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Vol. 96. Issue 5.
Pages 651-653 (01 September 2021)
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Vol. 96. Issue 5.
Pages 651-653 (01 September 2021)
Correspondência
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Considerações sobre o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas para o tratamento da onicocriptose
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Anna Carolina Miola
Corresponding author
anna.c.miola@unesp.br

Autor para correspondência.
, Giovana Piteri Alcantara, Luciane Donida Bartoli Miot, Helio Amante Miot
Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Tabela 1. Características das principais técnicas cirúrgicas descritas para onicocriptose
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Prezado Editor,

Como onicocriptose é demanda frequente à assistência dermatológica, e seu manejo cirúrgico exige tanto treinamento específico quanto critério de indicação, lemos com interesse o artigo de Ma,1 que objetivou descrever uma nova abordagem cirúrgica para onicocriptose.

Atualmente, não existe consenso, e tampouco se formou corpo de evidências sobre as diferenças específicas das inúmeras técnicas operatórias para onicocriptose, ou da comparação entre si quanto à eficácia, morbidade, infecção, custo‐efetividade e dificuldade técnica. Portanto, o desenvolvimento de novos métodos é de relevância científica e deve ser apreciado criticamente frente às cirurgias descritas, especialmente no que concerne às diferenças técnicas e taxas de recorrência em 12 meses.

Apesar dos interessantes resultados apresentados pelo Dr. Ma, a sequência da técnica cirúrgica proposta é muito semelhante à matricectomia clássica descrita por Winograd (1929),2 que sofreu diversas adaptações ao longo dos anos.3,4 Além disso, apesar de baixa, existe uma taxa de recorrência esperada de cerca de 6%, em praticamente todos os estudos que empregaram a técnica de Winograd ou suas variantes.4 Como se trata de abordagem cirúrgica semelhante, o resultado apresentado por Ma, que não encontrou nenhuma recorrência em 67 cirurgias (seguimento de 6 a 12 meses), pode não representar diferença em relação à expectativa de 6% (p=0,119 – Teste exato de Fisher) devido à amostragem modesta. Mas também pode decorrer da fração de casos com onicocriptose grau I, que costumam não recorrer e cuja frequência não foi discriminada pelo autor.

A tabela 1 apresenta as principais características técnicas da cirurgia de Winograd e suas principais variantes, suas taxas de recidiva, além da matricectomia química com fenol 88%, e ácido tricloroacético 80%, para comparação.5

Tabela 1.

Características das principais técnicas cirúrgicas descritas para onicocriptose

Publicação  Técnica  Taxa de recidiva 
Winograd AM. J Am Podiatr Med Assoc. 2007;97:274‐7.Incisão do eponíquio  10Zero em 6 meses
Retirada da lâmina até a matriz 
Curetagem da matriz, curativo 
Uygur E, et al. Int J Surg. 2016;34:1‐5.Sequência de Winograd  12814% em 6 meses
Sutura posterior da ferida operatória na lâmina ungueal 
Acar E. J Foot Ankle Surg. 2017;56:474‐7.Sequência de Winograd  102Zero em 12 meses
Eletrocoagulação da matriz 
Karaca N, et al. Ann Fam Med. 2012;10:556‐9.  Excisão parcial da matriz proximolateral e fenolização da matriz  348  0,3% em 24 meses 
Aksoy B, et al. Dermatol Surg. 2009;35:462‐8.  Retalho em transposição da prega ungueal lateral com matricectomia parcial  52  3,9% em 12 meses 
Osan F, et al. Dermatol Surg. 2014;40:1132‐9.  Matricectomia parcial com curetagem (grupo1) vs. matricectomia parcial com eletrocauterização (grupo 2)  92 (grupo 1) vs. 57 (grupo 2)  2% em 10 meses (grupo 1) vs. zero em 10 meses (grupo 2) 
Dąbrowski M, et al. Ann Med Surg. 2020;56:152‐60.Exérese em cunha do tecido lateral à lâmina ungueal  541,8% em 1 mês
Preservação da matriz ungueal 
Kimata Y, et al. Plast Reconstr Surg. 1995;95:719‐24.Avulsão parcial da placa ungueal lateral  5371% em 6 meses
Matricectomia química com fenol 88% 
Barreiros H, et al. An Bras Dermatol. 2013;88:889‐93.Avulsão parcial da lâmina e da matriz ungueal lateral  1971,5% em 12 meses
Matricectomia química com ácido tricloroacético a 80% 
Muriel‐Sanchez JM, et al. J Clin Med. 2020;9:845.  Avulsão da lâmina lateral até o eponíquio e curetagem da matriz e do leito ungueal (grupo 1) vs. avulsão da lâmina ungueal até o eponíquio e fenolização (88%) da matriz (grupo 2)  76 (grupo 1) vs. 36 (grupo 2)  1,52% em 6 meses (grupo 1) vs. 2,8% em 6 meses (grupo 2) 
Montesi S, et al. Dermatology. 2019;235:323‐6.  Fenolização (88%) da matriz por 4 minutos  622  1,1% em 12 meses 
Terzi E, et al. Dermatol Surg. 2017;43:728‐33.  Avulsão da lâmina lateral até o eponíquio e matricectomia química com ácido bicloroacético a 90%  58  3,3% em 12 meses 

As técnicas cirúrgicas para o tratamento das onicocriptoses demandam cuidadosa sistematização das sequências operatórias e abordagem da matriz, assim como a indicação precisa de acordo com a hiperplasia tecidual, situação da lâmina ungueal e granuloma piogênico. Somente a análise comparativa dos desempenhos das técnicas, estratificadas de acordo com as indicações, podem levar a uma avaliação crítica que maximize a performance dos procedimentos.

Devido às peculiaridades da anatomia do aparelho ungueal, as abordagens cirúrgicas das onicoses demandam treinamento especializado do dermatologista. Entretanto, apesar da alta prevalência das onicocriptoses e do impacto na qualidade de vida, há uma carência de ensaios clínicos comparativos bem conduzidos que favoreçam a personalização das indicações. Além disso, é essencial rever as técnicas cirúrgicas já descritas, tanto por seu valor histórico quanto científico, quando se propõe padronizar uma nova técnica operatória.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Anna Carolina Miola: Aprovacão da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Giovana Piteri Alcantara: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Luciane Donida Bartoli Miot: Alaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Hélio Amante Miot: Aprovacão da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
H. Ma.
Six steps to standardize surgical approach for ingrown toenail.
An Bras Dermatol., 96 (2021), pp. 47-50
[2]
A.M. Winograd.
A modification in the technic of operation for ingrown toe‐nail 1929.
J Am Podiatr Med Assoc., 97 (2007), pp. 274-277
[3]
E. Uygur, E. Çarkçi, A. Şenel, B. Kemah, Y. Turhan.
A new and simple suturing technique applied after surgery to correct ingrown toenails may improve clinical outcomes: A randomized controlled trial.
Int J Surg., 34 (2016), pp. 1-5
[4]
E. Acar.
Winograd Method Versus Winograd Method With Electrocoagulation in the Treatment of Ingrown Toenails.
J Foot Ankle Surg., 56 (2017), pp. 474-477
[5]
Y. Kimata, M. Uetake, S. Tsukada, K. Harii.
Follow‐up study of patients treated for ingrown nails with the nail matrix phenolization method.
Plast Reconstr Surg., 95 (1995), pp. 719-724

Como citar este artigo: Miola AC, Alcantara GP, Miot LDB, Miot HA. Considerations on the development of surgical techniques for the treatment of onychocryptosis. An Bras Dermatol. 2021;96:651–3.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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