Compartilhar
Informação da revista
Vol. 96. Núm. 2.
Páginas 228-230 (01 Março 2021)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
8010
Vol. 96. Núm. 2.
Páginas 228-230 (01 Março 2021)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Tuberculose cutânea gomosa associada ao uso de infliximabe para doença de Crohn
Visitas
8010
Lucas Campos Garciaa,
Autor para correspondência
lucascampos@outlook.com

Autor para correspondência.
, Everton Carlos Siviero do Valea, Maria de Lourdes Ferrarib, Lauro Damasceno de Carvalho Fariab
a Serviço de Dermatologia, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Departamento de Gastroenterologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (4)
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

Com a evolução da terapêutica das doenças infectoparasitárias houve um declínio das mesmas. Entretanto, com a expansão do uso de imunobiológicos, emergiram as infecções oportunistas, sobretudo sob apresentações atípicas. É relatado o caso de uma paciente, tratada com infliximabe para doença de Crohn, que apresentou diarreia, perda ponderal, dor abdominal, febre e nódulos eritematosos subcutâneos que evoluíram com flutuação e ulceração espontânea. Com o achado de bacilos álcool‐ácido resistentes e de DNA de Mycobacterium tuberculosis em fragmento cutâneo, por meio da reação em cadeia da polimerase, confirmou‐se o diagnóstico de tuberculose cutânea gomosa, provavelmente secundária à disseminação hematogênica de foco intestinal.

Palavras‐chave:
Doença de Crohn
Peptídeos e proteínas associados a receptores de fatores de necrose tumoral
Terapia de alvo molecular
Tuberculose cutânea
Texto Completo

Os imunobiológicos foram introduzidos na década de 1990 para tratamento das doenças inflamatórias intestinais.1–3 Pode ocorrer reativação de infecções latentes resultante da imunossupressão causada por esses medicamentos. A tuberculose (TB) se associa mais especificamente ao uso dos antagonistas do fator de necrose tumoral alfa.3

Paciente do sexo feminino com 26 anos de idade foi diagnosticada com doença de Crohn (DC) por enterorragia e cólica abdominal. Devido ao insucesso terapêutico com prednisona, mesalazina e azatioprina, foi iniciado infliximabe 5mg/kg. Apesar da melhora inicial dos sintomas, evoluiu com piora gradual. Após 14 meses sob infliximabe, mantinha quadro ativo e perda ponderal, além de picos febris diários. Apresentou três nódulos eritematosos subcutâneos na região posterior da coxa direita, com aproximadamente 3cm de diâmetro, sem flutuação ou drenagem. Em seguida, desenvolveu ulceração das lesões, de bordas bem definidas e fundo necrótico (fig. 1), com anatomopatológico apresentando processo inflamatório inespecífico. A biópsia endoscópica intestinal (fig. 2) demonstrou granulomas com necrose central não caseosa e ausência de bacilos álcool‐ácido resistentes (BAAR) (fig. 3).

Figura 1.

Nódulos ulcerados na região posterior da coxa direita.

(0,08MB).
Figura 2.

Colonoscopia mostrando processo inflamatório ulcerado intenso em cólon e íleo.

(0,11MB).
Figura 3.

Granulomas não caseosos em mucosa ileal (Hematoxilina & eosina, 10×).

(0,1MB).

Pelas características dos granulomas, levantou‐se a hipótese de infecção por Yersinia pseudotuberculosis. O tratamento com gentamicina e ceftriaxona foi ineficaz; houve surgimento de novo nódulo cutâneo eritematoso na coxa esquerda, cuja biópsia revelou presença de BAAR ao exame histopatológico (fig. 4) e material genético de Mycobacterium tuberculosis pelo teste rápido molecular, confirmando o diagnóstico de TB cutânea, forma gomosa. A tomografia computadorizada de tórax mostrou nódulos inespecíficos, não se descartando acometimento pulmonar. Foi instituído tratamento com rifampicina, isoniazina, pirazinamida e etambutol durante seis meses. Os nódulos ulcerados cicatrizaram completamente no terceiro mês, sem ocorrência de recidiva após um ano de seguimento.

Figura 4.

Presença de BAAR (seta) ao exame histopatológico da pele (Ziehl‐Neelsen, 100×).

(0,1MB).

A TB cutânea corresponde a cerca de 1% dos casos da doença.4 Pode ser subdividida em formas causadas por inoculação direta, como o cancro tuberculoso e a TB verrucosa, formas causadas por contiguidade e autoinoculação, como o escrofuloderma e a TB periorificial, e formas causadas por disseminação hematogênica, como a TB gomosa e a TB miliar aguda. É provável que o lúpus vulgar possa ser causado pelas três vias. Há ainda as tubercúlides, formas em que a resposta imune exacerbada determina lesões cutâneas, como eritema indurado de Bazin, líquen escrofuloso e tubercúlide papulonecrótica.4–6

A TB gomosa é rara e acomete principalmente imunossuprimidos e crianças desnutridas. Caracteriza‐se por nódulos eritematosos subcutâneos que evoluem com intensa necrose central, fistulização e ulceração. Resulta da disseminação hematogênica aguda de um foco primário durante períodos de bacilemia. A prova tuberculínica geralmente é negativa. A histopatologia exibe intensa necrose, formação de granulomas frouxos e alta carga bacilar. Técnicas moleculares também contribuem para o diagnóstico.7 Incluem‐se no diagnóstico diferencial: paniculites, goma sifilítica e hidradenite supurativa. A morfologia e localização da TB gomosa ajudam a diferenciá‐la de outras formas multibacilares, como a periorificial. Preconiza‐se o mesmo tratamento utilizado para a doença pulmonar. O tratamento diretamente observado é recomendado pelo Programa Nacional de Controle de Tuberculose, do Ministério da Saúde do Brasil, e deve ser realizado no domicílio pela Atenção Básica.8,9 Completado o tratamento da TB, houve boa resposta da DC ao ustequinumabe.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Lucas Campos Garcia: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Everton Carlos Siviero do Vale: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Maria de Lourdes Ferrari: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Lauro Damasceno de Carvalho Faria: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
F. Gomollón, A. Dignass, V. Annese, H. Tilg, G.V. Assche, J.O. Lindsay, et al.
3rd European Evidence‐based Consensus on the Diagnosis and Management of Crohn's Disease 2016. Part 1: Diagnosis and Medical Management.
J Crohns Colitis., 1 (2017), pp. 3-25
[2]
G.R. Lichtenstein, S.B. Hanauer, W.J. Sandborn.
The Practice Parameters Committee of The American College of Gastroenterology. Management of The Crohn's Disease in Adults.
Am J Gastroenterol., 104 (2009), pp. 465-483
[3]
J.P. Terdiman, C.B. Gruss, J.J. Heidelbaugh, S. Sultan, Y.T. Falck-Ytter.
AGA Institute Clinical Practice and Quality Management Committee. American Gastroenterological Association Institute Guideline on the Use of Thiopurines, Methotrexate, and Anti‐TNF Biologic Drugs for the Induction and Maintenance of Remission in Inflammatory Crohn's Disease.
Gastroenterology., 145 (2013), pp. 1459-1463
[4]
P. Khadka, S. Koirala, J. Thapaliya, Cutaneous Tuberculosis:.
Clinicopathologic Arrays and Diagnostic Challenges.
Dermatol Res Pract., (2018), pp. 7201973
[5]
M.F.R.G. Dias, F. Bernardes Filho, M.V. Quaresma, L.V. Nascimento, J.A.C. Nery, D.R. Azulay.
Update on cutaneous tuberculosis.
An Bras Dermatol., 89 (2014), pp. 925-938
[6]
M.K. Hill, C.V. Sanders.
Cutaneous tuberculosis.
Microbiol Spectrum., (2017), pp. 5
[7]
I. Afsar, F.S. Afsar.
Evaluation of laboratory diagnosis for cutaneous tuberculosis.
Indian J Pathol Microbiol., 59 (2016), pp. 274-278
[8]
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
[9]
L. Van Zyl, J. du Plessis, J. Viljoen.
Cutaneous tuberculosis overview and current treatment regimens.
Tuberculosis., 95 (2015), pp. 629-638

Como citar este artigo: Garcia LC, Vale ECS, Ferrari ML, Faria LDC. Gummatous cutaneous tuberculosis associated with the use of infliximab for Crohn's disease. An Bras Dermatol. 2021;96:228–30.

Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Copyright © 2021. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.