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Vol. 97. Núm. 6.
Páginas 808-814 (01 Novembro 2022)
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Páginas 808-814 (01 Novembro 2022)
Carta ‐ Investigação
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Estudo proteômico do melasma facial
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Luiza Vasconcelos Schaefera,b,
Autor para correspondência
luizavasconcelos12@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Leticia Gomes de Pontesc,d, Nayara Rodrigues Vieira Cavassanc,d, Lucilene Delazari dos Santosc,d, Hélio Amante Miote
a Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Universidade do Oeste Paulista, São Paulo, SP, Brasil
c Departamento de Pesquisa, Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
d Programa de Pós‐Graduação em Doenças Tropicais, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
e Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Melasma é hipermelanose que afeta áreas fotoexpostas, especialmente em mulheres adultas, que inflige importante impacto na qualidade de vida por acometer áreas visíveis e ser recidivante, apesar dos tratamentos. Sua fisiopatologia não é totalmente compreendida, mas resulta da interação entre fatores de exposição (p. ex., radiação solar e hormônios sexuais) e predisposição genética. Diversos estímulos dérmicos foram apontados na manutenção da melanogênese no melasma, envolvendo atividade de fibroblastos, endotélio e mastócitos, que promovem elastonização do colágeno, dano estrutural à membrana basal, liberação de fatores de crescimento (p. ex., sSCF, bFGF, NGF, HGF) e mediadores inflamatórios (p. ex., ET1, IL1, VEGF, TGFb).1–3

Este estudo objetivou explorar proteínas diferencialmente expostas na pele com melasma em relação à pele adjacente fotoexposta, não afetada.

Realizou‐se estudo transversal envolvendo 20 mulheres com melasma facial, sem tratamentos específicos por 30 dias. Duas biópsias foram realizadas (mesmo pesquisador), uma no limite do melasma facial e outra na pele não afetada, a 2 cm de distância da primeira, conforme padronizado anteriormente.1,3 Realizou‐se a extração mecânica de proteínas, sua digestão enzimática e espectrometria de massa. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética institucional (n° 1.411.931).

As amostras foram analisadas em duplicata no sistema nanoACQUITY‐UPLC acoplado a espectrômetro de massa Xevo‐Q‐TOF‐G2, cujos resultados foram processados no software ProteinLynx GlobalServer 3.03v. As proteínas foram indentificadas por meio do algoritmo de contagem de íons, cujos padrões espectrais foram pesquisados no banco Homo sapiens, no catálogo UniProt (https://www.uniprot.org/).

Todas as proteínas identificadas com > 95% de similaridade foram incluídas na análise. As intensidades dos picos de íons foram normalizadas, escalonadas e comparadas entre as topografias por um algoritmo bayesiano (método Monte Carlo), que retorna um valor p ≤ 0,05 para proteínas sub‐reguladas e ≥ 0,95 para as super‐reguladas, corrigido pelo procedimento de Benjamini‐Hochberg.4

O principal desfecho do estudo foi a diferença entre as intensidades dos picos iônicos das proteínas (melasma: M; perilesional: P). O tamanho do efeito foi estimado pela razão dessas quantidades entre as topografias (M/P). Proteínas com razão M/P ≤ 0,5 ou ≥ 2,0 foram consideradas neste estudo.

As proteínas identificadas e suas funções biológicas foram diagramadas em mapa térmico e agrupadas por meio de procedimento de cluster (método Ward).

A idade média (desvio‐padrão) das pacientes foi de 42,8 (8,9) anos; 70% eram dos fototipos III‐IV e 25% exerciam profissões expostas ao sol. A idade de início do melasma foi de 29,3 (7,5) anos; 55% das mulheres referiam histórico familiar e 30% usavam anticoncepcional.

Validaram‐se 256 proteínas nas amostras de pele, e as 29 proteínas diferencialmente quantificadas entre as topografias estão expostas na tabela 1. As maiores discrepâncias ocorreram para as proteínas HBD, EXPH5, KRT1, KRT9, REV3L (M/S > 4,00); e ACAP9, ADGB, CA1 (M/S < 0,33).

Tabela 1.

Proteínas e isoformas identificadas nas amostras de peles de melasma facial (M) e adjacente fotoexposta (P) (n = 40) com diferença ente os grupos (p ≤ 0,05 ou ≥ 0,95) e razão M/P ≥ 2,0 ou ≤ 0,5

Código proteínas  Proteína  Escore PLGS  Melasma  Perilesional  Log2 M/P (DP)  Razão M/P  p‐valora 
P1  Actin Alpha Skeletal Muscle ACTA1  958,81  1,34 (0,04)  0,66 (0,04)  1,04 (0,07)  2,05  1,00 
P2  Actin Cytoplasmic 2 ACTG1  1164,96  1,40 (0,06)  0,60 (0,06)  1,23 (0,11)  2,34  1,00 
  Actin Cytoplasmic 2 ACTG1  1164,96  1,40 (0,07)  0,60 (0,07)  1,24 (0,12)  2,36  1,00 
P3  A‐Kinase Anchor Protein 13 AKAP13  87,85  1,53 (0,40)  0,47 (0,40)  1,96 (1,03)  3,90  0,97 
  A‐Kinase Anchor Protein 13 AKAP13  87,85  1,55 (0,37)  0,45 (0,37)  1,99 (1,13)  3,97  0,95 
P4  A‐kinase Anchor protein 9 AKAP9  12,43  0,35 (0,34)  1,65 (0,34)  −2,39 (1,00)  0,19  0,03 
  A‐kinase Anchor protein 9 AKAP9  13,08  0,38 (0,20)  1,62 (0,20)  −2,16 (0,50)  0,22  0,00 
  A‐kinase Anchor protein 9 AKAP9  16,30  0,40 (0,24)  1,60 (0,24)  −2,06 (0,55)  0,24  0,00 
P5  Albumin isoform CRA k ALB  542,99  0,62 (0,05)  1,38 (0,05)  −1,14 (0,08)  0,45  0,00 
  Serum albumin ALB  5862,44  0,54 (0,18)  1,46 (0,18)  −1,44 (0,32)  0,37  0,00 
  Serum albumin ALB  542,99  0,63 (0,04)  1,37 (0,04)  −1,14 (0,07)  0,45  0,00 
  Serum albumin ALB  542,99  0,52 (0,07)  1,48 (0,07)  −1,50 (0,12)  0,35  0,00 
  Serum albumin ALB  2923,53  0,62 (0,10)  1,38 (0,10)  −1,17 (0,17)  0,44  0,00 
  Serum albumin ALB  542,99  0,63 (0,06)  1,37 (0,06)  −1,11 (0,10)  0,46  0,00 
  Serum albumin ALB  486,61  0,64 (0,06)  1,36 (0,06)  −1,07 (0,09)  0,48  0,00 
  Serum albumin ALB  534,91  0,66 (0,08)  1,34 (0,08)  −1,04 (0,12)  0,49  0,00 
P6  Alpha‐1‐antitrypsin SERPINA1  1092,60  1,33 (0,13)  0,67 (0,13)  1,00 (0,21)  2,00  1,00 
P7  Androglobin ADGB  69,19  0,48 (0,21)  1,52 (0,21)  −1,69 (0,40)  0,31  0,05 
P8  Annexin ANXA2  117,73  1,33 (0,25)  0,67 (0,25)  1,01 (0,41)  2,01  0,95 
  Annexin ANXA2  117,73  1,33 (0,26)  0,67 (0,26)  1,02 (0,44)  2,03  0,97 
  Annexin ANXA2  117,73  1,34 (0,26)  0,66 (0,26)  1,05 (0,43)  2,08  0,95 
  Annexin ANXA2  117,73  1,35 (0,28)  0,65 (0,28)  1,08 (0,43)  2,12  0,95 
P9  Beta‐actin‐like protein 2 ACTBL2  101,00  1,43 (0,07)  0,57 (0,07)  1,34 (0,12)  2,53  1,00 
P10  BTB/POZ domain‐containing protein KCTD7  53,81  1,57 (0,17)  0,43 (0,17)  1,90 (0,40)  3,74  1,00 
P11  Carbonic Anhydrase 1 CA1  1112,39  0,39 (0,17)  1,61 (0,17)  −2,09 (0,45)  0,23  0,00 
  Carbonic Anhydrase 1 CA1  1386,45  0,47 (0,13)  1,53 (0,13)  −1,70 (0,27)  0,31  0,00 
P12  Ceruloplasmin CP  76,55  1,40 (0,17)  0,60 (0,17)  1,23 (0,30)  2,34  1,00 
  Ceruloplasmin CP  85,85  1,37 (0,17)  0,63 (0,17)  1,13 (0,29)  2,18  1,00 
  Ceruloplasmin CP  85,85  1,43 (0,15)  0,57 (0,15)  1,34 (0,27)  2,53  1,00 
P13  DNA polymerase zeta catalytic subunit REV3L  73,85  1,58 (0,34)  0,42 (0,34)  2,03 (0,86)  4,10  0,95 
  DNA polymerase zeta catalytic subunit REV3L  153,25  1,52 (0,06)  0,48 (0,06)  1,66 (0,12)  3,16  1,00 
P14  Exophilin‐5 EXPH5  40,12  1,79 (0,12)  0,21 (0,12)  3,16 (0,48)  8,94  1,00 
P15  Fibrinogen Gamma chain FGG  211,06  1,33 (0,16)  0,67 (0,16)  1,01 (0,25)  2,01  1,00 
P16  Fibrinogen Gamma chain FGG  211,06  1,34 (0,14)  0,66 (0,14)  1,04 (0,24)  2,05  1,00 
  Fructose‐bisphosphate Aldolase A ALDOA  153,06  1,46 (0,07)  0,54 (0,07)  1,43 (0,14)  2,69  1,00 
  Fructose‐bisphosphate aldolase A ALDOA  296,85  1,45 (0,07)  0,55 (0,07)  1,41 (0,13)  2,66  1,00 
  Fructose‐bisphosphate aldolase ALDOA  295,30  1,46 (0,10)  0,54 (0,10)  1,43 (0,17)  2,69  1,00 
  Fructose‐bisphosphate aldolase ALDOA  295,30  1,47 (0,08)  0,53 (0,08)  1,46 (0,14)  2,75  1,00 
P17  G Patch domain‐containing protein 1 GPATCH1  95,48  1,37 (0,14)  0,63 (0,14)  1,13 (0,25)  2,18  1,00 
  G patch domain‐containing protein 1 GPATCH1  88,85  1,60 (0,28)  0,40 (0,28)  2,15 (0,66)  4,44  1,00 
P18  Heat shock protein 75 kDa mitochondrial TRAP1  124,78  1,43 (0,13)  0,57 (0,13)  1,34 (0,24)  2,53  1,00 
P19  Hemoglobin subunit alpha HBA1  8552,23  1,57 (0,02)  0,43 (0,02)  1,88 (0,04)  3,67  1,00 
P20  Hemoglobin subunit beta HBB  91,85  0,65 (0,05)  1,35 (0,05)  −1,07 (0,08)  0,48  0,00 
P21  Hemoglobin subunit delta HBD  42,06  1,94 (0,02)  0,06 (0,02)  5,05 (0,31)  33,12  1,00 
P22  Keratin type I cytoskeletal 9 KRT9  340,12  1,61 (0,13)  0,39 (0,13)  2,05 (0,27)  4,14  1,00 
  Keratin type I cytoskeletal 9 KRT9  190,36  1,60 (0,26)  0,40 (0,26)  2,06 (0,62)  4,18  1,00 
P23  Keratin type II cytoskeletal 1 KRT1  55,74  1,62 (0,06)  0,38 (0,06)  2,08 (0,14)  4,22  1,00 
P24  POTE ankyrin domain family member F POTEF  101,00  1,47 (0,07)  0,53 (0,07)  1,49 (0,14)  2,80  1,00 
P25  Putative beta‐actin‐like protein 3 POTEKP  101,00  1,47 (0,09)  0,53 (0,09)  1,47 (0,16)  2,77  1,00 
P26  RNA‐binding protein 25 RBM25  29,17  1,57 (0,12)  0,43 (0,12)  1,86 (0,25)  3,63  1,00 
P27  Splicing Regulatory glutamine/Lysine‐rich protein 1 SREK1  79,89  1,41 (0,26)  0,59 (0,26)  1,28 (0,48)  2,44  1,00 
P28  Tetratricopeptide repeat protein 37 TTC37  443,53  1,45 (0,21)  0,55 (0,21)  1,44 (0,42)  2,72  1,00 
  Tetratricopeptide repeat protein 37 TTC37  449,05  1,46 (0,18)  0,54 (0,18)  1,47 (0,36)  2,77  1,00 
P29  Triosephosphate isomerase TPI1  475,34  1,39 (0,25)  0,61 (0,25)  1,23 (0,41)  2,34  0,97 
  Triosephosphate isomerase TPI1  475,34  1,41 (0,22)  0,59 (0,22)  1,28 (0,40)  2,44  0,97 
  Triosephosphate isomerase TPI1  576,90  1,43 (0,19)  0,57 (0,19)  1,34 (0,37)  2,53  1,00 
a

p‐valor corrigido pelo false discovery rate.

As principais funções biológicas dessas proteínas estão dispostas na tabela 2. A figura 1 representa a interação entre as 29 proteínas e suas funções biológicas. As proteínas ACTG1, ALB, SERPINA1, HBD, ALDOA e FGG mostraram‐se coparticipantes em diferentes processos biológicos, como consumo de oxigênio, glicólise, gliconeogênese e transporte celular, sugerindo aumento da atividade metabólica da pele com melasma.

Tabela 2.

Principais vias funcionais envolvidas com as 29 proteínas identificadas como diferenciais entre melasma e pele perilesional

Funções  Proteínas envolvidas  n (%)  FDRa 
1. Glicólise canônica  p16, p29  2 (7)  < 0,0001 
2. Gluconeogênese  p16, p29  2 (7)  < 0,0001 
3. Fibrinólise  p8, p15, p23  2 (10)  < 0,0001 
4. Degranulação plaquetária  p2, p5, p6, p15, p16  5 (17)  < 0,0001 
5. Regulação de fluídos corporais  p2, p5, p6, p8, p15, p16, p21, p22, p23  8 (28)  < 0,0001 
6. Transporte de oxigênio  p7, p19, p20, p21  4 (14)  < 0,0001 
7. Transporte mediado por vesículas  p2, p5, p6, p10, p14, p15, p16, p19, p20  9 (31)  < 0,0001 
8. Ativação plaquetária  p5, p6, p15, p16  4 (14)  < 0,0001 
9. Regulação positiva da adesão celular  p15  1 (3)  0,0001 
10. Hemostasia  p2, p5, p6, p15, p16, p21  6 (20)  0,0001 
11. Agregação plaquetária  p2, p15  2 (7)  0,0002 
12. Ativação do plasminogênio  p15  1 (3)  0,0003 
13. Transporte de organismo único  p2, p5, p6, p7, p8, p10, p11, p12, p14, p15, p16, p19, p20, p21  14 (48)  0,0004 
14. Coagulação sanguínea  p2, p5, p6, p15, p16, p21  6 (21)  0,0008 
15. Síntese de translesão propensa a erros  p13  1 (3)  0,0010 
16. Cascata de ativação de proteínas  p15, p23  2 (7)  0,0014 
17. Homeostase da retina  p2, p5, p23, p24  4 (14)  0,0015 
18. Regulação negativa de resposta a trauma  p8, p10, p15  3 (10)  0,0015 
19. Regulação positiva da exocitose  p14, p15  2 (7)  0,0016 
20. Regulação da exocitose  p10, p14, p15  3 (10)  0,0017 
21. Regulação negativa do processo endotelial de apoptose celular  p15  1 (3)  0,0022 
22. Coagulação sanguínea, formação de coágulo de fibrina  p15  1 (3)  0,0024 
23. Regulação negativa da via de sinalização da apoptose extrínseca por meio da morte de receptores de domínio  p15  1 (3)  0,0024 
24. Transporte  p2, p4, p5, p6, p7, p10, p11, p12, p15, p16, p19, p20, p21  13 (45)  0,0029 
25. Processo metabólico do ácido monocarboxílico  p5, p16, p29  3 (10)  0,0030 
26. Regulação da disseminação de células dependentes da adesão  p15  1 (3)  0,0033 
27. Cicatrização de feridas  p2, p5, p6, p15, p16, p21  6 (20)  0,0035 
28. Transporte de bicarbonato  p11, p19, p20  3 (10)  0,0044 
29. Regulação positiva da vasoconstrição  p15  1 (3)  0,0044 
30. Resposta ao íon cálcio  p2  1 (3)  0,0075 
31. Regulação do transporte por vesículas  p8, p10, p14, p15  4 (14)  0,0083 
32. Secreção  p5, p6, p8, p15, p16  5 (17)  0,0092 
33. Regulação negativa a estímulos externos  p8, p10, p15  3 (10)  0,0098 
34. Resposta ao estresse  p2, p5, p6, p13, p16, p19, p20, p21, p23  9 (31)  0,0100 
a

False discovery rate estimado de acordo com o número de proteínas esperadas para a função.

Figura 1.

Mapa térmico e dendrogramas entre proteínas identificadas (linhas) e funções biológicas (colunas). Destaques em verde: agrupamento de proteínas com padrão de ocorrência semelhante de acordo com as funções que exercem; e em vermelho: as funções com padrão de expressão semelhante, de acordo com as proteínas indicadas.

(0,36MB).

Exofilina‐5 (EXPH5) é ligada ao transporte de vesículas intracelulares. Foi super‐regulada (M/S = 8,94) no melasma, o que pode decorrer da intensa transferência epidérmica de melanossomas.1 Treze das proteínas diferencialmente identificadas no melasma foram ligadas a fenômenos de transporte intracelular, que compreendem uma série de processos que vão da endocitose à autofagia e diversas formas de exocitose. Como autofagia e senescência são fenômenos relacionados à melanogênese, a caracterização das vesículas de transporte no epitélio com melasma pode se revelar importante na fisiopatologia do melasma.5,6

Citoqueratinas (como KRT1) são constituintes estruturais dos queratinócitos induzidas em resposta ao estresse oxidativo. Foram identificadas em maior razão no melasma (M/S > 4,10). A hemoglobina‐δ (mas não as demais subunidades) apresentou elevada razão (M/S = 33,12) no melasma, e, além do transporte de oxigênio, sua expressão não eritrocítica ocorre em situações de estresse celular.7 Da mesma maneira, o aumento da regulação de alfa 1 antitripsina (SERPINA1) e actina gama‐1 (ACTG1) também é verificado em condições de estresse tecidual.8,9 As maiores expressões de HBD, ACTG1, SERPINA1 e KRT1 no melasma podem decorrer do estresse oxidativo sustentado pela atividade das triptases mastocitárias e do fenótipo secretório de fibroblastos da derme superior.3,6

Anidrase carbônica (CA1) acidifica o meio extracelular da derme, favorecendo o processo de reparo, sendo sub‐regulada (M/S < 0,33) no melasma.10 Senescência dos fibroblastos dérmicos, associada à atividade de MMP1 e MMP9, promovem um microambiente proinflamatório com degradação da matriz extracelular e da zona de membrana basal, cujo déficit de reparo pode ser fator de manutenção da melanogênese.1,6

Androglobina (ADGB) tem função regulatória da cisteína‐endopeptidase, e é identificada em razão menor (M/S < 0,33) no melasma. As endopeptidases participam da degradação dos melanossomas na epiderme, notavelmente reduzidas no melasma.

As proteínas de ancoragem alfa‐quinase (ANCHOR9, ANCHOR13) e a subunidade z‐catalítica da DNA polimerase (REV3L) apresentaram um desbalanço na pele com melasma. Elas são importantes na regulação da proteína quinase‐A e na via p38‐MAP‐quinase, envolvidas na ativação da proteína CREB, que levam à expressão de MTIF, promotora da melanogênese.3

Aldolase‐A (ALDOA) tem função glicolítica e está associada à atividade dos mastócitos, que, na derme superficial promovem alterações na membrana basal, elastose solar e dilatação endotelial, reforçando a ideia de que estímulos originários na derme desempenhem um papel central na melanogênese do melasma.2,3

O fibrinogênio‐γ (FFG) é uma proteína que compõe a matriz extracelular e interage em várias funções biológicas, incluindo fibrinólise, ativação do fibrinogênio e ativação da via ERK, promotora da melanogênese.

As principais limitações do estudo se referem às proteínas transmembranas, séricas e conjugadas com lipídeos que não são identificadas pelo método. Contudo, aponta de maneira consistente uma série de proteínas cujo papel fisiopatológico e potencial manipulação terapêutica devem ser explorados em em ensaios específicos.

Concluindo, identificamos 29 proteínas diferencialmente reguladas no melasma, envolvidas com metabolismo energético, fenômenos de transporte celular, regulação de vias da melanogênese, hemostasia/coagulação, reparo/cicatrização e resposta ao estresse oxidativo. Isso subsidia a pesquisa de estratégias terapêuticas voltadas às proteínas identificadas e suas funções, e evidencia que o melasma não depende exclusivamente da hiperfunção dos melanócitos, mas de alterações funcionais envolvendo a unidade epidermo‐melânica, zona da membrana basal e derme superior.

Suporte financeiro

FUNADERSP (048/2016).

Contribuição dos autores

Luiza Vasconcelos Schaefer: Concepção e planejamento do estudo; Elaboração e redação do manuscrito; Obtenção, análise e interpretação dos dados; Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; Revisão crítica da literatura.

Leticia Gomes de Pontes: Obtenção, análise e interpretação dos dados.

Nayara Rodrigues Vieira Cavassan: Obtenção, análise e interpretação dos dados.

Lucilene Delazari dos Santos: Revisão crítica da literatura; Revisão crítica do manuscrito; Obtenção, análise e interpretação dos dados.

Hélio Amante Miot: Revisão crítica da literatura; Revisão crítica do manuscrito; Análise estatística; Aprovação da versão final do manuscrito; Concepção e planejamento do estudo.

Conflito de interesses

Nenhum.

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Como citar este artigo: Schaefer LV, Pontes LG, Cavassan NRV, Santos LD, Miot HÁ. Proteomic study of facial melasma. An Bras Dermatol. 2022;97:808–14.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia, FMB‐UNESP, Botucatu, SP, Brasil e no Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP), UNESP, Botucatu, SP, Brasil.

Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
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