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Vol. 100. Núm. 5.
(setembro - outubro 2025)
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Perfil clínico‐demográfico, fatores agravantes, comorbidades e qualidade de vida em pacientes com rosácea: estudo multicêntrico brasileiro (GBPER: Grupo Brasileiro de Pesquisas e Estudos em Rosácea)
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Renan Rangel Bonamigoa,b,
, Paula Bareac, Juliano Peruzzoa,c, Juliana Bozaa,c, Hélio Amante Miotd, Edileia Bagatine, Luiz Maurício Costa Almeidaf, Giovanni Indelicato Milanof, Carla Wanderley Gayoso de Limag, Linácia Freitas Vidalg, Fabíola Rosa Picossee, Bruna Manuella de Figueiredo Afonsoe, Clivia Maria Moraes de Oliveirah
a Serviço de Dermatologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
b Serviço de Dermatologia, Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
c Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
d Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
e Departamento de Dermatologia, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
f Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG, Brasil
g Departamento de Promoção da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil
h Departamento de Dermatologia, Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil
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Tabelas (5)
Tabela 1. Principais características demográficas dos participantes com rosácea (n=258)
Tabelas
Tabela 2. Avaliação clínica da rosácea através do Investigator Global Assessment of Rosacea Severity Score (IGA‐RSS) e Rosacea Clinical Scorecard (RCS) (n=258)
Tabelas
Tabela 3. Qualidade de vida nos participantes com rosácea, segundo o instrumento RosaQoL, autopercepção da gravidade da rosácea, e autopercepção da qualidade de vida infligida pela doença (n=258)
Tabelas
Tabela 4. Fatores agravantes referidos pelos participantes com rosácea (n=258)
Tabelas
Tabela 5. Relatos de comorbidades referidos pelos participantes da pesquisa (n=258)
Tabelas
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Resumo
Fundamentos

Rosácea é a dermatose vásculo‐inflamatória crônica mais prevalente da face. Sua patogênese compreende fatores genéticos, ambientais, alterações neurovasculares e imunidade inata. Muitos fatores desencadeantes e agravantes, assim como comorbidades sistêmicas foram associadas à doença, mas há poucos estudos sobre sua epidemiologia no Brasil.

Objetivos

Descrever o perfil de pacientes com rosácea atendidos em centros de referência, bem como investigar a presença de comorbidades, aspectos alimentares, fatores de piora e qualidade de vida.

Métodos

Estudo transversal e multicêntrico brasileiro. Foram avaliados dados clínico‐demográficos, gravidade da doença, fatores desencadeantes e/ou agravantes, dieta, comorbidades e impacto na qualidade de vida.

Resultados

Foram incluídos 258 pacientes, predominando mulheres, entre 35 e 65 anos e os fototipos III, IV e II. O quadro clínico variou de leve a moderado em 89% dos casos e a qualidade de vida foi razoavelmente a pouco afetada em 58% dos casos. Fatores agravantes da rosácea foram referidos por 96% dos pacientes, sendo exposições climáticas, bebidas alcoólicas e alterações emocionais os mais frequentes. Entre os alimentos mencionados como agravantes (28%), pimenta, outros condimentos e bebidas quentes foram os mais referidos. Comorbidades foram relatadas por 89% dos participantes, com destaque para as doenças endócrinas (48%), psiquiátricas (35%), cardiovasculares (31%) e gastrintestinais (28%).

Limitações do estudo

Estudo não controlado, incluindo pacientes sob tratamento dermatológico.

Conclusões

Este estudo permitiu estabelecer que o perfil do paciente brasileiro com rosácea corrobora com o descrito na literatura, no qual é relevante a presença da doença em fototipos mais altos. Pimenta e outros condimentos e bebidas quentes foram agravantes importantes, e a presença de comorbidades variadas foi referida pela maioria dos pacientes.

Palavras‐chave:
Classificação
Dermatoses faciais
Epidemiologia
Erupções acneiformes
Rosácea
Texto Completo
Fundamentos

Rosácea é dermatose inflamatória crônica da pele, que afeta principalmente regiões centrais da face (malares, nariz, olhos, mento e fronte). Acomete preferencialmente mulheres, de pele clara, entre 20 e 50 anos, ainda que crianças possam ser afetadas.1 A prevalência da doença difere entre os países pesquisados e de acordo com as composições étnicas, variando de 1% a mais de 20% dos adultos.2–4 No Brasil não há estudos de base populacional; uma pesquisa recente realizada em 13 ambulatórios de Dermatologia estimou prevalência de 13%, entre pacientes adultos dermatológicos.5 Apesar de mais comum entre mulheres, os homens evoluem mais frequentemente para formas mais graves da doença, especialmente os fimas.6

Clinicamente, caracteriza‐ se por eritema facial persistente com ou sem edema, pápulas, pústulas, episódios recorrentes de eritema transitório (flushing), telangiectasias e fimas.1,7 Acredita‐se que metade dos pacientes apresente comprometimento ocular, porém as queixas oftalmológicas são frequentemente subestimadas.8

O diagnóstico da rosácea é clínico, não demandando exames laboratoriais. O exame anatomopatológico eventualmente pode ser útil para afastar outras doenças. Diversos sistemas diagnósticos foram propostos; contudo, o mais utilizado é a proposta do painel Global Rosacea Consensus (ROSCO), com critérios estabelecidos com base no fenótipo da doença.9–12

Rosácea afeta negativamente a qualidade de vida em função da sua cronicidade, sintomas irritativos, evolução em surtos e por afetar a face. Pode ser causa de constrangimento, ansiedade, baixa autoestima, prejuízo nas relações profissionais e até dificuldade de emprego.13–15

Sua patogênese é complexa e ainda não completamente compreendida, incluindo predisposição genética e outros fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados ao fenótipo da doença.16 A participação dos microbiomas cutâneos (p. ex., maior colonização pelo ácaro Demodex sp.) e gastrintestinal ganharam importância recente.17 A associação da dieta com a rosácea é controversa; alguns alimentos podem causar exacerbação ou possível proteção por meio da regulação do microbioma intestinal.18,19

Há desregulação neurovascular que pode estar relacionada à ocorrência do flushing. Mediadores sugeridos como marcadores desse mecanismo incluem o fator de crescimento vascular endotelial ou (VEGF, do inglês vascular endothelial growth factor) e o CD 31.20 A radiação ultravioleta (RUV) pode induzir o aumento do VEGF cutâneo, exacerbando a rosácea.21

A participação da imunidade inata é evidenciada pela maior expressão do peptídeo antimicrobiano (AMP, do inglês antimicrobial peptide), da família das catelicidinas, do 37‐amino‐acid peptide (LL‐37), a enzima que o ativa – uma serina‐protease da família das calicreínas – produzida pelos queratinócitos, e do receptor Toll‐Like‐2 (TRL‐2) nas lesões cutâneas.10,20–26

Ademais, a pele da face em pacientes com rosácea é muito sensível, com alterações da barreira cutânea que favorecem a inflamação.27,28

Diversos fatores são referidos como desencadeantes ou exacerbadores da rosácea, como estresse, climas quente ou frio, vento, radiação solar, ingestão de bebidas quentes, bebidas alcoólicas, chá, café, comidas apimentadas e fumo.29

A rosácea tem sido associada a diversas comorbidades sistêmicas: neurológicas, psiquiátricas, gastrintestinais e cardiovasculares.29,30 Sua associação com síndrome metabólica pode ser resultante do aumento das catelicidinas, citocinas pró‐inflamatórias e estresse oxidativo sistêmico.31

Apesar da relevância, não existem dados brasileiros amplos sobre diferentes aspectos do perfil dos pacientes com rosácea. Os raros estudos incluem poucas variáveis; tampouco, há publicações com investigação de comorbidades associadas, hábitos alimentares e o impacto dessa doença na qualidade de vida.5,32

Este estudo objetivou descrever o perfil clínico e demográfico de pacientes com rosácea, assim como investigar comorbidades, hábitos alimentares, percepção de fatores de piora e o impacto da doença na qualidade de vida, em amostras provindas de diferentes regiões do Brasil.

Métodos

Estudo transversal, descritivo, multicêntrico, realizado nos Serviços de Dermatologia (todos credenciados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia), pelo Grupo Brasileiro de Pesquisas e Estudos em Rosácea, das seguintes instituições do Brasil: Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Hospital de Clínicas de Porto Alegre; Universidade Federal de São Paulo; Faculdade de Medicina da Univesidade Estadual Paulista; Santa Casa de Belo Horizonte, Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Pará, entre março de 2022 e setembro de 2023. A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética e Pesquisa de cada centro.

Os critérios de inclusão foram: pacientes adultos com diagnóstico de rosácea realizado por dermatologistas titulados. O critério de exclusão utilizado foi a presença de outras dermatoses da face (que não a rosácea) que impediam uma correta avaliação clínica no momento da consulta.

Os cálculos para definição do tamanho da amostra foram realizados com o programa WINPEPI 11.65®. Para estimar a frequência de comorbidades de 80% em pacientes com rosácea, com margem de erro de 5 pontos percentuais (diferença aceitável=0,05) e nível de confiança de 95%, eram necessários 246 participantes no estudo.

Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os participantes responderam aos instrumentos de coleta de dados: questionário de dados clínicos, incluindo o índice de massa corporal (IMC), demográficos e de comorbidades, questionário sobre fatores agravantes da rosácea, questionário alimentar com foco nos fatores desencadeantes da rosácea e questionário de qualidade de vida traduzido e validado para o português do Brasil (RosaQol‐BR).33

O RosaQol‐BR é composto por 21 questões relacionadas a três domínios, que explicam a maneira como a rosácea afeta a qualidade de vida dos pacientes e se relacionam com a gravidade reportada pelos pacientes: sintomas, emoção e função. O resultado é baseado na média das respostas (“nunca – 1”, “raramente – 2”, “às vezes – 3”, “frequentemente – 4” ou “sempre – 5”) relacionadas a cada domínio, além da avaliação global. O escore final de cada domínio pode variar, portanto, de 1 a 5, e o valor final é o somatório das médias de cada pergunta.33 O questionário RosaQol‐BR é de autopreenchimento.

Todos os participantes foram classificados conforme as características e gravidade da rosácea por meio do Escore da Gravidade da Rosácea pela Avaliação Global do Investigador (IGA‐RSS, do inglês Investigator Global Assessment of Rosacea Severity Score), com os seguintes parâmetros: IGA‐0: aAusente (rosácea quase ausente – ausência de pápulas e/ou pústulas, eritema ausente ou residual, grau leve de telangiectasias pode estar presente), IGA‐1: mínima (raras pápulas ou pústulas, eritema residual e telangiectasias podem estar presentes), IGA‐2: leve (algumas pápulas e/ou pústulas, leve eritema e graus leve ou moderado de telangiectasias), IGA‐3: leve a moderada (número distinto de pápulas e/ou pústulas, eritema e telangiectasias de graus leve a moderado), IGA‐4: moderada (número pronunciado de pápulas e pústulas, eritema e grau moderado de telangiectasias), IGA‐5: moderada a grave (muitas pápulas e/ou pústulas, ocasionalmente com grandes lesões inflamatórias, moderado eritema e grau moderado de telangiectasias), IGA‐6: grave (numerosas pápulas e pústulas, ocasionalmente com áreas de inflamação confluentes, eritema e grau grave de telangiectasias).34

A avaliação clínica da rosácea, a partir do Escore Clínico da Rosácea (RCS, do inglês Rosacea Clinical Scorecard), inclui a sua classificação em ausente, leve, moderada ou grave por meio das características primárias (flushing, eritema persistente, pápulas e pústulas, telangiectasias), características secundárias (queimação ou ardência, placas, aparência ressecada, edema, manifestação ocular, manifestação periférica, alterações fimatosas ou granulomatosas) e a classificação “ausente”, “leve”, “moderado” ou “grave” para os subtipos: eritematotelangiectásica, papulopustulosa, fimatosa, ocular e avaliação global.35

Para análise estatística foram utilizados a descrição das variáveis numéricas, com média e desvio padrão e, para os dados categóricos, o valor absoluto e o cálculo do percentual em relação ao total da amostra. A consistência interna do questionário RosaQoL foi avaliada pelo coeficiente alfa de Cronbach, considerando‐se adequado se> 0,8.

Resultados

Foram avaliados 258 pacientes com diagnóstico de rosácea; os principais dados demográficos estão dispostos na tabela 1. Houve predomínio de participantes do sexo feminino (2,3 vezes), da faixa etária entre 35 e 65 anos, com fototipos II a IV (95%), com sobrepeso e obesidade (67,3%), de ascendência europeia (83%) e com histórico familiar de rosácea (32%).

Tabela 1.

Principais características demográficas dos participantes com rosácea (n=258)

Variáveis  Valores 
Idade (anos)a  51,3±14,4 
Índice de massa corporal (kg/m2)a  26,9±5,7 
Sobrepeso (IMC> 25 <30 kg/m2)b  100 (39,21%) 
Obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2)b  72 (27,9%) 
Tempo para o diagnóstico (anos)a  8,0±8,6 
Tempo total de doença (anos)a  11,1±9,2 
Sexob
Feminino  179 (69,4%) 
Masculino  79 (30,6%) 
Fototipob
7 (2,7%) 
II  61 (23,7%) 
III  119 (46,3%) 
IV  66 (25,7%) 
4 (1,6%) 
Ascendência autorreferidab
Europeia  215 (83,3%) 
Afro‐americana  18 (7,0%) 
Oriental‐asiática  2 (0,8%) 
Indígena  23 (8,9%) 
Escolaridadeb
Não frequentou  4 (1,6%) 
Ensino infantil  25 (9,7%) 
Ensino fundamental  50 (19,4%) 
Ensino médio  61 (23,6%) 
Ensino superior  118 (45,7%) 
História familiar de rosáceab  83 (32,3%) 
Medicamentos em usob  185 (71,7%) 
Anti‐hipertensivos  80 (31,0%) 
Antidepressivos  50 (19,4%) 
Antidiabéticos  45 (17,4%) 
Hipolipemiantes  38 (14,8%) 
Levotiroxina  29 (11,3%) 
Anticoncepcionais orais  25 (9,7%) 
Inibidor de bomba de prótons  22 (8,6%) 
Antiagregantes plaquetários  10 (3,9%) 
Vasodilatadores  7 (2,7%) 
Outrosc  87 (47%) 
Tratamentos usados para rosáceab
Tópico  167 (64,7%) 
Ácido azelaico  82 (31,8%) 
Ivermectina  91 (35,3%) 
Metronidazol  87 (33,7%) 
Oral  78 (30,2%) 
Ciclinas  71 (27,5%) 
Isotretinoína  19 (7,4%) 
Laser/luz pulsada  55 (21,3%) 
a

Média e desvio padrão.

b

Valores absolutos e percentuais.

c

Medicamentos com menos de 2% de frequência.

Destaca‐se a alta prevalência do uso de anti‐hipertensivos (31%), antidepressivos (19%), antidiabéticos (17%) e hipolipemiantes (15%). O tempo de evolução da doença foi muito variável (de três meses a 45 anos, com média de 11 anos). Além de intervenções tópicas, 30% já haviam utilizado tratamentos orais como tetraciclinas e isotretinoína.

Segundo a escala IGA‐RSS, 83% dos casos apresentavam grau leve a moderado de rosácea. O escore clínico (RCS) identificou flushing em 84% dos casos, sensação de ardência em 69%, pápulas e pústulas em 73%, fimas em 22%, e formas oculares em 41%. Segundo a avaliação do paciente, 89% classificaram a atividade da doença como leve a moderada. Os demais elementos clínicos da amostra como a avaliação da gravidade da rosácea e características da rosácea avaliadas pelo investigador e pelos pacientes estão demonstrados na tabela 2.

Tabela 2.

Avaliação clínica da rosácea através do Investigator Global Assessment of Rosacea Severity Score (IGA‐RSS) e Rosacea Clinical Scorecard (RCS) (n=258)

Escores de avaliação clínica (investigador)  Categorias  n (%) 
IGA‐RSS73 (29,4%) 
97 (39,1%) 
45 (18,1%) 
25 (10,1%) 
7 (2,8%) 
1 (0,4%) 
RCS
FlushingAusente  42 (16,3%) 
Leve  100 (38,8%) 
Moderado  93 (36,0%) 
Intenso  23 (8,9%) 
EritemaAusente  67 (26%) 
Leve  122 (47,3%) 
Moderado  65 (25,2%) 
Intenso  4 (1,6%) 
Pápulas e pústulasAusente  91 (35,3%) 
Leve  121 (46,9%) 
Moderado  43 (16,7%) 
Intenso  3 (1,2%) 
TelangiectasiasAusente  34 (13,2%) 
Leve  146 (56,6%) 
Moderado  71 (27,5%) 
Intenso  7 (2,7%) 
Queimação ou ardênciaAusente  81 (31,4%) 
Leve  83 (32,2%) 
Moderado  73 (28,3%) 
Intenso  21 (8,1%) 
PlacasAusente  219 (84,9%) 
Leve  22 (8,5%) 
Moderado  14 (5,4%) 
Intenso  3 (1,2%) 
Aparência ressecadaAusente  148 (57,4%) 
Leve  68 (26,4%) 
Moderado  40 (15,5%) 
Intenso  2 (0,8%) 
EdemaAusente  224 (87,2%) 
Leve  26 (10,1%) 
Moderado  5 (1,9%) 
Intenso  2 (0,8%) 
OcularAusente  151 (58,5%) 
Leve  76 (29,5%) 
Moderado  24 (9,3%) 
Intenso  7 (2,7%) 
Periférica (extrafacial)Não  233 (90,7%) 
Cervical  12 (4,7%) 
Pré auricular  1 (0,4%) 
Dorso  1 (0,4%) 
Couro cabeludo  3 (1,2%) 
Tórax anterior/colo  7 (2,7%) 
Alterações fimatosasAusente  200 (77,5%) 
Leve  23 (8,9%) 
Moderado  27 (10,5%) 
Intenso  8 (3,1%) 
Alterações compatíveis com rosácea granulomatosaAusente  238 (92,2%) 
Leve  8 (3,1%) 
Moderado  11 (4,3%) 
Intenso  1 (0,4%) 
Eritêmato‐telangiectásicaAusente  14 (5,4%) 
Leve  146 (56,6%) 
Moderado  89 (34,5%) 
Intenso  9 (3,5%) 
PapulopustularAusente  96 (37,2%) 
Leve  119 (46,1%) 
Moderado  40 (15,5%) 
Intenso  3 (1,2%) 
FimatosaAusente  197 (76,4%) 
Leve  26 (10,1%) 
Moderado  27 (10,5%) 
Intenso  8 (3,1%) 
OcularAusente  157 (60,9%) 
Leve  70 (27,1%) 
Moderado  23 (8,9%) 
Intenso  8 (3,1%) 
Avaliação global do pacienteAusente  8 (3,1%) 
Leve  129 (50,0%) 
Moderado  100 (38,8%) 
Intenso  21 (8,1%) 

* Resultados apresentados em valores absolutos e percentuais.

Os resultados dos escores médios dos domínios medidos pelo RosaQoL (consistência interna definida pelo coeficiente alfa de Cronbach foi>0,8), autopercepção da gravidade da rosácea e autopercepção do impacto na qualidade de vida causado pela doença são apresentados na tabela 3. O domínio da qualidade de vida mais afetado foi o de sintomas. De maneira geral, 75% dos participantes consideraram a rosácea como boa e regular nas últimas quatro semanas, e 58% consideram que a rosácea interferia pouco ou razoavelmente na sua qualidade de vida.

Tabela 3.

Qualidade de vida nos participantes com rosácea, segundo o instrumento RosaQoL, autopercepção da gravidade da rosácea, e autopercepção da qualidade de vida infligida pela doença (n=258)

Variáveis  Valores 
Domíniosa
Sintoma  2,9±0,8 
Emoção  2,7±1,1 
Função  2,1±1,0 
Geral  2,6±0,8 
Como está sua rosácea nas últimas quatro semanas?b
Ruim  37 (14,5%) 
Regular  110 (43,3%) 
Boa  80 (31,3%) 
Muito boa  18 (7,0%) 
Excelente  11 (4,3%) 
Quanto sua rosácea influencia na sua qualidade de vida?b
Nada  48 (18,7%) 
Pouco  82 (31,9%) 
Razoavelmente  68 (26,5%) 
Muito  46 (17,9%) 
Muitíssimo  13 (5,1%) 
a

Resultados apresentados em média e desvio padrão.

b

e frequências absoluta e percentuais.

Fatores agravantes da rosácea foram indicados por 96% dos casos com predominância da exposição ambiental, das condições emocionais e do exercício físico. Os alimentos foram referidos como fator agravante por 72 (27,9%) dos participantes, sendo a pimenta e outros condimentos e as bebidas quentes os mais citados (tabela 4).

Tabela 4.

Fatores agravantes referidos pelos participantes com rosácea (n=258)

Fatoresa  Valores – n (%) 
Exposição solar  196 (76,0%) 
Alterações emocionais  169 (65,5%) 
Calor  160 (62,0%) 
Exercício físico  115 (44,6%) 
Álcool  110 (42,6%) 
Vento  66 (25,6%) 
Alimentos  72 (27,9%) 
Pimenta  39 (54,16%)b 
Outros condimentos  9 (12,5%)b 
Alimentos/bebidas quentes  6 (8,3%)b 
Derivados do leite  6 (8,3%)b 
Chocolate  6 (8,3%)b 
Café  5 (6,9%)b 
Vinho  4 (5,6%)b 
Gorduras/frituras  4 (5,6%)b 
Leite  4 (5,6%)b 
Açúcar  4 (5,6%)b 
Doces  3 (4,2%)b 
Embutidos‐conservantes  3 (4,2%)b 
Crustáceos  3 (4,2%)b 
Extrato de tomate/tomate  2 (2,8%)b 
Maionese  2 (2,8%)b 
Ketchup  2 (2,8%)b 
Gengibre  2 (2,8%)b 
Canela  2 (2,8%)b 
Outros  14 (19,4%)b 
Nenhum fator agravante citado  10 (3,9%) 
a

Pode haver mais de um fator para cada paciente.

b

Percentagem referente aos 72 casos que referiram agravo por alimento.

Determinados alimentos tradicionalmente reconhecidos como agravantes foram investigados quanto à frequência de consumo, e os seguintes eram consumidos diariamente pelos pacientes deste estudo: café quente (79,1%), leite e derivados (72,9%), tomate (54,3%), frutas cítricas (50,4%), gordura vegetal (44,5%), chocolate (19%), vinagre (11,6%), gengibre (7,4%) e pimenta (6,2%).

Tabagismo ativo foi relatado por 8% dos pacientes e etilismo por 5%. Comorbidades foram identificadas em 89,1% dos participantes (tabela 5), com destaque às doenças gastrintestinais, endocrinológicas, cardiovasculares e psiquiátricas.

Tabela 5.

Relatos de comorbidades referidos pelos participantes da pesquisa (n=258)

Comorbidades  n (%) 
Condição gastrintestinal  71 (27,5%) 
Doença de Crohn/RCU  6 (2,3%) 
Doença do refluxo gastroesofágico  32 (12,4%) 
Gastrite/úlcera gástrica  40 (15,5%) 
Pancreatite  1 (0,4%) 
Cirurgia bariátrica  1 (0,4%) 
Intolerância à lactose  5 (1,9%) 
Síndrome do intestino irritável  5 (1,9%) 
Colite  1 (0,4%) 
Diverticulite  1 (0,4%) 
Hérnia gástrica  1 (0,4%) 
Doença neurológica  46 (17,8%) 
Acidente vascular encefálico  6 (2,3%) 
Enxaqueca  39 (15,1%) 
Outra doença neurológica  3 (1,2%) 
Doença psiquiátrica  89 (34,5%) 
Depressão  46 (17,9%) 
Ansiedade  67 (26,1%) 
Fobia social  1 (0,4%) 
TOC  1 (0,4%) 
Síndrome do pânico  1 (0,4%) 
Insônia  2 (0,8%) 
Doença autoimune  38 (14,8%) 
Psoríase  14 (5,4%) 
Lúpus eritematoso  6 (2,3%) 
Alopecia frontal fibrosante  4 (1,6%) 
Artrite reumatoide  3 (1,2%) 
Vitiligo  2 (0,8%) 
Esclerodermia ou esclerose sistêmica  2 (0,8%) 
Doença de Hashimoto  4 (1,5%) 
Púrpura e hidradenite  1 (0,4%) 
Púrpura  1 (0,4%) 
Pênfigo foliáceo  1 (0,4%) 
Mielite transversa  1 (0,4%) 
Lúpus, esclerodermia e dermatomiosite  1 (0,4%) 
Doença infecciosa  12 (4,7%) 
HIV/AIDS  4 (1,5%) 
Hepatite B  3 (1,2%) 
Doença de Chagas  1 (0,4%) 
Hanseníase  1 (0,4%) 
ITU de repetição  1 (0,4%) 
Tuberculose latente  1 (0,4%) 
Cromoblastomicose  1 (0,4%) 
Doença neoplásica  40 (15,6%) 
CBC/CEC cutâneo  23 (8,91%) 
NIC 3  1 (0,4%) 
Melanoma  7 (2,7%) 
Laringe  1 (0,4%) 
Tireoide  3 (1,16%) 
Mama  5 (1,9%) 
Teratoma ovário  1 (0,4%) 
Intestino/reto  1 (0,4%) 
Próstata  2 (0,8%) 
Endométrio  1 (0,4%) 
Leucemia  1 (0,4%) 
Doenças cardiovasculares  81 (31,4%) 
Hipertensão arterial  77 (29,8%) 
Infarto agudo do miocárdio  3 (1,2%) 
Dislipidemia  40 (15,5%) 
Arritmia/fibrilação atrial  7 (2,7%) 
Cardiomegalia  1 (0,4%) 
Insuficiência cardíaca  1 (0,4%) 
Trombose venosa  2 (0,8%) 
Doença endócrina  123 (47,7%) 
Diabetes mellitus  42 (16,3%) 
Nódulo de tireoide  3 (1,2%) 
Hipotireoidismo  18 (7%) 
Resistência à insulina  3 (1,2%) 
Osteoporose  1 (0,4%) 
Obesidade  61 (23,6%) 
Síndrome metabólica  42 (16,3%) 
Doença hepática  26 (10,07%) 
Esteatose  22 (8,5%) 
Trombose hepática  1 (0,4%) 
Cirrose após hepatite  1 (0,4%) 
Hepatite medicamentosa  1 (0,4%) 
Transplante hepático  1 (0,4%) 
Doença urológica  21 (8,1%) 
Litíase renal  15 (5,8%) 
Glomerulonefrite – transplante  1 (0,4%) 
Hiperplasia prostática  2 (0,8%) 
Nefrite infância  1 (0,4%) 
Cisto renal  1 (0,4%) 
Pielonefrite  1 (0,4%) 

RCU, retocolite ulcerativa; TOC, transtorno obsessivo‐compulsivo; HIV/AIDS, vírus da imunodeficiência humana/síndrome da imunodeficiência adquirida; ITU, infecção do trato urinário; CBC/CEC, carcinoma basocelular/carcinoma espinocelular; NIC, neoplasia intraepitelial cervical.

Discussão

A característica multiétnica e as variabilidades culturais e climáticas do Brasil demandam estudos com amostra representativa de diferentes regiões para uma compreensão mais adequada das características de suas dermatoses, a fim de melhorar a percepção da doença e aprimorar sua abordagem terapêutica. Existem dados nacionais de prevalência da rosácea com resultados distintos, o que pode refletir justamente esta variação entre as regiões: em estudo conduzido no sul do país, evidenciou‐se maior prevalência de rosácea em mulheres com idade entre 40 e 50 anos,32 enquanto em outro a faixa etária mais acometida foi entre 60 e 79 anos, e a menos acometida abaixo de 30 anos.5 Em outras pesquisas, não brasileiras, observou‐se o predomínio em mulheres com faixa etária variável entre 30 e 60 anos, podendo ainda acometer crianças e idosos.2,9,35 Foram encontrados também relatos que homens evoluem para formas mais graves, por possível mediação da atividade androgênica.6,36 Ainda, um estudo evidenciou maior prevalência no sexo feminino em pacientes até os 49 anos, mas, entre 50 e 70 anos, a prevalência foi maior em homens.37

Nesta investigação, conforme mencionado na tabela 1, constatou‐se elevado predomínio da rosácea entre as mulheres (69,4%). Uma diferença adicional entre os sexos neste estudo em relação a outros pode ter ocorrido pela tendência de as mulheres buscarem atendimento médico com maior frequência.9,35,38 Além disso, foi identificada ampla faixa etária acometida, incluindo casos de rosácea em indivíduos acima dos 60 anos.

Existe consenso de que a rosácea predomina em pessoas com fototipos mais baixos (I e II) de acordo com a classificação de Fitzpatrick,36,39 embora existam relatos da doença em população com fototipos mais altos.35,36,40 Nossos resultados mostraram que quase a metade da população estudada era do fototipo III, seguido pelos fototipos IV e II. A doença nos fototipos I e V foi pouco observada. Estes dados demonstram uma particularidade da doença no Brasil, o que pode estar relacionado à composição étnica da população brasileira. Ressalta‐se que a suspeição da rosácea é mais difícil em peles mais escuras, levando ao diagnóstico tardio.

A rosácea é mais frequentemente descrita em países europeus, em particular, do norte.36 A maioria (83,3%) dos nossos pacientes era de ascendência europeia, corroborando achados de estudos brasileiros prévios.5,32,41

Quanto à ocupação dos pacientes, houve ampla diversidade de profissões e não houve associação no que concerne à prevalência de rosácea nas profissões reportadas.

Quanto ao nível de escolaridade, identificou‐se que 45,7% dos participantes da pesquisa tinham ensino superior completo e 23,6% ensino médio completo. Não foi possível comparar este achado pois, até o momento, não é reportado na literatura sobre rosácea. Importante ressaltar que no Brasil há destaque para a presença de mulheres brancas adultas no ensino superior, o que apresenta interface provável com este nível de escolaridade elevado encontrado na amostra.42

Evidenciamos somente 8,1% de tabagistas na população estudada. A associação inversa entre rosácea e tabagismo é controversa. Alguns autores afirmam que o tabagismo ativo pode ser fator protetor para rosácea.5,43 Há relatos de que a nicotina pode desempenhar papel anti‐inflamatório43,44 e promover vasoconstrição na pele.45,46

No presente estudo, 95% dos indivíduos não eram etilistas; porém, entre os mesmos, 42,6% associaram ingesta de álcool à exacerbação da rosácea. Embora seja relacionado principalmente ao flushing, a associação entre bebidas alcoólicas e desencadeamento da rosácea permanece controversa na literatura.29,32,47,48 Estudo realizado com 82.737 mulheres norte‐americanas acompanhadas por 14 anos, com 4.948 casos de rosácea, mostrou que a maior ingestão de álcool foi associada ao risco aumentado da doença comparado a pacientes que nunca ingeriram bebidas alcoólicas.47 Uma metanálise recente concluiu que o consumo de álcool não é fator de risco para rosácea; porém, na análise de subgrupos, foi observado maior risco para a forma fimatosa.48 Outro estudo mostrou que o uso de bebidas alcoólicas aumentou o risco de rosácea, porém apenas com o consumo elevado por semana.2

Acerca de informações sobre altura, peso e IMC, há poucos dados sobre pacientes com rosácea na literatura.44 Na presente investigação, constatou‐se que o peso médio foi de 73,5kg±15,21; a altura média de 1,65 m±0,1, e o IMC médio foi de 26,87kg/m2±5,67. Além disso, 39,21% dos participantes foram classificados com sobrepeso e 28,23% mostravam algum grau de obesidade. O risco aumentado de rosácea em pacientes com obesidade já havia sido descrito, com taxa de risco de 1,48 em pacientes com IMC ≥ 35,0 quando comparados àqueles com IMC entre 21,0 e 22,9kg/m2.49

O histórico familiar de rosácea ocorreu em 1/3 dos casos, corroborando o papel de fatores genéticos (ainda a serem mais bem compreendidos) e ambientais já relatados.16,20,25 Estudo com gêmeos idênticos e fraternos mostrou participação genética de 46% nas manifestações de rosácea.50

A evolução da doença teve período médio de 11 anos, e o período médio de tempo até o diagnóstico foi de oito anos. Existem vários fatores que podem atrasar o diagnóstico da rosácea, tais como dificuldade de acesso do paciente ao serviço terciário de saúde, sobreposição de sintomas com outras dermatoses e complexidade do diagnóstico em peles mais escuras pela dificuldade na visualização de manifestações vasculares, como eritema e telangiectasias. Destaca‐se que na população deste estudo 27% dos indivíduos eram dos fototipos IV e V, o que poderia ser considerado fator para o diagnóstico mais tardio.

O relato de uso de medicamentos sistêmicos para tratamento de outras doenças apresentou prevalência elevada, particularmente os anti‐hipertensivos. Existem relatos contraditórios de piora ou desencadeamento da rosácea pelo uso de bloqueadores de canais de cálcio, que deveriam ser evitados, e discute‐se o risco diminuído entre pacientes em uso de betabloqueadores.51–53

O relato do uso de antidepressivos foi evidenciado em cerca de 20% dos indivíduos, e a relação entre rosácea e distúrbios psiquiátricos, especialmente ansiedade e depressão, é frequentemente relatada.14,15 Observou‐se discrepância entre a gravidade da rosácea e o impacto na qualidade de vida, uma vez que a doença era moderada ou grave em 46,8% dos participantes e apenas 23% relataram influência negativa na qualidade de vida. Uma consideração relevante é a abordagem transversal deste estudo. Muitos pacientes estavam sob tratamento, o que impacta positivamente na percepção de qualidade de vida. Sabe‐se que o tratamento dermatológico interfere nessa avaliação, melhorando os resultados,54 dificultando conclusões sobre a verdadeira extensão do impacto da doença. Essa dissociação entre a gravidade e qualidade de vida já foi relatada,14 uma vez que pacientes com formas leves podem ter impacto relevante quando não tratados.

Quanto aos tratamentos, os medicamentos tópicos foram citados por 64,7% dos pacientes e os sistêmicos por 30,2%. Os princípios ativos estavam de acordo com as recomendações de diretrizes terapêuticas para rosácea.41,55,56

Os dados relacionados às características demográficas dos participantes deste podem ser consultados na tabela 1.

A frequência das manifestações clínicas da rosácea observadas foram semelhantes às descritas em uma metanálise,57 com exceção das alterações fimatosas e oculares, que foram mais prevalentes no presente estudo (tabela 2).

Sintomas subjetivos como queimação ou ardor podem ter impacto negativo na qualidade de vida, além de representar instrumento auxiliar para o diagnóstico.58 A frequência desse sintoma costuma ser subavaliada na prática clínica, pela dificuldade em mensurá‐lo. Observamos uma frequência elevada, particularmente com intensidade leve ou moderada, tal como em estudo prévio.58

A inflamação crônica da rosácea foi associada a múltiplas comorbidades, incluindo doenças cardiovasculares, psiquiátricas, neurodegenerativas, gastrintestinais, neurológicas, oncológicas, endocrinológicas e autoimunes. A extensão, o significado clínico e as repercussões dessas associações não estão completamente elucidadas.59,60 Em nossa casuística, 27,5% dos pacientes relataram alguma doença gastrintestinal. Essa associação deve ser valorizada pelos médicos para o diagnóstico precoce e implicações terapêuticas.61–63

A desregulação neurovascular e a inflamação crônica podem explicar a associação entre rosácea e cefaleia, particularmente enxaqueca.64 A maioria dos pacientes portadores de rosácea e cefaleia apresenta o subtipo eritematotelangiectásico e, além do flushing ou eritema transitório, eritema persistente e telangiectasias característicos do quadro cutâneo, fotofobia e fonofobia são comuns. Um estudo mostrou que 15% dos pacientes com rosácea apresentavam enxaqueca, e o risco pareceu maior nos homens.65 Ao contrário, nosso estudo demonstrou maior prevalência de enxaqueca em mulheres, contabilizando 17,9%, enquanto a prevalência nos homens foi de 8,9%.

Apesar de haver descrição de risco aumentado de doenças neurodegenerativas nos pacientes com rosácea, particularmente doença de Parkinson e demência, como a doença de Alzheimer,66 nossos dados não evidenciaram essas condições. O risco do desenvolvimento de sintomas psiquiátricos é 1,6 a duaas vezes maior nos pacientes com rosácea quando comparados aos controles, possivelmente pelos mecanismos compartilhados envolvendo o sistema neuroimunocutâneo.14,15,66,67 Nossos achados estão de acordo com essa observação, pois foram detectadas doenças psiquiátricas em 34,5% dos indivíduos, particularmente ansiedade e depressão.

Em relação às doenças oncológicas, a literatura revela que a rosácea está associada ao aumento do risco de câncer de pele não melanoma (CPNM), glioma e câncer de mama.66,68 Em nossa população foram detectados 23 (8,9%) pacientes com CPNM; entretanto, pele clara e ascendência europeia são fatores comuns à rosácea e esse tipo de câncer de pele.

Pacientes com rosácea são predispostos ao risco de doença cardiovascular (CV) subclínica, aterosclerose e tromboembolismo,69–73 sendo aconselhado rastreio e orientação sobre modificações no estilo de vida. Neste estudo, 31,4% relataram doença CV, 29,8% hipertensão arterial e 15,5% dislipidemia.

Alterações endocrinológicas são frequentemente observadas em pacientes com rosácea, tendo sido encontradas na metade dos participantes deste estudo. As principais endocrinopatias foram diabetes mellitus, obesidade e síndrome metabólica.

Os médicos devem estar atentos ao risco potencial de comorbidades sistêmicas na rosácea, que se torna mais provável à medida que a duração e a gravidade da doença aumentam. O potencial do controle dessas condições em melhorar os sintomas da rosácea e vice‐versa deve constituir objetivo de novas pesquisas.13,66

A qualidade de vida está impactada na maioria dos pacientes com rosácea, uma vez que a doença é crônica, recorrente e se manifesta em áreas expostas, como a face. Podem ocorrer baixa autoestima, fobia social, depressão e ansiedade, que comprometem a saúde mental e a socialização dos indivíduos afetados.74,75 Os escores do RosaQoL‐BR revelaram impacto na qualidade de vida de praticamente 50% dos pacientes, apesar de praticamente 90% considerarem, na avaliação global, sua doença como leve a moderada, assim como foi considerado pelos investigadores.

Diversos fatores ambientais são descritos como desencadeantes ou agravantes da rosácea, o que foi referido por 96% dos participantes deste estudo. Conforme se verifica na tabela 4, que relaciona os fatores desencadeantes ou agravantes referidos pelos participantes do estudo, a exposição solar foi o principal deles, corroborando os dados da literatura.76,77 A maior prevalência da doença em peles mais claras e a presença das lesões na zona central da face, áreas mais expostas à luz solar, corroboram essa hipótese.3 A RUV pode desencadear quadro de rosácea, participando ativamente de sua etiopatogenia.77

Alterações emocionais agudas foram relatadas por mais de metade dos participantes, reforçando o estresse como gatilho relevante, pois aumenta níveis de cortisol e hormônio adrenocorticotrófico, ativando o eixo hipotálamo‐hipófise‐adrenal.77

A exposição ao calor foi mencionada como gatilho por 62% dos participantes, assim como, em menor proporção, ao frio e vento. É importante ressaltar a grande variação climática nas diversas regiões do Brasil, como calor extremo na Amazônia, frio nas regiões subtropicais e calor e vento no litoral do Nordeste. Este estudo incluiu pacientes provenientes de estados de todas essas regiões, tornando a amostra bastante heterogênea, porém representativa da variabilidade climática do país. O agravamento da doença pelo exercício físico, que tem efeito termogênico e vasodilatador, foi relatado por quase metade dos participantes.3,76

A ingestão de certos alimentos é referida como fator desencadeante ou de piora da rosácea, apesar de existirem poucos estudos que confirmem tal propriedade.18,19 Neste estudo, 28% dos participantes relataram piora da rosácea com a dieta; a pimenta foi relatada por mais da metade deles, seguida por outros alimentos condimentados e temperos. Os alimentos considerados como gatilhos podem ser divididos em quatro categorias: comidas/bebidas quentes, como café (33%) e chá (30%), apimentadas, com cinamaldeído e bebidas alcoólicas.18,76 A capsaicina está presente nas pimentas. O cinamaldeído é encontrado no tomate, em frutas cítricas, na canela e no chocolate. Tem sido relatada relação da dieta com o eixo intestino‐pele, interferindo nas manifestações clínicas da doença.18

Nossos resultados demonstraram que alguns alimentos de consumo diário foram pouco referidos como desencadeantes da doença, como o café quente, leite e derivados, tomate e frutas cítricas. Contrariamente ao que se acreditava no passado, estudo de coorte com 82.737 mulheres sugere que a cafeína possa ter efeito protetor na rosácea, reduzindo os sintomas, por induzir resposta vasoconstritora e imunossupressora.79 A influência do leite e derivados é controversa, com possível correlação negativa, sugerindo que sejam protetores nos fenótipos eritematotelangiectásico e papulopustuloso.19 Consumo diário de tomate e frutas cítricas foi relatado por mais da metade da população estudada, embora não citados como agravantes. Até o momento, não existem evidências de que a exclusão de determinados alimentos resulte em melhora dos sintomas da rosácea.78 No entanto, para os brasileiros, este estudo sugere que o consumo de bebidas alcoólicas e as dietas contendo pimenta possam ser importantes no agravamento da doença, pela frequência de uso e percepção dos pacientes.

Este estudo apresenta limitações especialmente relacionadas à falta de grupo controle, à inclusão de pacientes de centros de referência e ao fato de muitos estarem em tratamento. Outros estudos observacionais e, principalmente, estudos com bases populacionais são necessários para comprovar os achados apresentados.

Conclusão

A maior prevalência da rosácea nos fototipos III e IV na amostra brasileira estudada demonstra a necessidade de o dermatologista estar atento aos sinais da doença, uma vez que o diagnóstico pode ser mais tardio em fototipos mais altos.

A avaliação das comorbidades constitui papel fundamental, particularmente quanto ao sobrepeso e à obesidade. As doenças cardiovasculares, psiquiátricas, neurodegenerativas, gastrintestinais, neurológicas, oncológicas, endocrinológicas e autoimunes foram detectadas, demonstrando que o reconhecimento dessas comorbidades pode permitir uma triagem e um adequado acompanhamento dos pacientes.

As manifestações gastrintestinais tiveram prevalência elevada, corroborando a possível relação entre rosácea, microbioma e doenças do trato gastrintestinal (eixo intestino‐pele).

O comprometimento da qualidade de vida e a elevada prevalência de doenças psiquiátricas demonstra a importância da abordagem desses aspectos.

Nesta amostra, determinados alimentos e o uso de bebidas alcoólicas foram referidos como agravantes da doença, e pesquisas específicas são necessárias para determinar o impacto da dieta na rosácea.

Este estudo apresenta dados reais de diferentes regiões do Brasil, podendo contribuir para a elaboração de algoritmos para o manejo holístico de pacientes com rosácea.

Editor

Sílvio Alencar Marques.

Disponibilidade de dados de pesquisa

Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Suporte financeiro

Fundo de Incentivo à Pesquisa e Eventos (FIPE) – Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Brasil.

Contribuição dos autores

Renan Rangel Bonamigo: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; análise dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Paula Barea: Obtenção dos dados; montagem do banco de dados; análise dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Juliano Peruzzo: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; análise dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Juliana Boza: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; análise dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Hélio Amante Miot: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Edileia Bagatin: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Luiz Maurício Costa Almeida: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Giovanni Indelicato Milano: Obtenção dos dados; redação do artigo.

Carla Wanderley Gayoso de Lima: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Linácia Freitas Vidal: Obtenção de dados; redação do artigo.

Fabíola Rosa Picosse: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Bruna Manuella de Figueiredo Afonso: Obtenção de dados; redação do artigo.

Clivia Maria Moraes de Oliveira: Concepção e o desenho do estudo; obtenção dos dados; redação do artigo; revisão da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Renan Rangel Bonamigo: Nenhum.

Paula Baréa: Nenhum.

Juliano Peruzzo: Nenhum.

Juliana Boza: Nenhum.

Hélio Miot: Conselho consultivo – Johnson & Johnson, L’Oréal, Theraskin, Sanofi e Pfizer; Pesquisa clínica – Abbvie, Pierre Fabre; Galderma e Merz.

Edileia Bagatin: Farmoquímica/Melora, Beiersdorf/Eucerin, Lóreal (Vichy/La Roche Posay, Pierre‐Fabre (Avene, Ducray), Theraskin, Allergan/Abbvie, USK, LeoPharma, Ache, Pechoin.

Luiz Mauricio Costa Almeida: Conselho consultivo – Galderma, Beiersdorf, L’Óreal, Leo Pharma, FQM Melora, Pierre Fabre e Bayer.

Giovanni Indelicato Milano:Nenhum.

Carla Wanderley Gayoso de Lima: Nenhum.

Linácia Freitas: Nenhum.

Fabíola Rosa Picosse: Nenhum.

Bruna Manuella de Figueiredo Afonso: Nenhum.

Clivia Maria Moraes de Oliveira: Janssen, Novartis, Sanofi, Abbvie, Galderma, L’Oreál, Boehringer.

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Como citar este artigo: Bonamigo RR, Barea P, Peruzzo J, Boza J, Miot HA, Bagatin E, et al. Clinical‐demographic profile, aggravating factors, comorbidities, and quality of life in patients with rosacea: a Brazilian multicenter study (GBPER: Brazilian Research and Studies Group on Rosacea). An Bras Dermatol. 2025;100:501160.

Trabalho realizado na Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil; Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil; Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil; Santa Casa de Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG, Brasil; Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil; Universidade Federal do Pará, Belém, PA Brasil.

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