Compartilhar
Informação da revista
Vol. 95. Núm. 3.
Páginas 372-375 (01 Maio 2020)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
6507
Vol. 95. Núm. 3.
Páginas 372-375 (01 Maio 2020)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Pseudomicetoma no couro cabeludo causado por Microsporum canis
Visitas
6507
Ligia Rangel Barboza Ruiza, Clarisse Zaitza, Rute Facchini Lellisb, John Verrinder Veaseya,
Autor para correspondência
johnveasey@uol.com.br

Autor para correspondência.
a Clínica de Dermatologia, Faculdade de Ciências Médicas, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
b Laboratório de Patologia, Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (4)
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

Pseudomicetoma é uma micose profunda extremamente rara, causada por fungos dermatófitos que penetram no tecido a partir de folículos infectados de tinea capitis. Tanto clínica quanto histologicamente mimetizam eumicetoma, sendo distinguidos por meio do isolamento do fungo, que no caso do pseudomicetoma pode ser do gênero Microsporum sp. ou Trichophyton sp. Apresenta-se o caso de homem de 24 anos com tumoração exuberante e fístulas na região occipital cujo exame histopatológico evidenciou grãos compostos de hifas hialinas e cultura para fungos que isolou Microsporum canis. Feito tratamento combinado de exérese cirúrgica seguida de griseofulvina oral por dois anos, com resolução do quadro.

Palavras‐chave:
Histologia
Micetoma
Microsporum
Tinha
Tinha do couro cabeludo
Texto Completo
Relato do caso

Homem de 24 anos apresentava lesão tumoral na região occipital. O quadro se iniciou aos dois anos, com áreas de alopecia que evoluíram progressivamente a tumor. Sua primeira consulta foi aos 14 anos, apresentando ao exame clínico tumoração endurecida com ulcerações de fundo granuloso. Abandonou seguimento, retornando dez anos após, com aumento considerável da lesão (fig. 1). A análise micológica de material do raspado de úlcera identificou grãos compostos de hifas hialinas septadas e a cultura para fungos isolou o agente Microsporum canis (fig. 2). O exame histopatológico evidenciou na derme e hipoderme a presença de hifas hialinas septadas que formam agrupamentos de tamanhos variados envolvidos por reação de Splendore‐Hoeppli histiocitária com numerosas células gigantes multinucleadas do tipo corpo estranho, além de exsudato neutrofílico, edema e congestão vascular. Não foram visualizados trajetos fistulizados que promovessem a continuidade entre os grãos e a superfície epidérmica na amostra (fig. 3). Negava uso de qualquer medicação imunossupressora, sua sorologia para HIV era não reagente e não apresentava demais comorbidades. Associou‐se o aspecto clínico aos demais exames complementares e foi confirmado o diagnóstico de pseudomicetoma por Microsporum canis. Submetido à exérese cirúrgica da lesão tumoral e associada griseofulvina oral na dose de 1g por dia durante dois anos. Em seguimento de um ano após o término da griseofulvina, o paciente não apresentou sinais de recidiva (fig. 4).

Figura 1.

Aspecto clínico da lesão occipital de pseudomicetoma no paciente aos 14 anos (A e B) e aos 24 anos (C).

(0,17MB).
Figura 2.

(A e B), Exame micológico direto em microscopia óptica clareado com KOH 20%. Aumento de 100×, apresenta aglomerados de hifas septadas e aumento de 400×, identifica as estruturas de hifas septadas hialinas. (C e D), Cultura para fungos, evidencia colônia filamentosa branca e agar pigmentado de amarelo e microcultivo com hifas septadas hialinas ao fundo e três macroconídeos ao centro (azul de algodão, 400×).

(0,13MB).
Figura 3.

Exame histopatológico. A, Hematoxilina‐Eosina, 100×, identifica grãos circundados por processo inflamatório supurativo e reação linfo‐histiocitária. B, Hematoxilina & eosina, aumento de 200×, observa‐se a estrutura de um grão composto de hifas septadas hialinas rodeado por material eosinofílico (fenômeno de Splendore‐Hoeppli). C, Coloração de PAS, 200×, evidencia a morfologia das hifas.

(0,34MB).
Figura 4.

Aspecto clínico após o tratamento.

(0,12MB).
Discussão

As formas crônicas inflamatórias e invasivas de dermatofitoses são resultado de uma intensa reação de hipersensibilidade à infecção fúngica, mais frequentes em indivíduos imunocomprometidos,1 e se apresentam clinicamente como kerion celsi, granuloma de Majocchi e pseudomicetoma.2 O pseudomicetoma é uma micose extremamente rara, causada pela penetração de dermatófitos no tecido, a partir da ruptura do epitélio folicular infectado. Ajello et al.3 relataram diversas espécies de dermatófitos produtores de grãos em tecidos, inclusive Microsporum canis, Trichophyton tonsurans e T. mentagrophytes. Segundo esses autores, os agregados de micélios formados pelos dermatófitos seriam de pseudogrânulos e o termo pseudomicetoma deveria ser aplicado a essa infecção dermatofítica profunda.4,5 O agente isolado neste caso foi compatível com o agente de tinea capitis mais frequente no Brasil.6,7

Os aspectos clínicos do pseudomicetoma são semelhantes aos do eumicetoma, porém, ao contrário dos micetomas, os pseudomicetomas são mais comuns no couro cabeludo e não têm antecedente de trauma para sua inoculação.8 Embora as hifas de dermatófitos geralmente sejam mais delicadas do que as dos agentes de eumicetoma nos exames micológicos, o mesmo não acontece nos aglomerados visualizados no exame histopatológico.7–9 Entretanto, histologicamente os micetomas apresentam fístulas através das quais o exsudato fibrinopurulento e os grãos são excretados, enquanto os pseudomicetomas não apresentam esses trajetos.8 Assim, torna‐se válido isolar o agente, obtido neste caso por meio da cultura fúngica. Apesar de mais frequente em pacientes imunossuprimidos, há relatos de casos que acometem pacientes imunocompetentes e nota‐se reação eosinofílica de Splendore‐Hoeppli ao redor dos pseudogrânulos em todos os casos de pseudomicetoma, que evidencia a intensa reação do organismo contra o agente fúngico.4

O tratamento de escolha no pseudomicetoma por M. canis é a excisão cirúrgica da massa fúngica, uma vez que o antifúngico sistêmico não alcança concentrações terapêuticas,8 associada à griseofulvina oral1,6,7 até cura clínica e micológica.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Ligia Rangel Barboza Ruiz: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Clarisse Zaitz: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Rute Facchini Lellis: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

John Verrinder Veasey: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
O. Barboza-Quintana, R. Garza-Guajardo, C. Assad-Morel, N. Méndez-Olvera.
Pseudomycetoma for microsporum canis: report of a case diagnosed by fine needle aspiration biopsy.
Acta Cytol., 51 (2007), pp. 424-428
[2]
R. Isa-Isa, R. Arenas, M. Isa.
Inflammatory tinea capitis: kerion, dermatophytic granuloma, and mycetoma.
Clin Dermatol., 28 (2010), pp. 133-136
[3]
A. Ajello, W. Kaplan, F.W. Chandler.
Dermatophyte mycetoma: fact or fiction?.
PAHO Sci Pub., 396 (1980), pp. 135-140
[4]
M.A. Moraes, A.A. Machado, P. Medeiros Filho, C.M. Reis.
Dermatophytic pseudomycetoma: report of a case caused by Trichophyton tonsurans.
Rev Soc Bras Med Trop., 34 (2001), pp. 291-294
[5]
F. Botterel, S. Romand, M. Cornet, G. Recanati, B. Dupont, P. Bourée.
Dermatophyte pseudomycetoma of the scalp: case report and reviwe.
Br J Dermatol., 145 (2001), pp. 151-153
[6]
J.V. Veasey, B.A.F. Miguel, S.A.S. Mayor, C. Zaitz, L.H. Muramatu, J.A. Serrano.
Epidemiological profile of tinea capitis in São Paulo City.
An Bras Dermatol., 92 (2017), pp. 283-284
[7]
J.V. Veasey, G.S.C. Muzy.
Tinea capitis: correlation of clinical presentations to agents identified in mycological culture.
An Bras Dermatol., 93 (2018), pp. 465-466
[8]
E. Castro-Echeverry, K. Fiala, M.P. Fernandez.
Dermatophytic Pseudomycetoma of the Scalp.
Am J Dermatopathol., 39 (2017), pp. e23-e25
[9]
M. Tirado-González, E. Ball, A. Ruiz, Y. Rodriguez, C.E. Goudet, O. Finkel, et al.
Disseminated dermatophytic pseudomycetoma caused by Microsporum species.
Int J Dermatol., 51 (2012), pp. 1478-1482

Como citar este artigo: Ruiz LRB, Zaitz C, Lellis RF, Veasey JV. Pseudomycetoma of the scalp caused by Microsporum canis. An Bras Dermatol. 2020;95:372–5.

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.