Compartilhar
Informação da revista
Vol. 96. Núm. 5.
Páginas 613-616 (01 Setembro 2021)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
4802
Vol. 96. Núm. 5.
Páginas 613-616 (01 Setembro 2021)
Qual o seu diagnóstico?
Open Access
Caso para diagnóstico. Úlcera e lesões papulosas em paciente com diabetes mellitus
Visitas
4802
Larissa Daniele Machado Góes
Autor para correspondência
larissadaniele55@gmail.com

Autor para correspondência.
, Vinícius da Silva Monteiro, Ana Tereza Orsi de Souza
Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

A prototecose é doença rara, ocasionada por alga aclorofílica do gênero Prototheca spp. Em geral, são observadas três formas clínicas: cutânea, articular e sistêmica. A forma cutânea é a mais comum. Neste trabalho é apresentado o relato de caso de uma paciente com pápulas eritematosas isoladas e placas papulosas eritematosas nas regiões escapulares, com diagnóstico histopatológico prévio de criptococose. Novos exames foram conclusivos para o diagnóstico de prototecose ocasionada por Prototheca wickerhamii.

Palavras‐chave:
Dermatoses infecciosas
Infecções oportunistas
Prototheca
Texto Completo
Relato de caso

Paciente do sexo feminino, 79 anos de idade, natural e residente em Manaus, com diabetes mellitus não insulino‐dependente, portadora de marca‐passo, encaminhada com diagnóstico histopatológico de criptococose. Evolução de dois anos.

Exame dermatológico: úlcera na região escapular direita e lesões eritemato‐papulosas, isoladas e confluentes, formando pequenas placas, localizadas na região escapular esquerda (fig. 1). Sorologias negativas para HIV, sífilis, hepatites B e C. Exame histopatológico: infiltrado dérmico granulomatoso e estruturas arredondadas, isoladas ou agrupadas, de diferentes tamanhos, no interior de histiócitos e células gigantes (fig. 2).

Figura 1.

(A), Lesão ulcerosa, com bordas elevadas, eritematosas e fundo hemorrágico. Lesões purpúricas secundárias à trauma. (B), Placas infiltradas, papulosas, eritematosas na região escapular.

(0,29MB).
Figura 2.

(A), Infiltrado dérmico granulomatoso composto de linfócitos, histiócitos, células gigantes multinucleadas e estruturas arredondadas isoladas ou agrupadas, de diferentes tamanhos, no interior de histiócitos e células gigantes (Hematoxilina & eosina, 100×). (B), Maior detalhe dos esporângios, coloração de Hematoxilina & eosina (Hematoxilina & eosina, 400×).

(0,25MB).
Qual o seu diagnóstico?

a) Leishmaniose cutânea

b) Prototecose

c) Criptococose

d) Paracoccidioidomicose

Discussão

Nas colorações pelo PAS e Grocott observam‐se estruturas arredondadas e endosporulação com aspecto de mórula (fig. 3). Análise da estrutura molecular do material obtido em cultura: Prototheca wickerhamii. Este quadro histopatológico e de biologia molecular exclui as hipóteses de criptococose, leishmaniose e paracoccidioidomicose. Conclusão diagnóstica: prototecose.

Figura 3.

(A), Esporângios destacados em preto pela coloração pela prata (Grocott, 400×). (B), Esporângios destacados pela coloração PAS (PAS, 400×).

(0,25MB).

A prototecose é doença oportunista ocasionada por algas aclorofílicas do gênero Prototheca, encontradas em cães, morcegos, na água doce e salgada, no esgoto, no solo e no leite de gado.1,2 Os seres humanos são contaminados acidentalmente por meio de arranhaduras cutâneas, inalação ou ingestão do agente etiológico.3 A prototecose humana é rara, e na maioria dos casos ocorre em pacientes imunodeprimidos.4 Em geral, as manifestações clínicas são predominantemente cutâneas. Bursite e envolvimento sistêmico também são relatados.5,6 Os principais agentes da prototecose são a Prototheca zopfii e P. wickerhamii – esta última, a mais comum.7 Placas infiltradas e lesões ulceradas constituem as apresentações clínicas mais frequentes.8 Lesões papulosas, nodulares, pustulosas, vesiculosas e verrucosas podem ocorrer.5

Clinicamente, todas as possibilidades diagnósticas sugeridas deveriam ser consideradas. A hipótese de leishmaniose é relevante, pois a paciente vive em Manaus, onde com relativa frequência tem‐se diagnosticado esta enfermidade em pacientes sem histórico de ter saído da cidade. Áreas residuais de mata primária e/ou secundária são os principais reservatórios da enfermidade na área urbana.1 A paracoccidioidomicose pode ocasionar manifestações clínicas similares, porém a paciente não tinha antecedentes de atividade em área rural. Este diagnóstico e a hipótese de criptococose cutânea também foram afastados por meio dos exames laboratoriais. A paciente não apresentava queixa ou evidência clínica de doença sistêmica associada à prototecose. Os exames de imagem realizados (radiografia e tomografia computadorizada de tórax) estavam normais.

A paciente foi medicada com itraconazol, na dose de 200 mg/dia. Houve regressão quase total das lesões; no entanto, a paciente veio a óbito por COVID‐19. O itraconazol tem sido empregado em períodos variáveis de 14 a 180 dias.7,8 Anfotericina B é recomendada para pacientes imunodeprimidos.9,10

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Larissa Daniele Machado Góes: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Vinícius da Silva Monteiro: Concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Ana Tereza Orsi de Souza: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
E. Benício, M. Cordeiro, H. Monteiro, M.A.S. Moura, C. Oliveira, E.P.N. Gadelha, et al.
Sustained Presence of Cutaneous Leishmaniasis in Urban Manaus, the Largest Human Settlement in the Amazon.
Am J Trop Med Hyg., 93 (2015), pp. 1208-1213
[2]
P.C.G. Silva, S.B. Costa e Silva, R.B. Lima, A.M. D’Acri, O. Lupi, C.J. Martins.
Cutaneous protothecosis ‐ Case report.
An Bras Dermatol., 88 (2013), pp. S183-S185
[3]
Q.Q. Zhang, L. Li, L.P. Zhu, Y. Zhao, Y.R. Wang, J.H. Zhu, et al.
Cutaneous protothecosis in patient with diabetes mellitus and review of published case reports.
Mycopathologia., 173 (2012), pp. 163-171
[4]
M. Sheikh-Ahmad, S. Goldstein, I. Potasman.
Prototheca wickerhamii hand infection successfully treated by itraconazole and voriconazole.
J Travel Med., 13 (2006), pp. 321-323
[5]
C. Lass-Flörl, A. Mayr.
Human protothecosis.
Clin Microbiol Rev., 20 (2007), pp. 230-242
[6]
V.R. Godofredo, Enokihara MMSES, J. Tomimori, M.M. Ogawa.
Cutaneous protothecosis in kidney transplant recipient.
An Bras Dermatol., 95 (2020), pp. 210-213
[7]
H.A. Torres, G.P. Bodey, J.J. Tarrand, D.P. Kontoyiannis.
Protothecosis in patients with cancer: case series and literature review.
Clin Microbiol Infect., 9 (2003), pp. 786-792
[8]
H.C. Tseng, C.B. Chen, J.C. Ho, Y.W. Cheng, H.W. Huang, P.L. Sun.
Clinicopathological features and course of cutaneous protothecosis.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 32 (2018), pp. 1575-1583
[9]
J.R. Todd, T. Matsumoto, R. Ueno, J. Murugaiyan, A. Britten, J.W. King, et al.
Medical phycology 2017.
Med Mycol., 56 (2018), pp. S188-S204
[10]
R. Kano.
Emergence of Fungal‐Like Organisms: Prototheca.
Mycopathologia., 185 (2020), pp. 747-754

Como citar este artigo: Góes LDM, Monteiro VS, Souza ATO. Case for diagnosis. Ulcer and papular lesions in a patient with diabetes mellitus. Protothecosis. An Bras Dermatol. 2021;96:613–6.

Trabalho realizado na Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil.

Copyright © 2021. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.