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Vol. 99. Núm. 2.
Páginas 315-318 (01 Março 2024)
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Vol. 99. Núm. 2.
Páginas 315-318 (01 Março 2024)
Carta ‐ Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
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Extensa tinea capitis micropustular por Trichophyton verrucosum em adulto com evolução para kerion celsi
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Hiram Larangeira de Almeida Jra,
Autor para correspondência
hiramalmeidajr@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Luiz Roberto Kramer Costab, Augusto Scott da Rochac
a Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
b Setor de Micologia, Laboratório Ary Costa, Pelotas, RS, Brasil
c Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
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Prezado Editor,

Tinea capitis é infecção fúngica que afeta preferencialmente crianças em idade escolar e pode apresentar diferentes graus de inflamação; o tipo inflamatório conhecido como kerion celsi é o mais grave de todos. Dentre os agentes etiológicos causadores dessa infecção, Trichophyton verrucosum é dermatófito ectotrix zoofílico, comumente encontrado em bovinos (principalmente em bovinos jovens), mas raramente associado a casos de tinea capitis em humanos – especialmente em indivíduos adultos.1

A infecção por T. verrucosum é transmitida quase invariavelmente pelo contato com bovinos infectados. Apesar do grande rebanho de bovinos no país e de relatos de infecção desses animais pelo dermatófito em questão, no Brasil há poucos relatos de tinea capitis em humanos por T. verrucosum, de modo que a maioria da casuística humana relatada advém da Europa e Ásia.

Examinamos um paciente de 64 anos, imunocompetente, com atividade rural, que iniciou com pústulas foliculares na região têmporo‐occipital, as quais se estenderam por quase todo o couro cabeludo (fig. 1A). Em dois exames microbiológicos, não foram encontradas hifas – somente cocos, com culturas bacterianas e fúngicas negativas. O paciente estava com cobertura antibiótica (clindamicina e ceftriaxone), sem resposta. Após 10 dias, apareceram lesões sugestivas de kerion celsi na área inicial (fig. 1B). Um terceiro exame micológico direto demonstrou hifas (fig. 2A), e a cultura identificou T. verrucosum (fig. 2B), com colônias ocres, que cresceram a 37°C; microscopicamente, foram identificados os característicos clamidoconídios arredondados em linha (fig. 2C). Foi realizada microscopia eletrônica de varredura de uma colônia e também foram identificados clamidoconídios em cadeia com essa técnica (fig. 3).

Figura 1.

(A) Aspecto clínico com pústulas foliculares. (B) Área levemente vegetante com pústulas e crosta.

(0,56MB).
Figura 2.

(A) Micológico direto com hifas. (B) Exame cultural com colônias ocres. (C) Aspecto microscópico da cultura com hifas e clamidoconídios arredondados em linha (setas).

(0,33MB).
Figura 3.

Microscopia eletrônica de varredura. (A) Pequeno aumento demonstrando filamentos (250×). (B) Médio aumento com clamidoconídios arredondados (setas; 1.400×). (C e D) Detalhe em grande aumento dos clamidoconídios (4.500× e 7.000×).

(1,25MB).

Foi instituída a terapia com terbinafina 250mg/dia, por cinco semanas, com resolução do quadro, ficando com eritema e alopecia residuais (fig. 4).

Figura 4.

Aspecto clínico após a terapêutica. com eritema residual (A); com alopecia residual (B).

(0,59MB).

No Brasil existem raros relatos desse agente, mais no Nordeste, com 7,55% dos casos em uma publicação com 82 pacientes com tinea capitis. Nessa casuística, 80% dos casos ocorreram antes dos 20 anos.2 Em publicação de Manaus/AM, com 115 casos de tinea capitis, não foi identificado T. verrucosum.3 Em casuística de Botucatu/SP com 364 exames culturais positivos de tinea capitis, também não foi encontrado T. verrucosum.4 Na região central do Rio Grande do Sul há relato de prevalência média desse agente em cerca de 1,4% dos casos de tinea capitis.5 O laboratório de referência em micologia na região do sul do Rio Grande do Sul teve apenas três casos em 60 anos, incluindo o aqui relatado, demonstrando a raridade do agente etiológico.6

Na zona rural da Etiópia, o percentual de casos por T. verrucosum é bem maior, chegando a quase 30%,7 em discrepância de informações de outras partes do mundo, de onde há relatos esporádicos.8,9

Uma pesquisa com 313 bovinos, também da região do caso aqui relatado, identificou T. verrucosum em 95,8% dos bovinos com lesões sugestivas de dermatofitose, demonstrando sua relevância veterinária. Esse trabalho identificou o agente em dois animais (1,2%) com pele normal. Chama a atenção o predomínio em animais com menos de 6 meses, e assim como a tinea capitis humana, é rara em adultos. Essa alta prevalência em animais sugere infectividade baixa do agente em humanos. Cura espontânea é relatada, considerando a dificuldade de o agente se desenvolver no hospedeiro não ideal.6

Há relatos da dificuldade em identificar o agente,8 como aconteceu neste caso. Deve‐se salientar seu crescimento lento e em temperatura mais alta que outros dermatófitos, devendo ser cultivado em estufa e não em temperatura ambiente.1,6

Essa afecção pode ser considerada dermatose ocupacional.8,10

Este caso é peculiar pela faixa etária do paciente, pela apresentação clínica inicial com micropústulas e pela raridade do agente etiológico.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Hiram Larangeira de Almeida Jr.: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Luiz Roberto Kramer Costa: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Augusto Scott da Rocha: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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E.S. Silveira, M.O. Nobre, L.L. Souza, R.O. Faria, M.B. Cleff, M.C.A. Meireles.
Trichophyton verrucosum in bovine with skin healthy and with lesions.
Acta Scientiae Veterinariae., 31 (2018), pp. 45-49
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P.M.L.P. Aquino, E.O. Lima, N.M.P. Farias.
Tinea Capitis in João Pessoa: a social and economic view.
An Bras Dermatol., 78 (2003), pp. 713-717
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M.S.S. Furtado, L.T. Ihara, M.F. Maroja.
Tinea capitis in the city of Manaus – AM.
An Bras Dermatol, 60 (1985), pp. 315-318
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S.A. Marques, R.M.P. Camargo, A.H.G. Fares, R.M. Takashi, H.O. Stolf.
Tinea capitis: epidemiological and ecological aspects of cases observed from 1983 to 2003 in the Botucatu Medical School, state of São Paulo‐Brazil.
An Bras Dermatol, 80 (2005), pp. 597-602
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A.T. Londero, C.D. Ramos.
Human dermatophytosis agents in the hinterland of the state of Rio Grande do Sul ‐ Brazil, 1960‐1987.
An Bras Dermatol., 64 (1989), pp. 161-164
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L.R.K. Costa.
Trychophyton verrucosum em parasitismo humano.
An Bras Dermatol, 44 (1969), pp. 39-42
[7]
R. Pérez-Tanoira, I. Marín, L. Berbegal, L. Prieto-Pérez, G. Tisiano, J. Cuadros, et al.
Mycological profile of tinea capitis in schoolchildren in rural southern Ethiopia.
Med Mycol., 55 (2017), pp. 262-268
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U. Schumny, C. Wiegand, U.C. Hipler, S. Darr-Foit, M. Peckruhn, S. Uhrlaß, et al.
Occupational Trichophyton verrucosum infection in a cattle farmer.
Hautarzt., 71 (2020), pp. 899-902
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M.M. Maslen.
Human cases of cattle ringworm due to Trichophyton verrucosum in Victoria, Australia.
Australas J Dermatol., 41 (2000), pp. 90-94
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P.X. Ming, Y.L. Ti, G.S. Bulmer.
Outbreak of Trichophyton verrucosum in China transmitted from cows to humans.
Mycopathologia., 161 (2006), pp. 225-228

Como citar este artigo: Almeida Jr HL, Kramer Costa LR, Scott da Rocha A. Extensive micropustular Tinea capitis in an adult caused by Trichophyton verrucosum with evolution to kerion celsi. An Bras Dermatol. 2024;99:315–8.

Trabalho realizado na Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.

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