
Autor para correspondência
silvio.marques@unesp.br

Autor para correspondência.
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina, Botucatu, SP, Brasil
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Resumo

A paracoccidioidomicose é micose sistêmica endêmica, causada por fungos termodimórficos do complexo Paracoccidioides brasiliensis e P. lutzii. É considerada enfermidade rara em imunossuprimidos não HIV‐induzidos. Em transplantados de orgãos sólidos, a paracoccidioidomicose é mais observada em associação com a imunossupressão pós‐transplante renal. Em paciente transplantado hepático, há descrição de apenas um caso publicado na literatura até o presente. Relatamos o caso de paciente do sexo feminino, 47 anos de idade, com lesões cutâneas disseminadas associadas a sinais e sintomas de comprometimento sistêmico da paracoccidioidomicose e manifestas um ano após o transplante hepático e sob regime de imunossupressão com tacrolimus e micofenolato mofetil.

Palavras‐chave:
Dermatologia
Fígado
Paracoccidioidomicose
Transplante
Texto Completo

A paracoccidioidomicose é micose sistêmica causada por espécies de fungos termodimórficos do complexo Paracoccidioides brasiliensis ou por P. lutzii.1,2 Apresenta‐se clinicamente sob a forma aguda/subaguda juvenil, forma crônica do adulto e a relacionada à imunossupressão. O diagnóstico é feito através da detecção do fungo no exame micológico direto, exame histopatológico ou isolamento em cultura.

Em imunossuprimidos, a paracoccidioidomicose é mais frequente associada à infecção pelo HIV, seguido por neoplasias sólidas, hematológicas e, por fim, pós‐transplantes de órgãos sólidos, particularmente transplante renal sob imunossupressão induzida por prednisona, azatioprina ou ciclosporina. Até o momento, na literatura pesquisada (PubMed, SciELO, LILACS), há apenas um caso pós‐transplante hepático descrito e, nesse caso, em uso de tacrolimus.3–7

Relatamos o caso de paciente do sexo feminino, 47 anos de idade, ex‐residente na zona rural do estado de São Paulo, pós‐transplantada hepática havia um ano em decorrência de cirrose de etiologia alcoólica associada a hepatite B, em uso específico de tacrolimus 1mg/dia e micofenolato mofetil 720mg/dia. Encaminhada ao Serviço de Dermatologia por lesões múltiplas, com acentuação do quadro havia 15 dias, associado a febre alta aferida, mal‐estar e fraqueza. Referia, também, perda ponderal, inapetência, tosse seca e dispneia havia cerca de três meses. Ao exame, apresentava inúmeras pápulas acneiformes e pápulas eritemato‐normocrômicas, sólidas, de centro exulcerado ou recoberto de crostas, disseminadas pelo tegumento, incluindo a face (fig. 1).

Figura 1.

Paracoccidioidomicose e transplante hepático. Lesões acneiformes e pápulas eritematosas, algumas com centro exulcerado, disseminadas na face.

(0,1MB).

As hipóteses diagnósticas foram de histoplasmose, criptococose e paracoccidioidomicose. O exame histopatológico de biópsia da lesão cutânea evidenciou hiperplasia da epiderme e infiltrado inflamatório granulomatoso e supurativo dérmico, com presença de elementos fúngicos no interior de células gigantes (fig. 2). A coloração de Grocott‐Gomori evidenciou células fúngicas multibrotantes características do gênero Paracoccidioides spp. (fig. 3).

Figura 2.

Paracoccidioidomicose e transplante hepático: detalhe do processo inflamatório onde se evidenciam células fúngicas no citoplasma de células gigantes (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0,14MB).
Figura 3.

Paracoccidioidomicose e transplante hepático: células fúngicas multibrotantes características do gênero Paracoccidioides (Grocott‐Gomori, imersão).

(0,13MB).

A cultura de fragmento de biópsia, exames bioquímicos gerais, hemoculturas e sorologias, incluindo anti‐HIV, e anti‐Paracoccidioides, foram normais ou negativas. A tomografia computadorizada de tórax (fig. 4) evidenciou consolidações pulmonares coalescentes, espessamento de septos e imagem escavada nas porções inferiores e linfonodomegalias, compatíveis com o diagnóstico de paracoccidioidomicose por provável reativação de foco pulmonar quiescente.8

Figura 4.

Paracoccidioidomicose e transplante hepático: corte tomográfico mostrando consolidações parenquimatosas peribrônquicas e perivasculares.

(0,1MB).

O tratamento foi realizado com anfotericina B lipossomal 3mg/kg/dia por quatro semanas em regime intra‐hospitalar, com necessidade de transferência para UTI em decorrência de instabilidade hemodinâmica associada às infusões da anfotericina B e ao precário estado geral. A paciente recebeu alta após estabilização e recuperação clínica, remissão da paracoccidioidomicose e com itraconazol 200mg/dia como manutenção pós‐tratamento.

Em pacientes imunossuprimidos, a clínica de histoplasmose, criptococose, paracoccidioidomicose e mesmo esporotricose disseminada converge para manifestações semelhantes: história relativamente curta de quadro febril, inapetência, perda ponderal e astenia, seguida ou coincidente com o aparecimento de lesões cutâneas de padrão acneiforme, papulonodular ulcerado ou ulceronecrótico, disseminado, comprometimento frequente da face, associados a sinais e sintomas de comprometimento sistêmico.3,9 O prognóstico da paracoccidioidomicose é reservado nos casos pós‐transplante, consequente ao uso e manutenção de imunossupressores, disseminação da enfermidade e possíveis complicações associadas à terapêutica. As opções itraconazol, sulfametoxazol‐trimetropina, anfotericina B desoxicolato ou lipossomal são definidas pelo conjunto do quadro e disponibilidade.10 O presente relato de paracoccidioidomicose em paciente sob medicação imunossupressora realça a dificuldade de tratamento observada, mas o bom resultado final.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Flávia de Oliveira Valentim: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica da literatura.

Giuliane Minami Tsutsui: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Luciana Patrícia Fernandes Abbade: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica do manuscrito.

Silvio Alencar Marques: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Agradecimentos

A Mariangela Esther Alencar Marques, médica patologista, pelo auxílio diagnóstico e documentação do caso.

A Eliete Correa Soares, fotógrafa da disciplina de Dermatologia, pelo auxílio na documentação do caso relatado.

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Como citar este artigo: Valentim FO, Tsutsui GM, Abbade LPF, Marques SA. Disseminated paracoccidioidomycosis in a liver transplant patient. An Bras Dermatol. 2021;96:346–8.

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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