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Vol. 97. Núm. 3.
Páginas 406-407 (Maio - Junho 2022)
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Páginas 406-407 (Maio - Junho 2022)
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Interpretações sobre o sexo na epidemiologia do melanoma cutâneo
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Anna Carolina Miola, Juliano Vilaverde Schmitt, Hélio Amante Miot
Departamento de Dermatologia e Radioterapia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Em virtude da relevância do melanoma cutâneo para o sistema de saúde, e da carência de grandes séries de casos com seguimento longitudinal em amostras da população brasileira, lemos com interesse o artigo de Castro e Souza et al.,1 que apresentou diferentes sobrevidas quanto ao sexo no seguimento de cinco anos de 221 pacientes. Além de parabenizar os autores, gostaríamos de propor algumas reflexões quanto à interpretação dos resultados.

Há evidências consistentes do aumento de diagnósticos de melanoma em todo o mundo nas últimas décadas; paralelamente, há intensa discussão sobre fatores associados a esse fenômeno, como o envelhecimento populacional, o aumento à exposição solar no lazer, o uso de imunossupressores, maior esclarecimento da população, maior acesso ao sistema de saúde e, ainda, maiores acurácias diagnósticas dos dermatologistas e patologistas. Apesar disso, a mortalidade específica na população não apresentou sinais de declínio, aludindo ainda à possibilidade de sobrediagnóstico.2,3

Sobrevidas mais breves em homens com melanoma foram identificadas também em outros países; entretanto, o comportamento biológico tumoral face às diferenças hormonais, como argumentado pelos autores, pode não justificar completamente esse fato, especialmente porque a maior divergência de mortalidade entre os sexos ocorre na terceira idade, quando hormônios sexuais são menos ativos.2,4

Consideramos relevante discutir que todas as doenças apresentam dimensões biológicas, ambientais e socioculturais. No Brasil, mulheres apresentam expectativa de vida 9,6% maior que homens (2019: 80,1 vs. 73,1 anos), sofrem menos internações hospitalares (excetuando as obstétricas) e apresentam maior percepção nos cuidados com a própria saúde, como adesão à vacinação, exames periódicos e consultas ambulatoriais de rotina. Nesse sentido, aspectos comportamentais ligados à masculinidade devem ser considerados possíveis determinantes do retardo no diagnóstico do melanoma, contribuindo com seu pior prognóstico.

Para corroborar essa hipótese, reanalisamos os dados de Castro e Souza et al. quanto aos níveis de Clark e Breslow – considerando ordinais tais variáveis. Ao analisá‐las pelo teste do Qui‐Quadrado de tendência, que considera a influência do efeito pela ordenação das variáveis,5 evidenciamos que mulheres apresentam melhores índices histológicos (p <0,017) ao diagnóstico dos casos invasivos (fig. 1).

Figura 1.

Porcentagem de casos de melanoma cutâneo de acordo com o sexo (M, masculino; F, feminino) e nível de invasão histológica. A, Nível anatômico de Clark (n = 267). B, Índice de Breslow em mm (n = 265). Dados extraídos de Castro e Souza et al.1

Desse modo, os resultados de Castro e Souza et al. devem ser vislumbrados sob a óptica das prevenções primária e secundária, no intuito de substanciar políticas que promovam diagnósticos precoces, especialmente em grupos de maior risco e mortalidade, como homens e idosos, pois a pior sobrevida do melanoma em homens pode refletir também o determinante sociocultural ligado ao sexo, levando a diagnósticos tardios em grupos menos conscientes sobre a importância da doença.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Anna Carolina Miola: Concepção e planejamento do estudo; análise estatística; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Juliano Vilaverde Schmitt: Concepção e planejamento do estudo; análise estatística; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Hélio Amante Miot: Concepção e planejamento do estudo; análise estatística; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
B. Castro e Souza, D.H.M. Silva, N.Y.S. Valente, P. Kakizaki, M.C.A. Luce, L.G. Bandeira.
Cutaneous melanoma: a retrospective study of 18 years.
Are there gender differences?. An Bras Dermatol., 96 (2021), pp. 619-623
[2]
G.N. Marta, R.R. Munhoz, M.P. Teixeira, B.C. Waldvogel, V.P. Camargo, O. Feher, et al.
Trends in Melanoma Mortality in Brazil: A Registry‐Based Study.
JCO Glob Oncol., 6 (2020), pp. 1766-1771
[3]
A. Jemal, M. Saraiya, P. Patel, S.S. Cherala, J. Barnholtz-Sloan, J. Kim, et al.
Recent trends in cutaneous melanoma incidence and death rates in the United States, 1992‐2006.
J Am Acad Dermatol., 65 (2011), pp. S17-S25
[4]
M.A. El Sharouni, A.J. Witkamp, V. Sigurdsson, P.J. Diest, M.W.J. Louwman, N.A. Kukutsch.
Sex matters: men with melanoma have a worse prognosis than women.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 33 (2019), pp. 2062-2067
[5]
H.A. Miot.
Analysis of ordinal data in clinical and experimental studies.
J Vasc Bras., 19 (2020), pp. e20200185

Como citar este artigo: Miola AC, Schmitt JV, Miot HA. Interpretations about gender in the epidemiology of cutaneous melanoma. An Bras Dermatol. 2022;97:406–7.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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