Journal Information
Vol. 96. Issue 2.
Pages 248-250 (01 March 2021)
Visits
6974
Vol. 96. Issue 2.
Pages 248-250 (01 March 2021)
Carta ‐ Investigação
Open Access
Teledermatologia AC/DC (antes e depois do coronavírus)
Visits
6974
Dimitri Luz Felipe Silva
Corresponding author
dimitriluzfs@gmail.com

Autor para correspondência.
, Luiz Gameiro, Juliana Yumi Massuda, Renata Ferreira Magalhães, Andrea Fernandes Eloy da Costa França
Disciplina de Dermatologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (1)
Full Text
Prezado Editor,

A pandemia de COVID‐19 promoveu um aumento do uso de meios digitais na área médica com a regulamentação do uso da telemedicina no Brasil. Diante da explosão de contágio em nosso país desde fevereiro de 2020, o Conselho Federal de Medicina, em março deste ano, reconheceu a possibilidade de uso da telemedicina com propósito de teleorientação, telemonitoramento e teleinterconsulta (CFM 1756/2020). A realização de consultas remotas em caráter temporário foi regulamentada logo após (portaria n° 467, do Ministério da Saúde), seguida pela lei 13.989, sancionada pelo presidente da República em abril.1,2

Apesar da tendência mundial, a teledermatologia ainda era vista com ressalvas no Brasil. As primeiras experiências nesse campo estavam voltadas para a teletriagem e tele‐educação, e datam do início dos anos 2000. Ações no âmbito da dermatologia compreenderam o Telemedhansen, Telederma e o Anapec, entre outros. Mais recentemente, estudo realizado no Núcleo de Telemedicina e Telessaúde do estado de Santa Catarina possibilitou a teletriagem diagnóstica do câncer de pele por meio do compartilhamento remoto de imagens clínicas e dermatoscópicas das lesões cutâneas.3–6

A adoção dessa modalidade de atendimento por dermatologistas em seus consultórios era pouco considerada até o momento. Com o objetivo de avaliar a adoção da teleconsulta dermatológica no meio privado, realizamos um levantamento junto aos associados do 5° distrito dermatológico da SBD – Regional São Paulo, por meio do envio de formulário on‐line, distribuído no mês de junho de 2020, dois meses após a instalação do lockdown. Do total de 300 dermatologistas que receberam o questionário por e‐mail, englobando 35 cidades do interior do estado de São Paulo, houve retorno de 84 formulários (30% dos associados).

Dos que responderam à pesquisa, 60% tinham entre 41 e 60 anos de idade. Desses, apenas 7% realizavam teleatendimento antes da pandemia e da regulamentação.

Diversos motivos foram citados por aqueles que não estavam realizando teleconsulta no momento do estudo (n = 42), dentre os quais a resposta “não sinto que sanará as expectativas do meu paciente” foi referida por 17% dos entrevistados. Experiências prévias frustrantes (12%) e resistência na utilização da tecnologia no dia a dia (12%) foram outras justificativas. Questões financeiras também foram apontadas em menor escala (repasses menores dos convênios, aviltamento da profissão, falta de procura).

Por outro lado, a realização de telemedicina “a pedido do paciente” foi o motivo da adoção dessa tecnologia por 33% dos dermatologistas, seguido por ser essa “mais uma possibilidade de renda” (18%) e “diminuição de fluxo de pacientes no consultório” (12%). Os entusiastas dessa tecnologia (conhecidos pela denominação de early adopters) corresponderam a 9% dos entrevistados.7

Quando questionados sobre o grau de resolutividade da teledermatologia em uma escala de 1 (sem resolutividade) a 5 (completamente resolutiva), 53% dos dermatologistas atribuíram nota 3 e 33% nota 4, configurando 86% que consideraram a tecnologia capaz de atender a suas demandas. Por fim, 63% dos entrevistados pretendem continuar o uso da telemedicina, mesmo após o término da pandemia de COVID‐19 (fig. 1).

Figura 1.

Opinião dos usuários da teledermatologia.

(0.38MB).

Apesar de ter sido precipitada por uma situação excepcional, o cenário descrito em nosso estudo reflete uma tendência de mudança de paradigma no exercício da especialidade no Brasil, que pode passar a considerar a teledermatologia uma opção viável no atendimento aos pacientes. Uma vez que a maioria dos dermatologistas que testaram a nova tecnologia a vê como uma ferramenta satisfatória, fazer a replicação desse método aos que ainda não a praticam pode ser um dos principais obstáculos na implementação dessa modalidade a posteriori. A adequação monetária e a instituição de regras bem definidas de uso também parecem ser fatores importantes para sua implementação definitiva.

Diversos estudos na literatura apontam a eficácia da teledermatologia tanto na detecção precoce de neoplasias malignas quanto na teletriagem de queixas tegumentares. Certamente, esse modelo de saúde conectado poderá fazer diferença num país continental e tão heterogêneo como o Brasil.2,7,8

Esse levantamento aponta outros usos da teledermatologia também no campo privado e no âmbito dos consultórios, para além das ações voltadas à capacitação/matriciamento.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Dimitri Luz Felipe da Silva: Conceito e desenho do estudo; coleta e análise/interpretação dos dados; concepção, escrita e/ou revisão crítica do artigo com conteúdo intelectual relevante; aprovação da versão a ser submetida.

Luiz Gameiro: Conceito e desenho do estudo; coleta e análise/interpretação dos dados; concepção, escrita e/ou revisão crítica do artigo com conteúdo intelectual relevante; aprovação da versão a ser submetida.

Juliana Yumi Massuda: Conceito e desenho do estudo; coleta e análise/interpretação dos dados.

Renata Ferreira Magalhães: Conceito e desenho do estudo; coleta e análise/interpretação dos dados; aprovação da versão a ser submetida.

Andrea Eloy Fernandes da Costa França: Conceito e desenho do estudo; coleta e análise/interpretação dos dados; concepção, escrita e/ou revisão crítica do artigo com conteúdo intelectual relevante; aprovação da versão a ser submetida.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
M.G. Bianchi, A.P. Santos, E. Cordioli.
The majority of skin lesions in pediatric primary care attention could be managed by Teledermatology.
PLoS One., 14 (2019), pp. e0225479
[2]
M.G. Bianchi, A. Santos, E. Cordioli.
Dermatologists’ perceptions on the utility and limitations of teledermatology after examining 55,000 lesions.
[3]
L.W. Chao, T.F. Cestari, L. Bakos, M.R. Oliveira, H.A. Miot, M. Zampese, et al.
Evaluation of an Internet‐based teledermatology system.
J Telemed Telecare., 9 (2003), pp. S9-S12
[4]
L.W. Chao, M.Y. Enokihara, P.S.P. Silveira, S.R. Gomes, G.M. Böhm.
Telemedicine model for training non‐medical persons in the early recognition of melanoma.
J Telemed Telecare., 9 (2003), pp. 4-7
[5]
M.F. Piccoli, B.D. Amorim, H.M. Wagner, D.H. Nunes.
Teledermatology protocol for screening of skin cancer.
An Bras Dermatol., 90 (2015), pp. 202-210
[6]
A. von Wangenheim, D.H. Nunes.
Creating a Web Infrastructure for the Support of Clinical Protocols and Clinical Management: An Example in Teledermatology.
Telemed J E Health., 25 (2019), pp. 781-790
[7]
H.A. Haenssle, C. Fink, R. Schneiderbauer, F. Toberer, T. Buhl, A. Blum, et al.
Man against machine: diagnostic performance of a deep learning convolutional neural network for dermoscopic melanoma recognition in comparison to 58 dermatologists.
Ann Oncol., 29 (2018), pp. 1836-1842
[8]
K. Rismiller, A.M. Cartron, J.C.L. Trinidad.
Inpatient teledermatology during the COVID‐19 pandemic.
J Dermatolog Treat., 31 (2020), pp. 441-443

Como citar este artigo: Silva DLF, Gameiro L, Massuda JY, Magalhães RF, França AFEC. Teledermatology before and after coronavirus. An Bras Dermatol. 2021;96:248–50.

Trabalho realizado na Disciplina de Dermatologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.