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Vol. 97. Issue 4.
Pages 545-547 (July - August 2022)
Carta ‐ Caso clínico
Open Access
Nevo de Spitz plantar mimetizando melanoma
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Guilherme Camargo Julio Valinotoa,
, Felipe Henrique Yazawa Santosa, Rute Facchini Lellisb, Marcus Maiaa
a Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
b Laboratório de Patologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Prezado Editor,

O nevo de Spitz é lesão melanocítica benigna com características clínicas, dermatoscópicas e histopatológicas peculiares, que muitas vezes se confundem com as de melanoma, tornando seu diagnóstico um desafio. Enquanto nevos melanocíticos são relativamente comuns na região palmoplantar, o nevo de Spitz raramente afeta tal localização, com poucos relatos na literatura.1

Relatamos o caso de uma paciente de 20 anos, fototipo III, com queixa de “pinta” no pé havia anos, com crescimento recente. Apresentava na planta esquerda mácula enegrecida de 0,5cm, limites precisos e bordas irregulares (fig. 1). À dermatoscopia, notava‐se lesão melanocítica com véu azul esbranquiçado ao centro e áreas homogêneas acastanhadas perifericamente, com padrão fibrilar à uma hora (fig. 2). Realizada biópsia excisional, com hipóteses de nevo azul e melanoma acrolentiginoso. O anatomopatológico evidenciou nevo melanocítico composto fusocelular/epitelioide compatível com nevo de Spitz (fig. 3).

Figura 1.

Mácula enegrecida de 0,5cm na planta esquerda.

Figura 2.

Dermatoscopia evidenciando véu azul esbranquiçado ao centro e pigmento acastanhado na periferia, com padrão fibrilar à 1 hora.

Figura 3.

Exame histopatológico evidenciando nevo melanocítico composto fusocelular/epitelioide com caracteres de nevo de Spitz (Hematoxilina & eosina, 200×).

Segundo Wiedemeyer et al., em 2018, o nevo de Spitz acral tem predileção pela região plantar de adultos jovens do sexo feminino, achado compatível com este caso. Além disso, foi notado que a variante acral é predominantemente pigmentada, com bordas irregulares e tamanho maior que os nevos acrais convencionais. Tais características levantam a suspeita para malignidade, fazendo diagnóstico diferencial com nevo atípico e melanoma.1

A dermatoscopia é uma ferramenta valiosa no diagnóstico clínico de lesões pigmentadas. A princípio, no caso de lesões melanocíticas acrais, o padrão de cristas paralelas ou pigmentação difusa e irregular é altamente sugestivo de melanoma; já o padrão de sulcos paralelos prevalece nos nevos melanocíticos benignos.2,3 Em relação ao nevo de Spitz acral, no entanto, é possível encontrar padrões variados com mais de um componente, e a falta de achados específicos torna difícil excluir malignidade.4

Paralelamente, a microscopia confocal de reflectância (MCR) é um exame de imagem não invasivo que tem ajudado na diferenciação entre nevos benignos e melanomas. Contudo, seu uso é limitado na investigação de lesões acrais pela espessura do estrato córneo palmoplantar, que dificulta a visualização de estruturas mais profundas.5

Histologicamente, o nevo de Spitz clássico apresenta melanócitos grandes, fusiformes e/ou epitelioides, com citoplasma abundante e eosinofílico, núcleo vesicular e nucléolo pequeno. No nevo de Spitz acral, que pode ser juncional ou composto, nota‐se uma combinação da citomorfologia Spitzoide com o padrão de crescimento juncional atípico de nevos acrais. É possível também encontrar ninhos juncionais com distribuição e formatos irregulares, disseminação pagetoide e eliminação transepidérmica de ninhos melanocíticos, achados que imitam o padrão histológico do melanoma acrolentiginoso.4 Nos casos duvidosos, o correto diagnóstico pode ser auxiliado pela imuno‐histoquímica: os nevos de Spitz, com raras exceções, expressam grande quantidade dos marcadores P16 e P21; contrariamente, os melanomas acrolentiginosos apresentam perda significativa dos mesmos.1

Portanto, enquanto não houver estudos que esclareçam o papel da dermatoscopia e da MCR na diferenciação entre o nevo de Spitz acral e o melanoma acrolentiginoso, a biópsia excisional e o estudo histopatológico continuam sendo os pilares diagnósticos para lesões pigmentadas acrais atípicas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Guilherme Camargo Julio Valinoto: Elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados.

Felipe Henrique Yazawa Santos: Elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados.

Rute Facchini Lellis: Concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Marcus Maia: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisvo crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
K. Wiedemeyer, A. Guadagno, J. Davey, T. Brenn.
Acral Spitz Nevi: A Clinicopathologic Study of 50 Cases With Immunohistochemical Analysis of P16 and P21 Expression.
Am J Surg Pathol., 42 (2018), pp. 821-827
[2]
T. Saida, A. Miyazaki, S. Oguchi, Y. Ishihara, Y. Yamazaki, S. Murase, et al.
Significance of dermoscopic patterns in detecting malignant melanoma on acral volar skin: results of a multicenter study in Japan.
Arch Dermatol., 140 (2004), pp. 1233-1238
[3]
H. Kobayashi, K. Oishi, M. Miyake, C. Nishijima, A. Kawashima, H. Kobayashi, et al.
Spitz nevus on the sole of the foot presenting with transepidermal elimination.
Dermatol Pract Concept., 4 (2014), pp. 41-43
[4]
M. Vaccaro, F. Borgia, S.P. Cannavò.
Dermoscopy of pigmented variant of acral Spitz nevus.
J Am Acad Dermatol., 72 (2015), pp. S11-S12
[5]
E. Cinotti, S. Debarbieux, J.L. Perrot, B. Labeille, E. Long-Mira, C. Habougit, et al.
Reflectance confocal microscopy features of acral lentiginous melanoma: a comparative study with acral nevi.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 30 (2016), pp. 1125-1128

Como citar este artigo: Valinoto GCJ, Santos FHY, Lellis RF, Maia M. Plantar Spitz nevus mimicking melanoma. An Bras Dermatol. 2022;97:545–7.

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

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