O eritema anular eosinofílico (EAE) é dermatose eosinofílica rara, caracterizada por placas eritematosas anulares com graus variados de prurido. As opções de tratamento para EAE são frequentemente limitadas e a doença costuma ser refratária, com curso recorrente. Destacando o potencial do tofacitinibe no tratamento da EAE, relata‐se um caso de EAE refratário que foi tratado eficazmente com tofacitinibe.
Paciente do sexo feminino, de 34 anos, foi internada no departamento com placas anulares pruriginosas no tronco e extremidades proximais. A paciente não apresentava histórico de alergia alimentar ou medicamentosa, nem de outras doenças crônicas. O exame físico revelou placas anulares vermelho‐escuras dispersas com bordas elevadas no pescoço, tórax anterior, cintura e abdome (fig. 1A‐D). Hidroxicloroquina oral e anti‐histamínicos foram administrados por duas semanas, sem resposta. Os exames laboratoriais revelaram contagem elevada de eosinófilos (0,78×109/L), enquanto nenhuma anormalidade foi observada em enzimas hepáticas, função renal, urinálise, níveis séricos totais de IgE, anticorpos antinucleares, anti‐DNA e HIV. A histopatologia de pele mostrou infiltração perivascular superficial composta predominantemente por eosinófilos. Não houve evidência de vasculite, figuras em chama, mucina dérmica ou alterações vacuolares. A imunofluorescência direta foi negativa. Dada a apresentação clínica e a ausência de figuras em chama, a síndrome de Wells foi excluída. O diagnóstico de EAE foi feito com base nos achados acima. A monoterapia com tofacitinibe 5mg, duas vezes/dia, foi iniciada. Após uma semana de tratamento, a paciente apresentou melhora notável. O eritema anular tornou‐se mais claro, com contornos borrados e as margens elevadas desapareceram (fig. 1B‐E). Ela foi tratada por mais duas semanas. Em consulta de seguimento quatro meses após o tratamento, foi observado que as lesões haviam desaparecido quase completamente, sem recidiva (fig. 1C‐F). As características histopatológicas são mostradas na figura 2. Em ligação telefônica de seguimento após oito meses, a paciente estava completamente curada e não houve recidiva.
Imagem clínica do paciente tratado com tofacitinibe. (A‐D) A paciente apresentava placas anulares vermelho‐escuras dispersas com bordas elevadas no tronco antes do tratamento. (B‐E) Remissão das manifestações clínicas após tratamento de uma semana com tofacitinibe. (C‐F) As lesões desapareceram completamente sem qualquer recorrência em um seguimento de quatro meses.
O EAE é dermatose eosinofílica autolimitada rara, com curso recidivante e remitente. Pode afetar indivíduos de todas as idades, embora seja mais comumente observada em adultos jovens. Embora a incidência exata ainda não esteja clara, o EAE tem sido associado a reações a medicamentos, respostas alérgicas e condições sistêmicas subjacentes, como lúpus eritematoso sistêmico e gastroenterite eosinofílica. Um relato de caso interessante destaca possível associação entre EAE e colangite biliar primária (CBP), doença sistêmica não relatada anteriormente na literatura.1 O diagnóstico diferencial de EAE inclui síndrome de Wells, eritema anular reumatoide, eritema anular centrífugo e outras doenças de pele associadas à eosinofilia, sendo considerado por alguns autores um subtipo da síndrome de Wells.2 A síndrome de Wells e o EAE são duas dermatoses associadas a eosinófilos que compartilham algumas semelhanças na apresentação clínica e histopatológica, mas apresentam diferenças importantes. A síndrome de Wells apresenta‐se como placas eritematosas e edematosas que se assemelham à celulite, e as lesões podem ser acompanhadas de prurido ou dor. A derme é fortemente infiltrada por eosinófilos, com a característica “figura em chama”, enquanto as lesões do EAE são placas eritematosas circulares ou em arco com margens elevadas e esmaecimento no centro. As lesões são geralmente assintomáticas ou levemente pruriginosas, com infiltração eosinofílica da derme, mas sem a “figura em chama”.
Em virtude da raridade do EAE, não existe tratamento padrão para a doença. Atualmente, as terapias de primeira linha são glicocorticoides, anti‐histamínicos, cloroquina e hidroxicloroquina. As opções alternativas de tratamento incluem ciclosporina, mepolizumabe, dapsona, UVB de banda estreita, doxiciclina e benralizumabe (tabela 1).3 Entretanto, o tratamento do EAE permanece um desafio em virtude da alta taxa de recidiva e da eficácia terapêutica insatisfatória.
Opções alternativas de tratamento para EAE e seus resultados
Tratamento | Mecanismos de Tratamento | Resultados relatados | Administração | Possíveis efeitos colaterais |
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Ciclosporina | Inibidor da calcineurina, suprime a ativação das células T | Eficaz na redução da inflamação e na melhora dos sintomas em alguns casos | Oral | Hipertensão, nefrotoxicidade |
Upadacitinibe | Inibidor JAK1, reduz a ativação das células imunes | Redução da atividade da doença e inflamação; dados limitados em EAE | Oral | Dor de cabeça, infecções respiratórias superiores |
Mepolizumabe | Inibidor da IL‐5, reduz a contagem de eosinófilos | Diminuição da infiltração de eosinófilos e inflamação; evidências limitadas para EAE | Subcutânea, mensal | Dor de cabeça, nasofaringite |
Dapsona | Propriedades anti‐inflamatórias e antimicrobianas | Melhora nos sintomas cutâneos no EAE; dados limitados sobre melhora sistêmica | Oral | Hemólise, meta‐hemoglobinemia |
UVB de banda estreita | Radiação UV, reduz a inflamação da pele | Eficaz para lesões cutâneas no EAE; evidência mínima de benefício sistêmico | Tópica | Irritação da pele, eritema |
Doxiciclina | Antibiótico com efeitos anti‐inflamatórios | Possíveis benefícios para inflamação crônica; evidências limitadas em EAE | Oral | Desconforto gastrintestinal, fotossensibilidade |
Benralizumabe | Antagonista do receptor de IL‐5, reduz a contagem de eosinófilos | Redução significante de eosinófilos; benefício potencial na inflamação relacionada ao EAE | Subcutânea, cada quatro semanas | Dor de cabeça, infecções do trato respiratório superior |
O EAE não foi claramente elucidado, mas reações de hipersensibilidade a antígenos não identificados foram propostas, enquanto eosinófilos aberrantes residentes em tecidos podem participar da doença. O tofacitinibe inibe seletivamente JAK1 e JAK3 para modular a atividade das células imunes e reduzir a inflamação. Ele inibe a ativação de células T e células B por meio da via JAK‐STAT. Pode suprimir a produção de diversas citocinas relacionadas à inflamação, como IL‐4, IL‐5 e IL‐13, que desempenham papéis críticos na proliferação, ativação e recrutamento de eosinófilos.4–6 Estudos recentes sugeriram que a inibição da sinalização JAK‐STAT, especialmente da sinalização JAK1, pode suprimir tanto a diferenciação Th2 quanto a ativação de eosinófilos.7 Como a via JAK‐STAT é o mediador de processos celulares importantes, como resposta imune e inflamação, o tofacitinibe pode ser usado como terapia direcionada, bloqueando essas vias patogênicas.6
Que seja de conhecimento dos autores, foi relatado pela primeira vez um caso de EAE refratário tratado com sucesso com tofacitinibe. As observações confirmaram que os inibidores de JAK podem ser opção terapêutica promissora e lançar luz sobre o tratamento do EAE. Entretanto, estudos adicionais são necessários para fornecer mais evidências e confirmar os achados.
Disponibilidade de dados de pesquisaOs dados que apoiam as conclusões deste estudo estão disponíveis junto ao autor correspondente mediante solicitação razoável.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresYing‐Luo Niu: Obteve os dados clínicos, incluindo imagens e prontuários médicos, redigiu o manuscrito; participou da discussão diagnóstica e contribuiu para a interpretação do caso.
Hai‐Yang He: Auxiliou na obtenção dos dados; participou da discussão diagnóstica e contribuiu para a interpretação do caso.
Sheng Fang: Supervisionou o projeto e forneceu revisões críticas; participou da discussão diagnóstica e contribuiu para a interpretação do caso.
Conflito de interessesNenhum.
EditorHiram Larangeira de Almeida Jr.