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Vol. 96. Issue 6.
Pages 771-773 (November - December 2021)
Qual o seu diagnóstico?
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Caso para diagnóstico. Uma placa exofítica no tórax
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Sonsoles Yáñez‐Díaz, Marcos A. González‐López
Corresponding author
marcosg@aedv.es

Autor para correspondência.
Serviço de Dermatologia, Hospital Universitario Marqués de Valdecilla, University of Cantabria, Cantábria, Espanha
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Resumo

O carcinoma do sulco mamário é uma variante muito rara do carcinoma de mama, no qual as lesões cutâneas geralmente são o sinal de apresentação inicial. Este é o relato de uma mulher de 88 anos com placa exofítica no sulco mamário com aproximadamente dez anos de evolução. Os exames histopatológicos e imuno‐histoquímicos confirmaram o diagnóstico de carcinoma de mama infiltrativo (variante carcinoma do sulco mamário). Este caso destaca o importante papel do dermatologista no diagnóstico precoce dessa rara variante do câncer de mama.

Palavras‐chave:
Carcinoma de anexos cutâneos
Metástase neoplásica
Neoplasias da mama
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Relato do caso

Uma mulher de 88 anos nos foi encaminhada para avaliação de uma lesão cutânea no tórax. A lesão havia surgido 10 anos e cresceu gradualmente. A lesão era assintomática, embora tivesse sangrado várias vezes nos últimos meses. O exame dermatológico revelou uma placa exofítica, firme, infiltrada, eritêmato‐purpúrica, medindo 6 x 4cm no sulco mamário mediano, espalhando‐se tanto para os sulcos inframamários quanto para o abdome superior (fig. 1). A lesão apresentava bordas bem demarcadas, com aspecto de cicatriz. Não havia adenopatias, e nódulos mamários não eram palpáveis.

Figura 1.

(A e B), Imagem clínica. Uma placa eritematosa‐ purpúrica infiltrada, medindo 6 × 4cm no sulco mamário mediano, espalhando‐se tanto para os sulcos inframamários quanto para o abdômen superior.

Uma biópsia revelou infiltrado dérmico de células atípicas que formavam pequenos ninhos sólidos dentro de um estroma mixoide. As células tumorais exibiam grandes núcleos, nucléolos proeminentes e citoplasma eosinofílico abundante (fig. 2). Na análise imuno‐histoquímica (fig. 3), as células neoplásicas foram positivas para antígeno da membrana epitelial (EMA), receptores de estrogênio (RE) e receptores de progesterona (RP) e Bcl‐2, mas foram negativas para c‐erbB‐2.

Figura 2.

Exame histopatológico. Células neoplásicas dentro de um estroma mixoide (Hematoxilina & eosina, 200×).

Figura 3.

Imuno‐histoquímica da lesão. (a), Imunomarcação positiva para receptores de estrogênio (20×). (b), Imunomarcação positiva para receptores de progesterona (20×).

Qual o seu diagnóstico?

  • a)

    Carcinoma basocelular

  • b)

    Dermatofibrosarcoma protuberans

  • c)

    Carcinoma do sulco mamário

  • d)

    Carcinoma espinocelular

A paciente foi tratada com radioterapia e hormonioterapia com tamoxifeno, com resultados satisfatórios. Entretanto, quatro anos depois, foi internada com insuficiência respiratória e deterioração progressiva do estado geral. A radiografia do tórax e a tomografia computadorizada mostraram derrame pleural e padrão nodular bilateral compatível com disseminação metastática, e a paciente foi a óbito dois meses depois.

Discussão

O carcinoma do sulco mamário (CSM) é uma variante incomum do carcinoma de mama, na qual as lesões cutâneas são geralmente o sinal de apresentação inicial.1,2 A verdadeira incidência de CSM é difícil de estimar, embora possa representar cerca de 1% dos cânceres de mama. Apesar de o envolvimento cutâneo ser uma característica marcante do CSM, raramente foi descrito em publicações dermatológicas.

O comprometimento cutâneo precoce nessa variante peculiar do câncer de mama estaria relacionado às características anatômicas do sulco inframamário, o que explicaria a tendência do tumor em invadir a derme ou o músculo subjacente.3,4 Além disso, no CSM, nódulos mamários não são palpáveis e é difícil detectá‐lo na mamografia, em razão de sua localização periférica; portanto, as manifestações cutâneas geralmente são o motivo inicial da consulta nessas pacientes.

Clinicamente, o CSM pode se apresentar como um nódulo ulcerado ou uma placa, lesão polipoide ou verrucosa, e pode simular uma lesão inflamatória, um tumor benigno ou um carcinoma cutâneo.1,2,4–6 Nesse sentido, confundi‐lo com carcinoma basocelular ulcerado ou esclerodermiforme é algo frequente, em decorrência do aspecto clínico e da longa evolução da lesão, mesmo após o exame histopatológico.2,5,6 Nesses casos, apenas a excisão completa e/ou estudo imuno‐histoquímico, como no caso aqui apresentado, tornam possível um diagnóstico definitivo.2,6 No presente caso, a imunomarcação foi positiva para RE, RP e Bcl‐2, mas negativa para c‐erbB‐2, correspondendo a um subtipo luminal A de câncer de mama.

Em resumo, o presente caso destaca o papel do dermatologista no diagnóstico precoce do CSM, o que pode contribuir significantemente para um aumento na sobrevida dessas pacientes.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Sonsoles Yáñez‐Díaz: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e / ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Marcos A. González‐López: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Breast cancer in the inframammary fold: is preserving the inframammary fold during mastectomy justified?.
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Dermatol Surg., 23 (1997), pp. 494-495

Como citar este artigo: Yáñez‐Díaz S, González‐López MA. Case for diagnosis. An exophytic plaque on the chest. Carcinoma of the mammary crease. An Bras Dermatol. 2021;96:771–3.

Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia, Hospital Universitario Marqués de Valdecilla, University of Cantabria, Cantábria, Espanha.

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