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Vol. 95. Issue 5.
Pages 627-630 (01 September 2020)
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Vol. 95. Issue 5.
Pages 627-630 (01 September 2020)
Dermatopatologia
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Análise imuno‐histoquímica das células de Langerhans epidérmicas positivas para S100 no dermatofibroma
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Mahmoud Rezk Abdelwhaed Hussein
Departamento de Patologia, Assuit University Hospital, Assuit, Egito
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Resumo

O dermatofibroma é neoplasia fibro‐histiocítica dérmica. As células de Langerhans são as células imunocompetentes da epiderme e representam a primeira barreira de defesa do sistema imunológico em relação ao meio ambiente. Este estudo teve como objetivo comparar imuno‐histologicamente a densidade das células de Langerhans positivas para S100 na epiderme peritumoral saudável com as células da epiderme sobrejacente a dermatofibromas (20 casos), usaram‐se anticorpos contra a molécula S100 (um marcador imunofenotípico das células de Langerhans). O grupo controle (pele normal e saudável) incluiu 10 indivíduos saudáveis, pareados por sexo e idade, que foram submetidos a biópsias de lesões cutâneas benignas. Observou‐se densidade significativamente alta das células de Langerhans na epiderme da pele saudável (6,00 ± 0,29) e na epiderme peritumoral (6,44 ± 0,41) quando comparadas àquelas na epiderme que recobria o tumor (1,44 ± 0,33; p < 0,05). O déficit quantitativo das células de Langerhans na epiderme sobrejacente ao dermatofibroma pode ser um fator possível em seu desenvolvimento.

Palavras‐chave:
Histiocitoma fibroso benigno
Neoplasias cutâneas
Proteínas S100
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As células de Langerhans (CL) são as células apresentadoras de antígeno exclusivas da epiderme humana normal. Elas se originam de duas fontes: do saco vitelino extraembrionário e de precursores (monócitos) no fígado fetal. As CL representam cerca de 3% da população celular na epiderme e são vistas em cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina como “células claras” nas camadas suprabasais. A expressão de CD1a, langerina e S100 são os marcadores imunofenotípicos que distinguem as CL de outras células dendríticas.1

As CL desempenham papel relevante na vigilância imunológica e, após a ativação, migram da epiderme para os linfonodos. As CL podem capturar antígenos, ativar células T indiferenciadas (naive) e desencadear uma resposta imune específica de células T com sua expansão e diferenciação clonal em células T efetoras e de memória.2 Alterações na distribuição das CL ocorrem na epiderme peritumoral e na epiderme que cobre os tumores dérmicos.3 Dermatofibroma é um tumor dermatológico comum que geralmente afeta os membros inferiores de mulheres. Alguns autores consideram o dermatofibroma um processo reativo, mas outros o consideram tumor benigno de fibroblastos, miofibroblastos ou mesmo dendrócitos dérmicos.4 O presente estudo compara a densidade de CL positivas para S100 na epiderme peritumoral e na epiderme que recobre as células neoplásicas no dermatofibroma.

Este estudo retrospectivo incluiu amostras de pele fixadas em formalina e emblocadas em parafina de 20 casos de dermatofibroma. A idade média dos pacientes foi de 49,40 ± 3,34 anos. As amostras foram coletadas de pacientes sem histórico de alterações imunológicas. O grupo controle (pele normal e saudável) incluiu 10 indivíduos saudáveis, pareados por sexo e idade, submetidos a biópsias de pele por lesões benignas, bem como a pele peritumoral saudável (pele saudável adjacente aos tumores). Os tecidos fixados em formalina e emblocados em parafina foram submetidos a análise imuno‐histológica para CL com anticorpos contra o antígeno S100, usou‐se o método da peroxidase/diaminobenzidina, similarmente a estudo anterior.5 Os controles externos incluíram melanoma (para S100). Os controles negativos incluíram cortes histológicos que não foram incubados com os anticorpos primários (substituídos por PBS).5 Os controles positivos e negativos produziram resultados positivos e negativos, respectivamente, indicaram a validade dos resultados.

As células imunorreativas com S100 foram contadas com microscópio óptico Olympus, como relatado por outros grupos.6 As imagens foram feitas com câmera digital DFC450. A epiderme foi examinada sob pequeno aumento e os hot spots foram identificados. As CL positivas para S100 em cada 1.000 células epidérmicas foram contadas com aumento de ×400. As CL imunorreativas com imunocoloração marrom ou vermelha e um núcleo visível foram consideradas positivas, bem como os dendritos. Os resultados foram relatados como média e erro padrão das médias. Foi usado o teste t de Student, com p < 0,05 considerado estatisticamente significativo.

CL positivas para S100 foram observadas na camada espinhosa (corpos celulares), seus dendritos se estendiam para as camadas suprabasal e para a córnea, tanto na epiderme saudável (grupo controle), na epiderme peritumoral quanto na epiderme que recobre o tumor (dermatofibroma). Não foram observadas CL nas camadas granulosa e córnea (fig. 1). As densidades das CL positivas para S100 foram 6,00 ± 0,29 na epiderme da pele saudável e 6,44 ± 0,41 na epiderme peritumoral. Nos dermatofibromas, as densidades de CL positivas para S100 variaram entre a epiderme peritumoral e a epiderme que recobre o tumor. A densidade média dessas células na epiderme acima do dermatofibroma foi de 1,44 ± 0,33. A diferença de densidade de CL positivas para S100 entre a pele saudável (pele normal/grupo controle e epiderme peritumoral) e epiderme tumoral foi estatisticamente significante (p < 0,000; fig. 1).

Figura 1.

Paciente do sexo masculino, 35 anos, com lesão ceratótica na coxa esquerda. A observação clínica incluiu dermatofibroma e acantoma no diagnóstico diferencial. (A‐D), histologicamente, observa‐se epiderme hiperparaceratótica sobrejacente a uma proliferação dérmica mal delimitada, composta por células fusiformes intersticiais mitoticamente inativas. Algumas áreas do tumor (porção superior) eram densamente celulares, enquanto outras (porções média e inferior) eram escleróticas e hipocelulares. A epiderme sobrejacente se apresenta atenuada sobre o tumor quando comparada à epiderme peritumoral hiperplásica. Dentro do tumor, observa‐se aprisionamento de colágeno, vasos de paredes finas e hemorragia. (E‐H), epiderme peritumoral que mostra várias células de Langerhans positivas para S100 localizadas principalmente na camada espinhosa. As células de Langerhans estão quase ausentes na epiderme que cobre o tumor. Ampliações: A e E, 20×; B e F, 40×; C e G, 100 ×; D e H, 400×.

(0.73MB).

Subsequentemente, as CL foram examinadas e pontuadas na área peritumoral saudável adjacente da epiderme e na área epidérmica que recobre as células neoplásicas fibro‐histiocíticas do dermatofibroma. No presente estudo, o número de CL que expressaram a molécula S100 foi menor na epiderme que recobre o dermatofibroma do que nas amostras de pele peritumoral saudável. Essas variações confirmam o déficit quantitativo das CL como um possível fator no desenvolvimento do dermatofibroma e são similares aos resultados de estudos anteriores em outros tumores de pele.6 Shevchuk et al. examinaram os valores de expressão de CL por meio de anticorpos contra CD1a e langerina (marcadores fenotípicos para LCs) com imuno‐histoquímicos em pele saudável, ceratose actínica, carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. Em comparação com a pele normal, a densidade de CL foi menor no carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular.6

O aumento da densidade de CL na epiderme peritumoral do dermatofibroma sugere forte resposta imunológica dessa área para impedir o crescimento do tumor, resulta em uma forma mais localizada e restrita da proliferação fibro‐histiocítica dérmica. Essa suprarregulação das CL pode ser devida a alterações nos fatores de crescimento e citocinas,7 apoptose e nos efeitos citotóxicos diretos das células tumorais. Várias proteínas estão associadas ao desenvolvimento, à diferenciação e manutenção de CL, entre as quais o fator de crescimento transformador beta (TGFβ), IL‐34, BMP‐7, integrina (ITG) avb6 e ITGavb8.7,8 Esse autor propõe que o aumento da densidade de CL na epiderme peritumoral do dermatofibroma se deve à suprarregulação dessas moléculas. As ativinas A (membros da família TGFβ) podem induzir a diferenciação de monócitos humanos em CL e, portanto, são importantes para preencher a epiderme com CL.9 Prurido (trauma mecânico) e alterações inflamatórias sobrepostas são eventos comuns associados ao dermatofibroma (dermatofibroma irritado ou inflamado). É possível que o trauma mecânico e a resposta inflamatória associada sejam os mecanismos subjacentes à perda de CL na epiderme que cobre o tumor. Como respaldo a essa hipótese, as CL deixam a epiderme em resposta a estímulos inflamatórios ou a remoção delicada com fita adesiva (tape stripping).10 Também é possível que as células neoplásicas do dermatofibroma exerçam efeitos citotóxicos diretos nas CL; a perda dessas células pode ser reflexo desses efeitos.

O presente estudo observou redução no número de CL epidérmicas positivas para S100 sobre as áreas do tumor em comparação com o observado na epiderme peritumoral. É importante avaliar as alterações das moléculas que contribuem para o déficit quantitativo de CL na epiderme que cobre o dermatofibroma, como TGFβ, IL‐34, BMP‐7, ITGavb6 e ITGavb8.7,8

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição do autor

Mahmoud Rezk Abdelwhaed Hussein: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

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Como citar este artigo: Hussein MRA. Immunohistochemical analysis of S100‐positive epidermal Langerhans cells in dermatofibroma. An Bras Dermatol. 2020;95:627–30.

Trabalho realizado no Departamento de Patologia, Assuit University Hospital, Assuit University, Assuit, Egito.

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